Por Danielle Fonseca e Flavya Pereira
São Paulo – Após dois pregões seguidos de queda, o Ibovespa fechou em alta de 1,52%, aos 101.200,89 pontos, diante de redução de tensões políticas na China e na Europa, além de dados mais fortes da economia chinesa. O dia também foi positivo no front político doméstico, com expectativas de que a reforma da Previdência possa andar rápido no Senado. O volume total negociado foi de R$ 15,8 bilhões.
O dia já começou bem com fortes altas das bolsas asiáticas, com destaque para a Bolsa de Hong Kong, que avançou 3,90% depois que a chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, retirou formalmente o controverso projeto de lei de extradição, atendendo pela primeira vez a uma demanda dos manifestantes, que ocupavam as ruas da cidade desde o início de junho. Também chamaram a atenção os dados do índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) sobre a atividade do setor de serviços da China, que subiu para 52,1 pontos em agosto, de 51,6 pontos em julho.
“Os números da China também ajudaram, com o receio de desaceleração qualquer número que surpreenda um pouco para cima já é um motivo”, disse o diretor de investimentos da SRM Asset, Vicente Matheus Zuffo.
Além disso, nesta tarde, o Reino Unido aprovou uma lei para evitar um Brexit sem acordo, que prevê que o prazo para a saída da União Europeia seja prorrogado até janeiro de 2020. A lei afasta o medo de um Brexit sem acordo.
“O Brexit pode andar e há uma redução de tensões globais. Para o Brasil, a alta forte de commodities também ajuda”, disse o presidente da DNAInvest e conselheiro da Associação Brasileira dos Agentes Autônomos de Investimentos (ABAAI), Alfredo Sequeira.
Na cena local, as notícias também são positivas já que o andamento da Previdência no Senado pode ser rápido e não tem trazido surpresas negativas. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou há pouco, por 18 votos a 7 o relatório da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 6/19, do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).
Entre as ações, as da Petrobras (PETR3 2,41%, PETR4 2,57%) ficaram entre as maiores altas do Ibovespa refletindo os fortes ganhos dos preços do petróleo, que avançam mais de 4%. Ontem, também foram divulgados dados da produção de petróleo da companhia e foi aprovada, no plenário do Senado, a PEC da cessão onerosa (PEC 98/2019). O texto agora volta para a Câmara dos Deputados. Ao lado dos papéis da Petrobras, ficaram os da Braskem (BRKM5 5,06%), que subiram mostrando uma correção, do Magazine Luiza (MGLU3 3,68%) e da Ultrapar (UGPA3 3,59%).
Na contramão, as maiores baixas foram da MRV (MRVE3 -6,44%), com dúvidas sobre a possível compra do controle da AHS Residential, sediada nos Estados Unidos. Também recuaram as ações da NotreDame Intermédica (GNDI3 -2,44%) e da Cyrela (CYRE3 -5,10%).
Para o presidente da DNAInvest, o Ibovespa pode continuar mantendo o tom mais positivo no curto prazo. O diretor da SRM Asset também vê um “refresco de curto prazo”, embora destaque que alguns problemas continuam, como a guerra comercial e receio de desaceleração da economia global. Na agenda de amanhã, investidores devem ficar atentos principalmente a indicadores norte-americanos, como dados de criação de emprego no setor privado e pedidos de seguro-desemprego.
O dólar comercial fechou em forte queda de 1,79% no mercado à vista, cotado a R$ 4,1060 para venda, depois de romper uma sequência de nove pregões acima deste nível ao longo pregão. É o menor valor desde 22 de agosto, quando encerrou em R$ 4,0790. O bom humor generalizado prevaleceu em todo o pregão e contagiou os mercados de países emergentes em meio às notícias da China e no exterior, somado aos avanços da reforma da Previdência no Senado.
“Um conjunto de fatores contribuiu para a ‘tempestade’ perfeita a favor das moedas emergentes e ligadas as commodities”, comenta o operador de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek. Entre os fatores estão os dados mais positivos do índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês), a 52,1 pontos em agosto, ante os 51,6 pontos registrados em julho.
Ainda na China, a chefe do executivo de Hong Kong, Carrie Lam, retirou formalmente o controverso projeto de lei de extradição, atendendo pela primeira vez a uma demanda dos manifestantes, que ocupam as ruas da cidade desde o início de junho. Esquelbek destaca ainda as notícias do Reino Unido que corroboraram para o cenário de apetite ao risco.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, foi derrotado ontem com o parlamento anunciando que evitará uma “saída a qualquer custo” do Reino Unido da União Europeia, o Brexit. Enquanto no mercado doméstico, a reforma da Previdência voltou a ser discutida e o relatório foi votado no fim da tarde na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, o que corroborou para o bom humor local.
Ao longo do pregão, a moeda norte-americana chegou à mínima de R$ 4,0960 (-2,03%), rompendo nove sessões seguidas acima de R$ 4,10. “O dólar perdeu R$ 0,10 em três dias, saindo [perto] de R$ 4,19 e indo para R$ 4,10 hoje”, observa um operador sênior de derivativos de uma corretora nacional.
Segundo ele, se o movimento de queda da moeda norte-americana continuar, podem ser disparadas ordens de stop loss (perda máxima aceitável), o que tende a acelerar a desvalorização do dólar. “Se vier abaixo de R$ 4,10 fica abaixo da média de 15 dias e aí tem stop com certeza”, diz.
Amanhã, a agenda de indicadores dos Estados Unidos poderá ditar os rumos do mercado, principalmente, com os dados de trabalho no setor privado, a ADP, uma prévia do payroll. “É um dado bem importante e a depender do resultado, deverá influenciar no preço caso mostre um fortalecimento da economia norte-americana, com o dólar podendo voltar facilmente aos R$ 4,18”, comenta o gerente de tesouraria do Travelex Bank, Felipe Pellegrini. Ele acrescenta que após a forte queda hoje, não será surpresa um viés de “correção”.