Por Danielle Fonseca, Flavya Pereira e Olívia Bulla
São Paulo – Após abrir em leve alta acompanhando os principais mercados acionários no exterior, o Ibovespa passou a cair refletindo notícia de que a votação da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e no plenário do Senado foi adiada para a semana que vem. Investidores também analisam o discurso do presidente Jair Bolsonaro na Organização das Nações Unidas (ONU), que acabou de ser encerrado.
Por volta das 13h30 (horário de Brasília), o Ibovespa
registrava queda de 0,53% aos 104.073,47 pontos. O volume financeiro do mercado
era de aproximadamente R$ 5,9 bilhões. No mercado futuro, o contrato de Ibovespa
com vencimento em outubro de 2019 apresentava recuo de 0,61% aos 104.355
pontos.
“A notícia [de adiamento da reforma] é ruim, a
reforma vai atrasando cada vez mais em um momento em que o governo começa a ser
criticado por falta de agenda e resultados”, disse o sócio da Criteria
Investimentos, Vitor Miziara. Após acordo de lideranças, a votação na CCJ das
emendas de plenário à reforma foi adiada para a próxima terça-feira (1) pela
manhã, enquanto a votação em plenário ficou para a tarde de quarta-feira (2).
Investidores também digerem a fala de Bolsonaro na ONU e
devem acompanhar as repercussões do discurso. Na avaliação de Miziara, o
discurso pode ter pouco impacto, no entanto, um operador afirmou que ele pode
ter contribuído para a piora do índice há pouco, já que “se esperava um
tom mais conciliador e está sendo o oposto”. Em discurso enfático,
Bolsonaro defendeu suas posições e disse que o Brasil possui compromisso com a
preservação do meio ambiente, criticando o chamou de interferência
desrespeitosas de outros países nesta área.
Entre as ações, as de bancos, que subiam perto da
abertura passaram a cair, com destaque para as ações do Banco do Brasil. Ontem
à noite, o banco informou que assinou um contrato para criar uma joint venture
em um banco de investimentos com o banco suíço UBS, sem dar muitos detalhes por
enquanto. As ações da Vale e de siderúrgicas também pesam hoje, com a CSN mostrando
a maior queda do Ibovespa no momento.
Na contramão, as maiores altas são dos papéis de
frigoríficos, JBS, BRF e da Marfrig. Os analistas da XP Investimentos destacam,
em relatório, que segundo dados da Administração Geral das Alfândegas da China
divulgados ontem, as importações chinesas de carne suína aumentaram 76% na base
anual em agosto, impactadas pela gripe suína que se alastrou no país.
Após renovar máximas frente ao real, o dólar oscila
digerindo a notícia de que a sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
do Senado em que votaria as emendas da reforma da Previdência foi adiada para a
semana que vem, na terça-feira, dia 1. A votação estava marcada para amanhã.
Por volta das 13h30, o dólar comercial registrava ligeira
alta de 0,07%, sendo negociado a R$ 4,1750 para venda. No mercado futuro, o
contrato da moeda norte-americana com vencimento em outubro de 2019 apresentava
avanço de 0,27%, cotado a R$ 4,176.
“É mais um adiamento da votação da reforma da
Previdência. Ou seja, as incertezas só crescem quanto a sua aprovação. Apesar
de acreditar que ela seja votada no Senado ainda neste ano”, comenta o
analista da Toro Investimentos, Thiago Tavares.
A informação do adiamento foi confirmada pelo presidente
do Senado, David Alcolumbre. O diretor da corretora Mirae Asset,
Pablo Spyer, reforça que o impacto de novos atrasos nos trâmites da reforma no
mercado. “O mercado está atento à velocidade da reforma da Previdência. A
cada atraso, acompanharemos um estresse nos ativos”, acrescenta.
Lá fora, o ambiente segue mais positivo após o secretário
do Tesouro dos Estados Unidos, Steven Mnuchin, afirmar que retomará as
conversas sobre a guerra comercial com a China em duas semanas, o que anima o
mercado à espera de avanços nas tratativas comerciais.
As taxas dos contratos futuros de juros (DIs)
acompanharam a mudança de sinal do dólar, para o positivo, e firmaram uma
trajetória em alta, após iniciarem o dia com oscilações estreitas. Profissionais
das mesas de operação afirmam que a piora do mercado doméstico ocorreu após
notícias negativas vindas de Brasília sobre a reforma da Previdência.
Às 13h30, o DI para janeiro de 2020 tinha taxa de 5,105%,
repetindo o ajuste de ontem; o DI para janeiro de 2021 projetava taxa de 5,04%,
de 5,01%; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 6,17%, de 6,13% após o
ajuste anterior; e o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 6,79%, de 6,74%, na
mesma comparação.