Política e reformas fazem Bolsa cair e dólar subir

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São Paulo – A Bolsa fecha em forte queda de 1,11%, aos 120.700,98 pontos, com a instabilidade do cenário político e fiscal por aqui, com a atenção à votação da reforma do Imposto de Renda (IR) adiada para a próxima terça-feira (17). Somado a isso, o mercado repercutiu os balanços corporativos do segundo trimestre. Alguns resultados desagradaram o mercado.

Os destaques negativos na Bolsa ficaram para as ações da Ultrapar (UGPA3), que  baixaram mais de 12%, Minerva Foods (BEEF3) recuaram mais de 11%; Banco Inter (BIDI 11) desaceleraram mais de 6% e Via (VVAR3) perderam mais de 7%.

Os analistas da Terra Investimentos comentaram que a queda no Ibovespa está vinculada às incertezas com a reforma do Imposto de Renda e à divulgação dos balanços.

Mas, os analistas da Terra Investimentos chamaram atenção para a queda dos papéis da B3 (B3SA3). “Os investidores  repercutem comunicado sobre contingência legal de ‘remota’ para ‘possível’ em que a B3 é acusada de supostamente causar prejuízos em operações de mercado futuro de dólar conduzidas pelo Banco Central em  janeiro de 1999”. As ações caíram mais de 7%.

Para Caio Kanaan Eboli, sócio e diretor operacional da mesa proprietária Axia Investing, os investidores ficam atentos à reforma do Imposto de Renda adiada para a próxima semana, após a a aprovação ontem do texto-base da reforma eleitoral, e os balanços de empresas também impactam o mercado. “O mau humor vem de alguns resultados corporativos de peso que saíram hoje”.

Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos, comentou que a Bolsa está acompanhando o mau humor dos índices norte-americanos com o resultado do PPI pior que o esperado, mas “o ambiente político está muito instável e desagrada o mercado, além da repercussão de balanços corporativos”.

A economista-chefe da Reag Investimentos ressaltou que os riscos locais não estão dando trégua ao mercado, “a pressão inflacionária, a retomada do segundo trimestre ainda bastante morosa e a expectativa em relação à reforma do IR que traz a alteração de algumas leis trabalhistas”.

Simone afirmou que alguns resultados de empresas vieram abaixo do esperado, com destaque para a Minerva com o possível fechamento de capital. “São eventos pontuais que impactam o mercado”. Ela destacou a queda do minério de ferro e a retração dos principais índices da Bolsa, como os papéis do setor financeiro e B3. “Estamos há três semanas nessa toada, se pelo menos estivéssemos mantido os 122 mil pontos seria bom, mas o cenário local não contribui favoravelmente”.

Para Bruno Komura, estrategista de renda variável da Ouro Preto Investimentos, o mercado está atento com os resultados corporativos. “A maioria das empresas veio com resultados acima das expectativas, mas acredito que o mercado esteja realizando os lucros”.

Em relação ao ambiente local, a reforma tributária ainda precisa ser bastante discutida. “Existe uma resistência forte e os riscos fiscais estão sempre no radar”.

Por aqui, o projeto de reforma do Imposto de Renda não foi votado ontem como estava previsto pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Empresários, prefeitos e governadores, representantes do mercado financeiro fizeram manobras para impedir a votação. O texto pode ser avaliado hoje pelos deputados. O relator da proposta, Celso Sabino (PSDB-PA) já elaborou três versões da proposta.

Outro fator que cria incômodo ao mercado é a Proposta de Emenda à Constituição dos Precatórios, que abre espaço para o descumprimento da regra de ouro- dificulta que o governo se endivide.

Em dia marcado pela valorização, o dólar comercial fechou cotado a R$ 5,2560, com alta de 0,68%. Os principais fatores para isso, foram a divulgação de tímidos dados sobre a economia dos Estados Unidos, e principalmente ruídos internos como a dificuldade para a aprovação de reformas.

“O mercado continua atento com a questão dos precatórios e a parte fiscal. Devido a esses ruídos políticos, aumenta a volatilidade do dólar”, resume o consultor de câmbio da Amplla Assessoria, Alessandro Faganello.

A política de incentivo à economia nos Estados Unidos também é observada de perto : “O simpósio do FED#, que ocorre entre os dias 26 e 28 de agosto, é muito aguardado pelo mercado, para saber quais serão os próximos passos da economia norte-americana”, analisa Faganello.

Para o analista da Levante, Enrico Cozzolino, “a incerteza quanto ao teto de gastos voltou ao radar, e isso poderia afetar mais o dólar”. Cozzolino, porém, alega que a postura do Banco Central, mais austera, contrabalanceia as intempéries do governo.

“A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) veio dura, deixando a porta aberta até para subir mais que 1pp. O Banco Central está atento aos riscos fiscais e mostra isso na sua política, aumentando os juros e premiando os investidores”, analisa Cozzolino.

Segundo o economista da Renascença Corretora, Daniel Queiroz, os problemas internos são relevantes para a atual valorização da moeda norte-americana: “as questões domésticas ainda mantêm o dólar em alta no Brasil, mesmo que as notícias vindas de fora sejam positivas”.

A moeda reagiu pouco aos indicadores divulgados pela manhã nos Estados Unidos. O número de novos pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos caiu em 12 mil solicitações na semana passada, a 375 mil, em linha com o esperado, enquanto o índice de preços ao produtor do país subiu 1,0% em julho ante junho, ante previsão de alta de 0,6%.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em alta, depois de passarem a maior parte do dia oscilando dentro de margens bastante estreitas, com os ativos locais sob pressão do desconforto provocado entre os investidores pelas persistentes incertezas fiscais e políticas.

Com isso, o DI para janeiro de 2022 encerrou com taxa de 6,580%, de 6,545% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 8,250%, de 8,175; o DI para janeiro de 2025 ia a 9,24%, de 9,13% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 9,63%, de 9,54%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano encerraram o dia em alta, depois que novos dados de emprego somados aos resultados corporativos forneceram mais clareza sobre o ritmo de recuperação da economia dos Estados Unidos. Com isso, o Dow Jones e o S&P 500 voltaram a renovar máxima no fechamento.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +0,04%, 35.499,85 pontos

Nasdaq Composto: +0,35%, 14.816,30 pontos

S&P 500: +0,29%, 4.460,83 pontos