Petrobras aumenta preço dos combustíveis em reação à volatilidade internacional

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São Paulo – Após 57 dias sem anunciar reajustes nos preços dos combustíveis, a Petrobras informou que, a partir de amanhã (11/3), o preços de venda da gasolina e diesel para as distribuidoras subirá de R$ 3,25 para R$ 3,86 por litro e de R$ 3,61 para R$ 4,51 por litro,
respectivamente.
No caso da gasolina, considerando a mistura obrigatória de 27% de etanol anidro e 73% de gasolina A para a composição da gasolina comercializada nos postos, a parcela da Petrobras no preço ao consumidor passará de R$ 2,37, em média, para R$ 2,81 a cada litro vendido na bomba. Uma variação de R$ 0,54 por litro.
Para o diesel, considerando a mistura obrigatória de 10% de biodiesel e 90% de diesel A para a composição do diesel comercializado nos postos, a parcela da Petrobras no preço ao consumidor passará de R$ 3,25, em média, para R$ 4,06 a cada litro vendido na bomba. Uma variação de R$ 0,81 por litro.
Para o GLP, o último ajuste de preços vigorou a partir de 09/10/2021, há 152 dias. A partir de amanhã, 11/03, o preço médio de venda do GLP da Petrobras, para as distribuidoras, passará de R$ 3,86 para R$ 4,48 por kg, equivalente a R$ 58,21 por 13kg, refletindo reajuste médio de R$ 0,62 por kg.
“Esse movimento da Petrobras vai no mesmo sentido de outros fornecedores de combustíveis no Brasil que já promoveram ajustes nos seus preços de venda. Apesar da disparada dos preços do petróleo e seus derivados em todo o mundo, nas últimas semanas, como decorrência da guerra entre Rússia e Ucrânia, a Petrobras decidiu não repassar a volatilidade do mercado de imediato, realizando um monitoramento diário dos preços de petróleo”, disse a estatal, em nota.
A empresa disse que após observar preços em patamares consistentemente elevados, considerou necessário “promover ajustes nos seus preços de venda às distribuidoras para que o mercado brasileiro continue sendo suprido, sem riscos de desabastecimento, pelos diferentes atores responsáveis pelo atendimento às diversas regiões brasileiras: distribuidores, importadores e outros produtores, além da Petrobras.”
“Adicionalmente, a redução na oferta global de produto, ocasionada pela restrição de acesso a derivados da Rússia, regularmente exportados para países do ocidente, faz com que seja necessária uma condição de equilíbrio econômico para que os agentes importadores tomem ação imediata, e obtenham sucesso na importação de produtos de forma a complementar o suprimento de combustíveis para o Brasil”, acrescentou.
Segundo a Petrobras, “esses valores refletem parte da elevação dos patamares internacionais de preços de petróleo, impactados pela oferta limitada frente a demanda mundial por energia. Mantemos nosso monitoramento contínuo do mercado nesse momento desafiador e de alta volatilidade.
“Dessa forma, a Petrobras reitera seu compromisso com a prática de preços competitivos e em equilíbrio com o mercado, acompanhando as variações para cima e para baixo, ao mesmo tempo em que evita o repasse imediato para os preços internos, das volatilidades externas e da taxa de câmbio causadas por eventos conjunturais”, finalizou.
AÇÕES SOBEM
A ação da Petrobras sobe após o anúncio de aumento dos preços da gasolina, diesel e GLP, em atendimento à volatilidade atual do petróleo no mercado internacional e à política de paridade de importação da companhia. O anúncio agradou os analistas que viam com preocupação o desconto dos preços praticados pela estatal devido à forte elevação do petróleo no mercado internacional. Às 13h37 (horário de Brasília), os papéis PETR3 e PETR4 avançavam 1,84% e 3,04%, a R$ 35,33 e R$ 35,56.
Após a Petrobras anunciar que a empresa aumentará os preços da gasolina em 19% e os preços do diesel em 25%, a partir de amanhã, o UBS BB divulgou relatório destacando que o anúncio reforça a governança e a independência da estatal em relação a interferências
políticas e o compromisso da empresa com o atendimento à política de paridade de importação.
