PERSPECTIVA: Apertos monetários no Fed e BCE, e os juros estáveis na China e Japão

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Boa parte dos bancos mundiais ao redor do mundo, como o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e o Banco Central Europeu (BCE), vêm subindo suas taxas de juros para conter a inflação que, embora venha apresentando uma queda discreta, ainda é persistente.

Após indicadores recentes da economia dos Estados Unidos pegarem de surpresa os analistas de mercado, o head de renda variável da Veedha Investimentos, Ricardo Moliterno, alerta para o que deve ser monitorado no curso prazo.
“Até a última decisão do Fed os dados os dados de inflação indicavam um arrefecimento dos preços, e o mercado já começava a precificar que o banco central poderia no segundo semestre ceder sua alta de juros”.

No último dia 3 de fevereiro, o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos divulgou que foram abertos mais de 500 mil empregos em janeiro, muito maior que a previsão dos analistas, que era de 200 mil novos postos de trabalho.

“A expectativa [sobre os juros] era de um topo de 4,9% na taxa de juros até a divulgação do payroll surpreendente, então pode ser que a redução nas taxas para o segundo semestre não seja tão ampla”, acrescenta.

O Fed subiu em 0,25 ponto percentual (pp) sua taxa básica de juros, uma queda em relação aos aumentos de 0,50 pp na reunião de política monetária em dezembro. Nas últimas projeções do banco central, os membros do Fomc afirmaram que os juros devem chegar a um pico de 5%.

“Acredito que em março haverá mais um aumento de 0,25 pp, mas a projeção para junho ainda está em suspenso. Com a inflação caindo e um soft landing se tornando possível, há também a China reabrindo e acelerando, enquanto o mercado precifica isso tudo”, projeta Moliterno.

A realidade é diferente na Europa

Já do lado do BCE, na sua primeira reunião de 2023, encerrada na quinta-feira (2), o banco central elevou suas taxas básicas novamente em 0,50 ponto percentual (pp) e sinalizou um outro aumento de 0,50 pp no próximo encontro em março.

“Tendo em vista as pressões inflacionárias subjacentes, o Conselho do BCE pretende aumentar as taxas de juros em mais 0,50 ponto percentual em sua próxima reunião de política monetária”, informou o BCE em comunicado.

Embora a inflação na zona do euro tenha desacelerado em janeiro, para 8,5%, ela permanece bem acima da meta de 2% do banco. “Mas a pressão inflacionária subjacente está lá, viva e chutando, e é por isso que… eu digo que temos mais terreno a cobrir e ainda não terminamos”, completou.

O BCE começou a aumentar as taxas quatro meses depois do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). O economista do Ulster Bank, Simon Barry, disse que uma diferença importante não é apenas que o BCE começou depois do Fed, mas também fez um pouco menos do que o banco central dos Estados Unidos.

“O Fed aumentou as taxas de juros em 4,5 pontos percentuais, o BCE aumentou as taxas apenas em 3, então há uma grande diferença. O Fed está começando a ver a inflação subjacente começando a cair, esse não é o caso na Europa ainda”, observou Barry.

“Acho que é um pouco cedo para o BCE se sentir confortável e satisfeito com onde estamos, e o principal problema é que a inflação está extremamente alta”, disse.

Recuperação na China deve ser mais rápida

A China deve se recuperar mais rápido do que se esperava, mas ainda deve ter um crescimento mais sustentado no segundo semestre do ano, afirma o estrategista sênior do Schroders, Andrew Rymer. Segundo ele, a reabertura após a suspensão da política de Covid-zero deu um impulso nos ganhos.

Em dezembro, o governo anunciou a mudança devido à menor taxa de mortalidade da Ômicron. Desde então, viajantes internacionais não estão mais sujeitos a testes na chegada ou a quarentenas. A fronteira com Hong Kong também foi reaberta sem restrições.

Isso ajudou a trazer de volta o turismo, o comércio e a demanda interna no país, explica Rymer. “O crescimento econômico na China desacelerou para 2,9% em relação ao ano anterior no quarto trimestre, abaixo dos 3,9% no terceiro trimestre, mas acima das expectativas de consenso de 1,8%. Essa divergência de expectativas reflete uma economia doméstica mais resiliente”, diz.

Segundo Rymer, diferente de grande parte do resto do mundo, a inflação não é uma preocupação para a China. “A taxa nominal foi de 1,8% ano a ano em dezembro, abaixo da meta de 3%. A baixa pressão inflacionária deu ao banco central da China espaço para cortar sua taxa básica de juros no ano passado”, afirma.

O estrategista sênior diz que sinais encorajadores na arena diplomática também são positivos para o sentimento de curto prazo, mas as tensões geopolíticas continuam sendo um risco a ser monitorado de perto.

“O setor de exportação também pode permanecer sob pressão à medida que o crescimento global desacelera e a seleção de ações continua complexa em certos setores. A extensão da recuperação no setor imobiliário continua sendo uma fonte de potencial surpresa positiva”, encerra.

Reportagem de Larissa Bernardes, Darlan de Azevedo e Júlio Viana
Edição de Vanessa Zampronho / Agência CMA