Por Danielle Fonseca e Flavya Pereira
São Paulo – O Ibovespa fechou em queda pelo segundo pregão seguido, com perdas de 0,72%, aos 103.875,66 pontos, refletindo o atraso na votação da reforma da Previdência e a piora das bolsas norte-americanas, que passaram a cair com mais força com o possível pedido de impeachment do presidente Donald Trump. O volume total negociado foi de R$ 15,1 bilhões.
Após acordo de lideranças, a votação na Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) das emendas de plenário à reforma foi adiada para
a próxima terça-feira (1) pela manhã, enquanto a votação no plenário do Senado
ficou para a tarde de quarta-feira (2), e não mais para amanhã, como previsto anteriormente.
A notícia, divulgada, mais cedo já havia feito o Ibovespa virar para queda,
depois de abrir em leve alta.
“A notícia [de adiamento da reforma] é ruim, a
reforma vai atrasando cada vez mais em um momento em que o governo começa a ser
criticado por falta de agenda e resultados”, disse o sócio da Criteria
Investimentos, Vitor Miziara.
Já nos Estados Unidos, as bolsas norte-americanas
passaram a cair em meio a suspeitas de que o presidente dos Estados Unidos
tenha retido os pagamentos de ajuda à Ucrânia com a intenção de pressionar o
presidente do país a investigar seu concorrente democrata Joe Biden. Agora, as
pressões recaem sobre a presidente da Câmara dos Representantes dos Estados
Unidos, Nancy Pelosi, para que um processo de impeachment seja aberto. Às 18h
(de Brasília), Pelosi fará um discurso no qual seus aliados esperam que ela dê
sua posição sobre a questão.
Investidores também acompanharam o discurso de Trump na
ONU mais cedo, no qual criticou a China, a acusando de manipular sua moeda.
Entre as maiores quedas do Ibovespa ficaram as ações do
Banco do Brasil (BBAS3 -2,90%), que informou que assinou um contrato para criar
uma joint venture em um banco de investimentos com o banco suíço UBS, apesar de
a notícia ter sido vista como positiva, já havia rumores de uma parceria e o banco
ainda não deu mais detalhes como ela será. Já maior baixa foi da CSN (CSNA3
-6,01%), com os papéis de siderúrgicas sentindo a queda dos preços do minério
de ferro e dados mais fracos de vendas de aço no Brasil.
Na contramão, as maiores altas foram dos papéis de
frigoríficos, JBS (JBSS3 7,10%) e BRF (BRFS3 2,81%), e da B2W (BTWO3 4,36%). Os
analistas da XP Investimentos destacam, em relatório, que segundo dados da
Administração Geral das Alfândegas da China divulgados ontem, as importações
chinesas de carne suína aumentaram 76% na base anual em agosto, impactadas pela
gripe suína que se alastrou no país, o que refletiu nos papéis do setor de proteínas.
Na agenda de amanhã há pouco indicadores, com destaque
para os dados de vendas de imóveis novos nos Estados Unidos. Para o gerente da
mesa de operações da H.Commcor, Ari Santos, a tendência de alta para o Ibovespa
continua, mas tem faltado ímpeto e volume para novos dias de ganhos. “A
Bolsa não pegou uma força maior para dar um salto até o final do ano, a
tendência é de alta em função da queda de juros, mas o volume caiu
bastante”, disse.
O dólar comercial fechou com ligeira queda de 0,04% no
mercado à vista, cotado a R$ 4,1700 para venda, depois de oscilar em boa parte
do pregão próximo à estabilidade e operar sem rumo definido na parte dos
negócios refletindo as incertezas do mercado doméstico após o adiamento da
votação da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
no Senado para a semana que vem.
“Foi motivo para a mudança de humor dos investidores
que venderam bolsa e se refugiaram na moeda estrangeira”, comenta o
diretor do Correparti, Ricardo Gomes. “A presidente da CCJ [no senado],
Simone Tebet, admitiu erro de estratégia na condução dos trabalhos e chegou a
sinalizar que a votação em plenário poderia ser adiada”, reforça.
Já a economista da Capital Markets, Camila Abdelmalack,
acrescenta que a mudança de data de amanhã para a próxima semana (1 de
outubro), pode envolver “algum jogo político, refletindo em mais
incertezas no mercado”, avalia.
Amanhã, com a agenda de indicadores mais fraca, a
economista reforça que investidores deverão ficar atento, mais uma vez, ao
exterior e às declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre
a guerra comercial com a China ou sobre a Ucrânia. Ainda está no radar do
mercado, a possibilidade de a Câmara norte-americana “lançar” o
pedido de impeachment de Trump.