Por Danielle Fonseca, Flavya Pereira e Eduardo Puccioni
São Paulo – O Ibovespa sobe impulsionado principalmente por ações de varejo e construção depois que o Comitê de Política Monetária (Copom) cortou a Selic em 0,50 ponto percentual (pp) ontem e sinalizou para mais cortes, animando investidores e deixando o índice próximo do recorde histórico de 106.650,12 pontos. A decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), que reduziu sua taxa de juros em 0,25 pp, também dá suporte para a alta, embora o Fed não tenha sido tão claro quanto o Copom na indicação da continuidade do ciclo de queda da taxa.
Por volta das 13h30 (horário de Brasília), o Ibovespa
registrava alta de 0,84% aos 105.416,20 pontos. O volume financeiro do mercado
era de aproximadamente R$ 7,9 bilhões. No mercado futuro, o contrato de
Ibovespa com vencimento em outubro de 2019 apresentava avanço de 0,70% aos
105.690 pontos.
“O mercado viu a sinalização do Copom como bem
positiva, houve uma mudança de postura do Banco Central, que no começo não
estava tão dovish, e agora foi mais agressivo nos cortes da Selic. Outro fator
que elimina a cautela é o corte de juros pelo Fed, embora o mercado tenha
ficado meio confuso ontem com a fala de Powell [Jerome, presidente do
Fed]”, disse o analista de investimentos do banco Daycoval, Enrico
Cozzolino.
Entre as ações, embora o analista acredite que o mercado
todo se beneficie da queda da Selic, destaca que os setores de varejo e
construção civil são os primeiros a sentir os juros mais baixos, lembrando
ainda que houve a liberação de saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
(FGTS). O setor industrial também pode começar a sentir uma melhora, depois de
ter sido penalizado com as dificuldades da economia.
Entre as maiores altas do Ibovespa no momento estão as ações
da B2W, da Cyrela, da Via Varejo, da Multiplan e da Iguatemi. Os papéis da Petrobras
também sobem refletindo a elevação do preço do diesel e da gasolina com os
investidores vendo o repasse, depois da forte alta dos preços do petróleo, como
um bom sinal para a política de preços da estatal. Na contramão, as maiores
quedas do Ibovespa são da Cielo, que devolve parte da alta de ontem, da Suzano
e da Usiminas, que reflete a queda dos preços do minério de ferro.
O dólar comercial sustenta alta frente ao real, oscilando
entre R$ 4,13 e R$ 4,14, com investidores se reposicionando no mercado local
após os afrouxamentos monetários pelos bancos centrais brasileiro e dos Estados
Unidos, além da sinalização de que o Banco Central (BC) reduzirá as taxas com
as apostas para a taxa básica de juros (Selic) abaixo de 5,0% ao fim do ano.
Por volta das 13h30, o dólar comercial registrava alta de
0,90%, sendo negociado a R$ 4,1420 para venda. No mercado futuro, o contrato da
moeda norte-americana apresentava avanço de 0,70%, cotado a R$ 4,143.
“Há uma demanda por moeda no pronto [mercado à
vista] e pode ser migração de recursos estrangeiros para outras economias, como
o México, após a nossa taxa de juros cair e sinais de que deverá cair mais. É
fuga de recursos”, comenta o diretor da Correparti, Ricardo Gomes.
Em dia de reação aos comunicados de bancos centrais, o
tom mais cauteloso na condução da política monetária foi do Fed comenta o
economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito.
“Isso faz fazer o real perder mais contra o dólar
uma vez que teremos ao fim do ano uma Selic de 4,5% com uma moeda que tem
volatilidade de 15%. Isso deve levar a nossa moeda para baixo e assim,
projetamos dólar a R$ 4,15 no fim do ano”, reforça o economista.
Perfeito acrescenta que a tendência é a moeda estrangeira
ter mais ímpetos de alta frente ao real na reta final do ano, mas deverá ser
contido por atuações do BC no mercado cambial. “A questão se foca fundamentalmente
na aversão global ao risco e o BC poderá, no máximo, mitigar parte da
volatilidade”, alerta.
As taxas dos contratos futuros de Depósito
Interfinanceiro (DI) registram forte queda na sessão de hoje após o Copom, em
seu comunicado divulgado ontem, ter deixado em aberto mais um corte de 0,50 pp
para a Selic ainda este ano.
Às 13h30, o DI para janeiro de 2020 tinha taxa de 5,10%,
de 5,185% no ajuste de ontem; o DI para janeiro de 2021 estava em 4,99%, de
5,22%; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 6,11%, de 6,27%; e o DI para
janeiro de 2025 tinha taxa de 6,74%, de 6,83%, na mesma comparação.