Possível pico do coronavírus nos EUA faz Bolsa subir pelo terceiro dia

828

São Paulo – O Ibovespa encerrou em alta pelo terceiro pregão seguido e no maior nível desde o dia 13 de março (82.677,91 pontos), ao registrar ganhos de 2,96%, aos 78.624,62 pontos, refletindo o movimento das Bolsas norte-americanas. Os mercados acionários nos Estados Unidos aceleraram a alta em meio a sinais de que a pandemia do novo coronavírus pode estar chegando ao seu pico, além de refletirem a ata do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e a desistência do democrata Bernie Sanders da corrida presidencial.

Apesar de números ainda preocupantes, há a percepção de que o número de novos casos de covid-19 pode estar desacelerando. O estado de Nova York, nos Estados Unidos, registrou 799 novas mortes devido ao novo coronavírus, seu maior índice de fatalidades em um dia já registrado, afirmou o governador Andrew Cuomo. Porém, Cuomo disse que é possível ver um “achatamento da curva” de novos casos de infecções no estado.

Já a ata do Fed, divulgada há pouco, reforçou a visão de que impactos da pandemia ainda são incertos, mas que seu peso na economia levou ao corte de juros.

Ainda ajudou na alta de Wall Street a notícia de que Sanders desistiu da corrida à Casa Branca depois de uma série de desempenhos fracos nas primárias do Partido Democrata. Empresários e investidores temiam que os impostos pudessem subir casos ele assumisse a presidência.

Para o analista de investimentos do banco Daycoval, Enrico Cozzolino, o ambiente um pouco melhor no exterior também dá espaço para que investidores voltem a comprar papéis, buscando aqueles considerados mais baratos e que tiveram quedas mais exageradas. “O pânico e a volatilidade estão diminuindo e faz sentido diminuir o fluxo de venda, tem empresas que estão descontadas”, disse.

Entre as ações, as maiores altas do Ibovespa foram da Cielo (CIEL3 22,14%), da Via Varejo (VVAR3 14,02%) e Gol (GOLL4 10,04%), papéis que tinham mostrado fortes quedas recentemente. Na contramão, as maiores quedas foram do IRB Brasil (IRBR3 -1,07%), da JBS (JBSS3 -2,16%) e da Rumo (RAIL3 -2,29%).

Amanhã, a agenda de indicadores promete ser mais agitada, com destaque para os dados de seguro-desemprego nos Estados Unidos, que já vem mostrando forte altas nas últimas semana em função do coronavírus. Ainda no país serão divulgados índice de preços ao produtor e o presidente do Fed, Jerome Powell, fará um discurso às 11h. Também há expectativas pela reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e possível acordo no mercado de petróleo.

No Brasil, serão divulgados o Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março e índice de atividade econômica (IBC-Br) do Banco Central (BC) de fevereiro.

O dólar comercial fechou em forte queda de 1,64% no mercado à vista, cotado a R$ 5,1440 para venda, engatando o terceiro recuo seguido, em meio ao otimismo que permanece nos mercados com a percepção de arrefecimento nos números de casos confirmados e de mortes em decorrência do novo coronavírus. Aqui, as declarações do presidente do Banco Central (BC) corroboraram para a moeda se sustentar nas mínimas da sessão.

“Embora as notícias sobre a pandemia não sejam tranquilizadoras por aqui, os preços dos ativos refletem ambiente melhor. Nos Estados Unidos, o presidente [Donald] Trump afirma que estão próximos do ‘topo da curva’, mas os números logo podem desacelerar. Além disso, o governo norte-americano estuda novo pacote fiscal de US$ 250 bilhões”, comenta a equipe econômica do banco Fator.

O diretor da Correparti, Ricardo Gomes, avalia que, mesmo com a “manutenção do cenário nebuloso” no âmbito global, alguns sinais espalham otimismo junto aos mercados.

“A injeção de recursos novos na economia norte-americana, além do teor da ata do Fed [Federal Reserve, o banco central norte-americano] no qual sugere que os efeitos danosos do coronavírus na economia não se prolongarão tanto quanto aqueles vistos na crise de 2008, apoiaram o otimismo no exterior”, diz.

Gomes acrescenta que as declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, assegurando que a autoridade monetária poderá atuar “muito mais forte” a qualquer momento caso haja deslocamento ou disfuncionalidade no mercado cambial, ajudaram a sustentar a recuperação da moeda no mercado doméstico, além de acompanhar o peso mexicano que chegou a cair mais de 1% na sessão.

Para o economista da Guide Investimentos, Alejandro Ortiz, por mais que a “percepção” seja de estabilização no número de casos e mortes por coronavírus na Europa, há defasagem nos testes e consequentemente, o cenário segue muito incerto. Diante disso, ele aposta em dólar em queda ou com viés de estabilidade amanhã, à véspera de um feriado em vários países.