Por Danielle Fonseca e Flavya Pereira
São Paulo – O Ibovespa iniciou o mês de setembro em queda e interrompendo uma sequência de quatro altas ao cair 0,50%, aos 100.625,74 pontos, em um dia marcado por variações modestas e falta de ímpeto em função do feriado nos Estados Unidos. A ausência do referencial do mercado norte-americano também reduziu o volume negociado, que foi de R$ 10,6 bilhões hoje.
Segundo o analista da Necton Corretora, Glauco Legat, o Ibovespa
ficou “sem uma tendência muito clara sem a referência dos Estados
Unidos” em boa parte do dia, que também não contou com notícias de peso.
Um dos destaques foi preço do minério de ferro, com o
contrato futuro mais negociado da commodity na bolsa chinesa de Dalian subindo
4% depois que o índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) sobre
a atividade industrial da China subiu para 50,4 pontos em agosto, após
registrar 49,9 pontos em julho. O dado chinês chamou atenção ao subir mesmo com
a guerra comercial com os Estados Unidos, que passou a cobrar tarifas sobre
produtos chineses, conforme já anunciado.
A alta do minério refletiu nas ações da Vale (VALE3
0,96%), sendo que a agência de classificação de risco Moody’s também elevou a
perspectiva da Vale de negativa para estável agora há pouco, mantendo o rating
em em ‘Ba1’.
Os ganhos da mineradora, porém, não foram suficientes
para manter o Ibovespa em alta, que acabou acelerando levemente as perdas no
fim do dia puxado por um aprofundamento das quedas de ações de bancos, como do
Itaú (ITUB4 -1,23%) e do Bradesco (BBDC3 -2,24%; BBDC4 -1,03%). As ordinárias
do Bradesco ainda ficaram entre as maiores altas do Ibovespa, ao lado do IRB
Brasil (IRBR3 -3,50%) e da Cielo (CIEL3 -2,06%).
Na contramão, as maiores altas do índice foram das ações
da Rumo (RAIL3 2,99%), da Qualicorp (QUAL3 3,18%) e da Equatorial (EQTL3
2,54%). Segundo o analista da Mirae Asset Corretora, Pedro Galdi, alguns papéis
tiveram variações maiores mostrando ajustes técnicos.
Apesar da queda de hoje, analistas seguem otimistas para
o Ibovespa no curto prazo, porém, o cenário externo deve ser acompanhado de
perto, principalmente, a guerra comercial, com expectativas de que China e
Estados Unidos se reúnam este mês. Galdi também destaca uma série de
indicadores. “Vamos ter indicadores de atividade na China, tem bastante
coisa saindo nos Estados Unidos também”, afirmou.
Na agenda, os destaques de amanhã é o índice dos gerentes
de compras (PMI, na sigla em inglês) sobre a atividade do setor de serviços da
China, e o PMI industrial dos Estados Unidos.
O dólar comercial fechou em alta de 0,98% no mercado à
vista, cotado a R$ 4,1840 para venda, renovando a maior cotação do ano e também
o patamar de segundo maior nível de fechamento da história, depois de acelerar
os ganhos na reta final do pregão impulsionado pelo exterior em sessão de
liquidez reduzida em decorrência do feriado do dia do trabalho nos Estados
Unidos.
“Como pano de fundo estão as intermináveis
incertezas quanto ao futuro das relações comerciais entre os Estados Unidos e
China, além das consequências, especialmente para os [mercados] emergentes. O
dólar se manteve em alta mesmo com o feriado norte-americano”, comenta o
diretor da Correparti, Ricardo Gomes.
Com a aceleração da moeda na reta final dos negócios, o
diretor da corretora Mirae Asset, Pablo Spyer, destaca que a
“guinada” perto dos R$ 4,19 – a moeda chegou à máxima de R$ 4,1890
(+1,11%) – foi “no vazio” pela falta dos Estados Unidos no mercado, o
que pode levar o Banco Central (BC) a anunciar novos leilões, reforça.
Para Gomes, o cenário é “especialmente”
preocupante, já que não já motivos para a trégua no avanço da moeda, nem aqui e
nem no exterior. “O dólar não vai romper essa alta com as operações do BC.
E a semana está pesada [de indicadores] e investidores correm para a
proteção”, diz.
Na agenda de indicadores, amanhã tem dados da atividade
industrial do Brasil e dos Estados Unidos e a volta do mercado norte-americano.
“Amanhã eles voltam após aplicar tarifas nos produtos chineses. Vamos ver
como abrirá o mercado lá”, pondera Spyer.
O diretor da Correparti acrescenta que a tendência é de
que a moeda se mantenha em alta no mercado local. “Apenas uma declaração
firme de propósitos [entre norte-americanos e chineses] faria o dólar recuar.
Enquanto a guerra comercial não se resolve, as moedas de países emergentes vão continuar
apanhando”, reforça.