São Paulo – A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, defendeu que a política monetária seja acompanhada pela política fiscal no combate dos efeitos da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus. Neste sentido, reforçou o compromisso da autoridade monetária no apoio da economia da eurozona e incentivou políticas que protejam famílias e trabalhadores europeus.
“A política fiscal – tanto a nível nacional como a nível europeu – continua a ser crucial para apoiar a recuperação na eurozona e enfrentar o impacto da pandemia. Pode canalizar apoio econômico para onde é mais necessário. Ao proteger trabalhadores e famílias e fornecer linhas às empresas viáveis que foram duramente atingidas pela pandemia, o apoio fiscal é particularmente poderoso para impulsionar a demanda agregada”, afirmou ela.
“No entanto, precisamos permanecer vigilantes – embora o apoio fiscal seja crucial neste estágio, ele deve ser direcionado e focado nas medidas que são mais propícias ao crescimento econômico. Neste contexto, o inovador pacote da UE da próxima geração deve ser implementado de forma a que a UE e todos os seus membros saiam da crise com estruturas econômicas mais fortes e um elevado grau de coesão”, acrescentou.
Falando ao Parlamento Europeu, Lagarde lembrou que o BCE manterá até pelo menos março de 2022 suas medidas de apoio à economia durante a crise atual, que incluem o programa de compra de emergência para pandemia (PEPP) no valor de 1,850 trilhão de euros e as operações direcionadas de refinanciamento de longo prazo (TLTROs, na sigla em inglês).
“O PEPP foi adaptado à natureza específica da crise do novo coronavírus e tem um duplo propósito: operar como uma barreira poderosa de mercado para evitar dinâmicas financeiras desestabilizadoras e rupturas na transmissão monetária e também pode funcionar como um instrumento de apoio à orientação da nossa política monetária, atenuando o impacto da pandemia no nosso objetivo de estabilidade de preços”, afirmou.
CRESCIMENTO E INFLAÇÃO
Lagarde vê a atividade econômica ainda muito abaixo dos níveis pré-pandêmicos e elevadas as incertezas ligadas à evolução da crise de saúde. Ela, no entanto, acredita que, quando as medidas de contenção forem suspensas e essa incerteza diminuir, a recuperação da eurozona será apoiada por condições de financiamento favoráveis, políticas fiscais expansionistas e uma recuperação da demanda.
“O início das campanhas de vacinação em toda a eurozona fornece a luz ansiosamente esperada no final do túnel. Ao mesmo tempo, a nova onda de casos covid-19, as mutações no vírus e as medidas de contenção estritas são um risco negativo significativo para a atividade econômica da região”, afirmou.
Nesse cenário, a chefe do BCE destacou que a inflação permanece baixa na eurozona devido, principalmente, à demanda fraca e ociosidade significativa nos mercados de trabalho e produtos. “Embora esperemos que a inflação global acelere ainda mais nos próximos meses, as pressões subjacentes sobre os preços deverão permanecer moderadas devido à fraca procura, baixas pressões salariais e à apreciação da taxa de câmbio do euro”, disse.
Nesse ambiente, Lagarde afirmou que uma postura acomodatícia de política monetária continua essencial para garantir que as condições de financiamento permaneçam favoráveis para colocar a recuperação econômica em uma trajetória autossustentável.
“Nosso compromisso de preservar condições de financiamento favoráveis é crucial no ambiente atual, pois reduz a incerteza sobre os termos em que a economia pode acessar o financiamento externo. Isso aumenta a confiança e encoraja os gastos do consumidor e o investimento empresarial. Uma recuperação mais sólida é uma condição prévia para ancorar a inflação em torno de sua trajetória pré-pandêmica”, afirmou.