Petrobras garante que recursos de reserva de remuneração de capital serão utilizados exclusivamente para pagar dividendos

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São Paulo – O diretor financeiro da Petrobras, Sergio Caetano Leite, disse na tarde de hoje que a reserva de remuneração de capital da companhia será usada para equalizar o pagamento de dividendos, mas que ainda não há uma decisão de qual será a periodicidade do pagamento de dividendos extraordinários.

“Apesar do resultado expressivo e alavancagem baixa, a companhia manterá esses recursos nesta reserva. Mas quero deixar claro que os recursos desta reserva não serão utilizados para investimentos. O objetivo da reserva é exclusivamente para pagar dividendos, e não para qualquer outra destinação. E a qualquer momento a companhia poderá decidir quando utilizar os recursos para pagamento de dividendos’, comentou Leite, que destacou que a companhia está se alinhando às políticas de pagamento de dividendos das principais companhias petrolíferas mundiais.

Ele comentou ainda que a busca por um balanço robusto e o o cuidado com o uso de capital é um compromisso da companhia, e que não há estudo de uma alavancagem adicional para fazer M&A.

“Teremos um 2024 e 2025 investimentos expressivos, e por isso é preciso uma gestão de caixa diferente. Os projetos em análise estão no plano estratégico da companhia. Trabalhamos sempre de forma conservadora, ou seja, há previsão orçamentária para todos os investimentos e isso está descrito no nosso plano estratégico, inclusive para dividendos extraordinários. O conselho analisa e tenta prever os critérios que possam impactar o ano de 2024 e 2025. À medida que o conselho veja essas questões mais claras, ele vai deliberar”, comentou Leite.

O presidente da companhia, Jean Paul Prates, disse que, reconhecendo que a transição energética ocorrerá de forma gradual e, portanto, a companhia continuará investindo na exploração e produção de óleo e gás, segmento onde a estatal gera os maiores retornos, e na integração com o downstream.

“Vamos também gerar valor com a transição justa e responsável, diversificando nossas operações em negócios rentáveis de baixo carbono e sempre priorizando parcerias. Faremos tudo isso mantendo o foco na disciplina de capital e sólida governança e racionalidade em todos os processos decisórios. Racionalidade esta, insisto, que norteou as mudanças implementadas em nossa estratégia comercial pela qual aumentamos a competitividade da Petrobras, trazendo mais flexibilidade ao processo decisório e mais estabilidade para os consumidores e em nossa política de dividendos, aperfeiçoada para considerar maiores investimentos e a absoluta necessidade de manter nossa saúde financeira”, explicou Prates.

Ele também destacou que o retorno total das ações preferenciais da companhia na bolsa de Nova York alcançou 112%, um valor muito superior ao maior dos retornos das majors (20%), evidenciando quão acertada foi a decisão de manter os dividendos em patamares adequados, ao mesmo tempo em que aumentaram os investimentos para entregar crescimento rentável, o que se reflete em maiores valores de mercado.

DIVIDENDOS

O Conselho de Administração autorizou o encaminhamento à Assembleia Geral Ordinária (AGO), prevista para 25 de abril de 2024, da proposta de distribuição de dividendos equivalentes a R$ 14,2 bilhões. Caso haja aprovação da AGO, considerando os dividendos antecipados pela companhia ao longo do exercício, ajustados pela Selic, os dividendos totais do exercício de 2023 totalizarão R$ 72,4 bilhões.

Segundo o comunicado, a distribuição proposta está alinhada à Política de Remuneração aos Acionistas, que prevê que, em caso de endividamento bruto igual ou inferior ao nível máximo de endividamento definido no plano estratégico em vigor (atualmente US$ 65 bilhões), a Petrobras deverá distribuir aos seus acionistas 45% do fluxo de caixa livre. Os dividendos propostos já levam em consideração o valor de ações recompradas no quarto trimestre de 2023 de R$ 2,7 bilhões e a correção pela SELIC sobre as antecipações de dividendos e JCP relativos ao exercício social de 2023, no valor de R$ 1,1 bilhão, que foram descontados do total da remuneração aos acionistas, conforme o disposto na Política e no Estatuto Social, respectivamente.

“A aprovação do dividendo é compatível com a sustentabilidade financeira da companhia e está alinhada ao compromisso de geração de valor para a sociedade e para os acionistas, assim como às melhores práticas da indústria mundial de petróleo e gás natural”, destacou a estatal.

O lucro remanescente do exercício, após os dividendos e formação de reservas legais e estatutária, totaliza R$ 43,9 bilhões. O Conselho propôs que esse montante seja integralmente destinado para a reserva de remuneração do capital, com a finalidade de assegurar recursos para o pagamento de dividendos, juros sobre o capital próprio, suas antecipações e recompras de ações.

Os dividendos complementares do quarto trimestre serão pagos em duas parcelas iguais nos meses de maio e junho de 2024. O valor a ser pago: R$ 1,09894844 por ação preferencial e ordinária em circulação, sendo que, a primeira parcela, no valor de R$ 0,54947422 por ação preferencial e ordinária; e a segunda parcela, no valor de R$ 0,54947422 por ação preferencial e ordinária.

