Petrobras diz que não repassará preços por movimentos especulativos

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São Paulo – A Petrobras disse que considera o cenário atual é bastante volátil para as cotações do petróleo, mas que não repassará a “volatilidade conjuntural nem movimentos especulativos como os que estão sendo observados recentemente” aos preços dos combustíveis, em resposta a pedido de comentário da Agência CMA sobre a possibilidade de aumento face ao aumento da defasagem da gasolina e do diesel em relação aos preços no exterior.

“A Petrobras segue monitorando continuamente o mercado e os movimentos nas cotações de mercado do petróleo e dos derivados, que atualmente experimenta alta volatilidade, como resultado de pressões em sentidos opostos: o recente posicionamento da Opep reduzindo a oferta e os riscos de recessão global restringindo a demanda”, disse a empresa, em nota.

A companhia reafirmou seu compromisso com a prática de preços em equilíbrio com o mercado, mas “sem repassar a volatilidade conjuntural nem movimentos especulativos como os que estão sendo observados recentemente.”

Sobre as estimativas que circulam nas notícias, a petrolífera disse que “é importante lembrar que não existe uma referência única e percebida da mesma maneira por todos os agentes, sejam eles refinadores ou importadores.Para demonstração, basta observar que duas renomadas agências de informação, Argus e Platts, publicam referências de preços para o Brasil com diferenças significativas entre elas.”

PRESSÃO POR AUMENTO DE PREÇOS

Com o aumento da defasagem do preço dos combustíveis no mercado nacional em relação ao internacional, cresce a pressão para que a Petrobras anuncie reajustes. O preço do óleo diesel e da gasolina vendidos pela Petrobras nas refinarias às distribuidoras estavam 11% e 9% abaixo, respectivamente, das cotações no mercado internacional na manhã desta sexta-feira (7), segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom). Com isso, a estatal precisaria aumentar o preço do diesel e da gasolina em R$ 0,62 e R$ 0,32 por litro, em média, para alcançar a paridade com os preços internacionais.

O diesel da Petrobras é vendido a R$ 4,89 o litro, em média, desde 19 de setembro, enquanto o da gasolina está em R$ 3,53 desde 1 de setembro.

Na quarta-feira (5/10), a pressão aumentou após o anúncio de corte de produção de 2 milhões de barris por dia (bpd) a menos a partir de novembro, pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep+), o maior desde abril de 2020, quando a pandemia de covid começou. Especialistas apontam que, nos próximos dias, o preço do barril deve chegar aos US$ 100, e um reajuste terá que ser anunciado.

Por outro lado, o governo Bolsonaro pressiona a Petrobras para só aumentar combustíveis após o segundo turno, já que o aumento do preço dos combustíveis poderia ter um efeito negativo sobre sua campanha de reeleição.

O atual presidente da Petrobras, Caio Mário Paes de Andrade assumiu o cargo em junho, com a missão dada por Bolsonaro de segurar ao máximo possível qualquer reajuste no preço dos combustíveis. Desde então, e Petrobras anunciou uma série de reduções de preços de combustíveis em geral. Boa parte desse cenário se deve, porém, à queda do preço no mercado internacional.

Na terça-feira, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) divulgou nota alertando sua preocupação com o uso eleitoreiro da Petrobrás, que tende a piorar nesse segundo turno das eleições.

Em relação à mudança de diretoria, a entidade disse que elas estão em curso e podem ser anunciadas em breve, atendendo a indicações do Palácio do Planalto, entre elas as diretorias financeira e de relações com investidores, e de relacionamento institucional, com o objetivo de acelerar projetos de desinvestimentos da estatal, contando, para isso, com um corpo de executivos de confiança do governo capaz de viabilizar privatizações a toque de caixa, até o fim do ano.

Medidas internas questionáveis estão sendo adotadas para facilitar demandas da presidência da República às vésperas das eleições, disse o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, referindo-se a recentes mudanças na composição dos comitês e do Conselho de Administração (CA), que facilitam trocas de executivos pelo presidente da empresa.

A representante dos trabalhadores no Conselho de Administração (CA) da Petrobrás, Rosângela Buzanelli, já havia questionado a falta de critérios técnicos na mudança da Diretoria de Transformação Digital e Inovação (DTDIT), aprovada às pressas pelo CA no dia 21 de setembro. Somente ela e dois representantes dos acionistas minoritários, Fernando Petros e Marcelo Mesquista, votaram contra a substituição do ex-diretor Juliano Dantas pelo atual Paulo Palaia, que, segundo os conselheiros, não tem qualquer experiência na área de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D).

A DTDIT é a diretoria responsável pelos investimentos do Centro de Pesquisas da Petrobrás (Cenpes) e mobiliza um orçamento de R 3,2 bilhões, conforme alertou Petros em seu voto.

O Comitê de Pessoas (Cope) que aprova substituições no alto escalão passou a ter somente membros indicados pelo governo, sem nenhum conselheiro minoritário. Já o CA teve os seis conselheiros da União substituídos por indicação do governo durante a última assembleia de acionistas, em 19 de agosto. Dois deles Jônathas Costa, da Casa Civil, e Ricardo Soriano, procurador-geral da Fazenda Nacional foram reprovados pelas antigas estruturas internas da empresa, mas aprovados na assembleia. Eles são questionados na Justiça pela Anapetro (Associação Nacional de Petroleiros Acionistas Minoritários da Petrobrás) por conflitos de interesse no cargo, vedados pela lei das estatais.

O uso eleitoreiro da Petrobras por Bolsonaro foi um dos temas de uma reunião que a FUP realizou nesta terça-feira, 4, em São Paulo, com a Coordenação Nacional da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva. Chamamos a atenção para a ocupação de cargos estratégicos, de forma escusa, em diretorias com orçamentos relevantes, o que é altamente preocupante, diante da possibilidade de fraudes e corrupção para financiamento de campanhas eleitorais, alertou Bacelar.

Segundo a entidade, além de anunciar, praticamente a cada semana, reduções pontuais nos preços dos combustíveis, às vésperas das eleições, e pressionar a empresa a segurar preços até o próximo dia 30, sem mudar em nada a equivocada política de Preço de Paridade de Importação (PPI), a gestão bolsonarista da Petrobrás vem promovendo uma dança das cadeiras no alto escalão da companhia, com critérios políticos.

Ele destacou ainda as altas recordes nos preços dos combustíveis no governo Bolsonaro, com base no PPI: 118,4% na gasolina, 165,9% no diesel e 97,4% no gás de cozinha, entre 1 de janeiro de 2019 e 23 de setembro de 2022, nas distribuidoras.

Em relação às especulações sobre a interferência do governo federal na gestão da companhia e possíveis mudanças na diretoria, a Petrobras disse que não há, até o presente momento, qualquer decisão ou procedimento interno na companhia visando à substituição de membros de sua diretoria executiva.

“A Petrobras reforça seu compromisso com a transparência do mercado, de acordo com as melhores práticas de governança corporativa”, disse a empresa, , em resposta ao ofício enviado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em referência à notícia do jornal “O Globo” sobre o assunto.

Nesta sexta-feira, os papéis da Petrobras (PETR3; PETR4), que têm forte peso na Bolsa, fecharam perto da estabilidade, em leve alta de 0,07% e 0,05%, acompanhando as petrolíferas Petro Rio e 3R Petroleum, que subiram 1,39% e 0,04%. O Ibovespa caiu 1% e as cotações de petróleo subiram pelo quinto dia consecutivo.