Petrobras e BNDES anunciam acordo de cooperação técnica que pode resultar em aporte na Braskem

1002

São Paulo – Os presidentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, e da Petrobras, Jean Paul Prates, assinaram um acordo de cooperação técnica que institui a comissão mista BNDES-Petrobras, que pode gerar desdobramentos na disputa pela Braskem. O presidente do BNDES disse que está conversando com o governo para aumentar seu funding à Petrobras, da qual é acionista, que pode resultar em investimento na Braskem.

“Estamos estudando a Braskem e esperamos uma decisão do presidente Lula”, disse o presidentes do BNDES, Aloizio Mercadante, em entrevista a jornalistas para anunciar o acordo. A informação foi dada no final da coletiva, após questionamento de jornalistas sobre o assunto. Jean Paul Prates não quis comentar.

A Petrobras é acionista controladora da Braskem, cujo controle vem sendo disputado. A atual gestão da Petrobras considera a atuação no setor petroquímico um dos elementos estratégicos do seu Plano Estratégico 2024-2028 e vem estudando alternativas para decidir se vende ou aumenta sua participação na petroquímica.

“Os focos da comissão serão reindustrialização, transição energética e desenvolvimento produtivo e inovação. Queremos financiar a transição energética da Petrobras. Estamos discutindo com a casa civil para mudar algumas mudanças regulatórias para aumentar o investimento na Petrobras”, disse Mercadante na apresentação oficial do acordo, anunciado com o objetivo de “produzir sinergias em desenvolvimento produtivo e inovação; transição energética e descarbonização; planejamento e estudos; e governança corporativa. ”

O BNDES tem 1,04% de participação na Petrobras e seu braço de participações, BNDESPar, 6,90% e recebeu R$ 20,5 bilhões em dividendos da petrolífera em um ano, segundo Mercadante. “Mais que receber dividendos, o BNDES quer ajudar o financiamento da Petrobras nessas frentes. A Petrobras terá um banco ao seu lado, parceiro. Vamos buscar aumentar o funding, pensar novas dimensões na empresa na área de energia. Lideramos o financiamento em eólicas e biomassa. Estamos na linha de frente desse esforço e queremos estar muito próximos em tudo que a Petrobras precisar”.

Mercadante disse que precisa retirar a BNDESPar do balanço do banco, criando um CNPJ próprio, como a Bradespar, no Bradesco e a CCTVM do Banco do Brasil. “Não será por falta de investimento que a Petrobras deixará de crescer. A ideia é tirar a área de renda variável do balanço.”

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse que buscará o apoio do governo para encontrar formas de contornar problemas com a cadeia de fornecedores, assim como as grandes petrolíferas mundiais. “O BNDES e a Petrobras nasceram juntos e com o acordo podem renovar esses laços. “Vamos mostrar para a opinião pública que ter o governo como parceiro, não é um ônus, é um bônus. E acabar com essa história de que estatal não funciona.”

Prates disse que a Petrobras tem um diferencial em biorefino e que está investindo para aumentar a produção de biocombustíveis nas refinarias. “Estamos reconfigurando a refinaria de Rio Grande, que talvez venha a ser a primeira biorefinaria completa do Brasil. Ela data de 1937, é uma mudança, uma transformação na área de refino”, disse Prates.

No Paraná, 5%, Cubatão, Paulínia e RNEST. “Quando chegarmos em Rnest, vamos usar a ideia original do presidente Lula, coletar óleo vegetal nos produtores e levar para nossas refinarias. Vamos buscar chegar até 30% em combustível vegetal, em óleo cru, na carga das refinarias”.

Em relação à produção de gás pela Petrobras para indústria, Prates disse que não há capacidade para isso no momento. Ele também disse que é preciso calcular o impacto de reduzir a produção de óleo para aumentar a produção de gás, como vem sendo proposto pelo ministro de Minas e Energia, em falas recentes.

“Quando se alega que temos injeção maior que a média – e esse dado nem existe – o nosso método de produzir o máximo de óleo precisa de injeção de gás. Esse é método para produzirmos mais óleo em nossas bacias exploratórias.”

“O que tem que ficar claro é que a Petrobras não tem interesse de sonegar gás. A Petrobras tem 10 unidades de reserva de gás das 12 do Brasil. A Bolívia tem 11. O primeiro tem 450. A Russia tem 1300, com reserva em terra. Não adianta a gente querer ter gás no grito, nos jornais. Se não temos gás para todos os segmentos, vamos trabalhar o mix ao invés de criar polêmicas.”

Prates disse que quer trabalhar com o MME e que o presidente Lula tem muito a dizer sobre esse assunto. “É possível chegar num consenso.”

O presidente da Petrobras disse que vai voltar a investir em fertilizantes e que deve retomar a área dea obra de Três Lagoas e no Paraná. “Temos gasodutos na Bolívia, vamos lá para avaliar como ajudar o nosso vizinho e aproveitar o gás.”

Prates disse que vai conversar com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre o processo de venda das refinarias e que isto foi um equívoco do ex-ministro Paulo Guedes. “Não vamos afrontar o Cade, vamos respeitar as decisões do órgão, mas vamos mostrar que não há nenhum problema na Petrobras deter a TBG [Transportadora Brasileiro Gasoduto Bolívia Brasil].”

O presidente do BNDES disse que o banco também quer apoiar os investimentos da Petrobras em energia eólica offshore e hidrogênio verde.

Prates disse que a Petrobras pode usar sua experiência em exploração offshore para a geração de energia eólica e que o setor tem especificidades parecidas com as da extração de petróleo.