Dividendos pagos em 2023 recuam em 49,5%, mas valem uma Eletrobras; ações mantém forte queda

O volume de dividendos distribuídos aos seus acionistas pela estatal no ano de 2023 foi 49,5% inferior ao do ano de 2022. Em 2022, a empresa desembolsou R$ 194,6 bilhões em dividendos, enquanto em 2023 foram pagos R$ 98,1 bilhões em dividendos. No entanto, os R$ 98,1 bilhões seriam suficientes para adquirir praticamente todas as ações da décima primeira maior empresa de capital aberto brasileira, a Eletrobras, atualmente avaliada em R$ 98,9 bilhões.

A avaliação é da Elos Ayta Consultoria. “Nos últimos três anos, a estatal distribuiu dividendos significativos. Em 2022, a empresa foi a maior distribuidora de dividendos aos seus acionistas na América Latina e nos EUA. O volume de dividendos somados da estatal entre 2010 e 2020 foi de R$ 59,2 bilhões, um valor inferior ao desembolsado em 2021, quando a empresa pagou R$ 72,7 bilhões”, acrescenta Einar Rivero, analista financeiro e CEO da Elos Ayta.

Na manhã de hoje, no primeiro pregão após a divulgação dos resultados de 2023, as ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) abriram em forte queda e chegaram a ficar em leilão, com os investidores repercutindo a decisão da empresa em não pagar os dividendos extraordinários, como temia o mercado, e com resultado do quarto trimestre mais fraco. Após a teleconferência com investidores, realizada às 11h30 (horário de Brasília), os ativos PETR3 e PETR4 caíam 8,82% e 8,59%, a R$ 37,64 e R$ 36,93, , por volta de 14h54 e eram as piores quedas do Ibovespa.

Segundo melhor lucro no setor de petróleo

O analista também observa que, apesar de um declínio no lucro em 2023, a Petrobras continua a se destacar como uma das empresas mais lucrativas do setor petrolífero. Embora tenha enfrentado uma redução de mais de 30% em reais e 28,7% em dólares, a Petrobras mantém sua posição como a segunda empresa mais rentável em uma seleção de 13 empresas do mercado internacional de petróleo. Seu lucro em dólares no ano de 2023 foi de US$ 25,7 bilhões, ficando atrás apenas da Exxon Mobil, que registrou um lucro de US$ 36,0 bilhões no mesmo período.

“É importante destacar que a queda no lucro da Petrobras, de 28,7%, é uma das menores dentro dessa amostra. Apenas três empresas tiveram um desempenho melhor que a estatal brasileira: a Canadian Natural Resources, com queda de 23,0%; a EOG Resources dos EUA, com queda de 2,1%; e a BP Plc, que, após prejuízo no ano anterior, registrou crescimento de lucratividade”, comenta o CEO da consultoria.

“Por outro lado, algumas empresas enfrentaram desafios mais significativos. A Occidental Petroleum, por exemplo, teve a maior queda de lucratividade em 2023, com -64,7%, enquanto a líder da amostra, Exxon Mobil, registrou uma queda de -35,4%”, observa.

Lucro da Petrobras em 2023 é o segundo maior lucro desde 2010

A análise também destaca que o lucro de R$ 124,6 bilhões da estatal no ano de 2023 é o segundo maior já registrado desde 2010 em valores nominais. O maior patamar atingido pela empresa ocorreu em 2022, quando registrou um lucro de R$ 188,3 bilhões. O valor de 2023 é 33,8% inferior ao de 2022.

Desde 2010, a empresa registrou prejuízos entre os anos de 2014 e 2017, período do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. O maior prejuízo aconteceu no ano de 2015, quando a empresa reportou R$ 34,8 bilhões de prejuízo após um prejuízo de R$ 21,5 bilhões no ano de 2014.

Após dois anos de queda da dívida, a Petrobras registra crescimento de 8,0% em 2023. A dívida da estatal no ano de 2023 é de R$ 303,0 bilhões, um valor 8,0% superior ao do ano de 2022, quando a empresa registrou R$ 280,7 bilhões de dívida bruta. O valor registrado em 2022 foi o menor já registrado pela empresa desde 2013.

O crescimento da dívida bruta em 2023 é 8,0% superior em relação ao de 2022, quebrando uma sequência de dois anos de queda do endividamento da empresa. Em 2022, a empresa registrou uma queda de 14,3%, e em 2021, uma queda de 16,5%.

A dívida líquida da empresa em 2023 é de R$ 227,7 bilhões, um valor superior ao de 2022 em 1,46%.

O caixa da empresa registra crescimento no ano de 2023 de 19,5%, fechando em R$ 67,1 bilhões, o que é o melhor valor desde 2017 quando a empresa tinha R$ 80,7 bilhões em caixa.

Todos os valores são nominais sem nenhum tipo de ajuste pela inflação.

Com Cynara Escobar / Agência CMA

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