São Paulo, 3 de fevereiro de 2021 – O mercado financeiro comemorou a chegada de aliados do presidente Jair Bolsonaro ao comando das duas Casas do Congresso, vislumbrando o andamento da agenda de reformas e das medidas de ajuste fiscal. Mas o governo brasileiro enfrenta problemas de curto prazo que desafiam as propostas de longo prazo da equipe econômica para colocar o Brasil de volta aos trilhos do crescimento.
Durante a Live CMA Mercados, transmitida pelo Instagram, o economista-chefe da Necton Corretora, André Perfeito, afirmou que o país enfrenta um dilema, no qual a queda de renda da população e o aumento do desemprego geram problemas de demanda que precisam ser encaminhados e que estão relacionados à questão do auxílio emergencial. Porém, tal situação prejudica a estratégia do ministro da Economia, Paulo Guedes, de manter a taxa de juros baixa para atrair investimentos e permitir a economia brasileira crescer.
“Há um problema de coordenação entre o presente e o futuro. O dilema na mesa é esse e não é simples”, afirma. Segundo o economista, o momento atual do país é o “meio do caminho” entre o presente e o futuro. “O Paulo Guedes quer que o futuro venha até o presente através dos juros [baixos], ele representa o futuro para o presente, mas tem gente dizendo que se não organizar o presente não se vai para esse futuro”, explica.
Perfeito avalia que a solução desse dilema é uma questão política. “Tem que saber o que priorizar”, afirma. E aí vai depender da articulação política do governo no Congresso e do papel do presidente Bolsonaro. “Ele tem de dizer o que quer politicamente. Ele tem de tomar as decisões difíceis”, afirma.
O economista lembra que o governo “pagou caro” para conseguir eleger seus candidatos na Câmara e no Senado, referindo-se às emendas parlamentares e a nomeação de indicados em cargos dentro do Executivo. “O governo está igual criança no dia seguinte do Natal, que ganhou um presente caro e quer usar, mas ‘falta combinar com os russos'”, ilustra, em alusão à famosa frase dita por Garrincha no Mundial de Futebol de 1958.
Segundo Perfeito, Guedes e a equipe econômica tem sido bastante “cirúrgica” na elaboração da agenda prioritária. “Ele age no silêncio da microeconomia e não no alarde da macroeconomia”, diz, referindo-se aos projetos em torno do saneamento básico e cabotagem, entre outros. Para o economista, tais questões devem ser encaminhadas, “sem segredo”.
Do outro lado da “lista de desejos” é que se configura o dilema: as reformas (tributária e administrativa) e a PEC emergencial, que viabiliza a discussão sobre a extensão do benefício emergencial. De qualquer forma, Perfeito avalia que o tema urgente é a questão do Orçamento deste ano. “É algo que precisa ser encaminhado logo para dar uma continuidade normal [à pauta de votações]”, conclui.