“Acreditamos que o ajuste (mesmo acima do que havíamos previsto) destaca a sólida governança da empresa e a livre política de preços, apesar de todo o barulho dos últimos anos. Temos sustentado um visão positiva sobre as ações, vendo o risco fortemente enviesado para cima, sem sinais de interferência externa na Petrobras, uma distribuição
sólida de dividendos (4-7% ao trimestre) e valorização descontada. Reiteramos nosso rating de Compra da Petrobras, com preço-alvo de R$ 44,00 para PETR4”, escreveram os analistas do UBS BB.
O J.P. Morgan considerou a notícia positiva para a Petrobras, com os preços da gasolina aumentando, em média, 18,7%, enquanto o diesel aumentará 24,9% o que, de acordo com os cálculos de seus analistas, com base nos dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis, representam descontos à paridade, agora, de 5,3% para gasolina e 5,5% para diesel.
“O anúncio de hoje é positivo, a nosso ver, pois aponta para uma manutenção da precificação atual da política de preços da Petrobras. Como escrevemos há alguns dias, o Governo Federal e o Congresso vêm discutindo medidas potenciais para aliviar a pressão dos preços mais elevados. Assim, acreditamos também que as subidas de hoje indicam que um anúncio do governo é iminente””, comentaram os analistas, em relatório com classificação “overweight” (equivalente à compra) e preço-alvo de R$ 36,64 para a Petrobras.
Os analistas Bruno Amorim e João Frizo, do Goldman Sachs, reiteraram a avaliação de compra da Petrobras, enquanto estimam um rendimento de dividendos de 31% em 2022, citando que, já considerando os reajustes anunciados hoje, atualmente, veem os preços de diesel/gasolina da estatal 6/12% abaixo da paridade de importação, comparando mercados internacionais, enquanto o crack spread vs. Brent está atualmente em 33 USD/bbl para diesel e 11 USD/bbl para gasolina.
Para referência, o desconto médio vs. internacional preços foi de -9/-15% para diesel/gasolina em 2021, enquanto os spreads médios de crack foram USD 12/bbl e USD 9/bbl, respectivamente.
“Em suma, vemos este anúncio como positivo a partir de conversas recentes com investidores entendemos que os ajustes de preços de combustível não eram esperados por todo o mercado à luz do ambiente macro desafiador no Brasil. Considerando os spreads crack negativos observados nas últimas semanas devido aos preços mais altos do Brent (impulsionado principalmente pelo conflito Ucrânia-Rússia), já esperávamos um ajuste de preço do diesel e gasolina. No entanto, dada a magnitude dos ajustes acreditamos que isso poderia levar a mais ruído negativo do governo em torno da política de preços de combustível e paridade internacional e aumento do risco de interferência na empresa. Vemos um risco/recompensa atraente enquanto reconhecemos os riscos de uma mudança na política de preços de combustível e na estratégia de alocação de capital, principalmente após a eleição presidencial deste ano no Brasil”, diz o relatório do Goldman.
IPCA
Para o economista Étore Sanche, da Ativa Investimentos, “em termos diretos, o relevante é a elevação da gasolina, com sua alta de cerca de 19%. Como no preço da bomba o combustível representa cerca de 33%, avaliamos que a bomba terá alta de cerca de 6,2%, um impacto de cerca de 40bps no headline do IPCA”, avalia.
O analista calcula que no caso do GLP, que representa cerca de 50% do Gás de Botijão, com a alta de 16% deve ter um impacto no botijão de 7,8% e impacto no headline do IPCA de 11bps. Já a alta do diesel tem efeitos indiretos intensos e equivalem a uma alta de cerca de 20bps distribuídos ao longo do ano.
“Em suma, os reajustes da Petrobras, desconsiderando os efeitos sobre a paridade energética da gasolina e etanol, são de 71bps de IPCA. Tínhamos na nossa projeção cerca de 20bps. Em outras palavras, subimos nossa projeção para o ano de 5,0% para 5,5%. Por fim, estimamos que a Petrobras ainda tem cerca de 10% de defasagem na gasolina, o que não deve ser corrigido no curto prazo, por tanto não contemplamos em nossas previsões”, finalizou.