São Paulo – O Ibovespa encerrou em queda de 1,32%, aos 96.990,72 pontos, acompanhando a derrubada das Bolsas no exterior causada pela volta do aumento de casos de coronavírus em diversos países e por um escândalo de fraudes envolvendo grandes bancos internacionais.
O movimento de proteção fez o índice registrar no menor nível de fechamento desde o dia 3 de julho (96.764,85 pontos), depois que ter atingido a mínima de 95.820,34 pontos pela manhã, no menor nível intraday também desde o dia 3 de julho (95.803.32 pontos). O volume total negociado foi de R$ 37,1 bilhões, incluindo o exercício de opções sobre ações de R$ 10,468 bilhões.
Para o estrategista-chefe da Levante Investimentos, Rafael Bevilacqua, “o envolvimento de grandes bancos com lavagem e movimentação de dinheiro de origem ilícita tem potencial desestabilizador nas cotações”.
Uma reportagem publicada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (International Consortium of Investigative Journalists, ICIJ) mostrou que grandes bancos desafiaram as restrições e movimentaram US$ 2 trilhões entre 1999 e 2017 em operações suspeitas de lavagem de dinheiro ou origem ilícita. Entre os bancos envolvidos estão JPMorgan, Bank of New York Mellon, HSBC, Standard Chartered e Deutsche Bank, cujas ações tiveram fortes quedas e derrubam Bolsas pelo mundo, com alguns índices europeus fechando com perdas de mais de 4%.
O estrategista ainda lembra, em relatório, que as acusações não são novidade. “O HSBC foi um dos principais envolvidos no escândalo dos ‘Panama Papers’ de 2017. No entanto, o fato de a reportagem indicar que os bancos prosseguiram com práticas irregulares apesar do endurecimento das regras e dos controles americanos torna a situação mais grave – e as punições, potencialmente mais severas”, completa.
O novo escândalo ocorre em um momento de aumento de casos de covid-19, especialmente na França, na Espanha e na Inglaterra, o que reacende temores de novos “lockdowns”. O número de pessoas infectadas pelo novo coronavírus no mundo ultrapassou 31 milhões e as mortes globais somam 961.273, segundo dados da Universidade Johns Hopkins.
Entre as ações, as da Petrobras (PETR3 -3,00%; PETR4 -3,46%) encerraram com fortes perdas refletindo os preços do petróleo, que caíram mais de 4% em meio à aversão ao risco e depois que um comandante líbio anunciou que as produções no país voltariam. Os papéis da Vale (VALE3 -2,69%) também pesaram negativamente.
Já as maiores baixas do Ibovespa foram dos papéis da Gol (GOLL4 -8,45%) e da Azul (AZUL4 -7,80%), que sofreram com os temores de novos “lockdowns” e após a Gol ter confirmado que é alvo de uma ação coletiva aberta nos Estados Unidos, com um acionista pedindo ressarcimento por supostas falhas de divulgação que teriam provocado queda dos papéis ao longo da pandemia.
Na contramão, as maiores altas foram da B2W (BTOW3 3,93%), da WEG (WEGE3 2,27%), da SulAmérica (SULA11 2,86%) e do Magazine Luiza (MGLU3 1,80%), com investidores voltando a comprar principalmente os papéis de algumas varejistas que haviam caído nos últimos dias.
Na agenda de amanhã, investidores devem ficar atentos principalmente ao depoimento do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, em comissão da Câmara às 11h30. No Brasil, será analisada a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
O dólar comercial fechou em alta de 0,44% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3990 para venda, em sessão de forte volatilidade e amplitude da moeda que acompanhou o exterior em meio à uma forte aversão ao risco com o aumento de casos do novo coronavírus na Europa e nos Estados Unidos, elevando o risco de importantes países adotarem novas medidas de isolamento social. Além disso, notícias sobre a suspeita de que dois grandes bancos fizeram movimentações ilícitas por quase 20 anos elevaram a busca por proteção.
“As denúncias de lavagem de dinheiro contra grandes bancos norte-americanos e europeus e os renovados temores dos efeitos de uma possível segunda onda de covid-19 na Europa foram os grandes indutores do movimento de aversão ao risco”, comenta o diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik.
Segundo reportagem do site de notícias norte-americano “BuzzFeed News”, em colaboração com organizações globais de notícias incluindo o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês), os bancos HSBC, Standard Chartered e outros teriam movimentado fundos suspeitos ilícitos. As alegações são baseadas em documentos vazados relacionados a mais de US$ 2 trilhões em transações nas últimas duas décadas, principalmente entre 2011 e 2017, no qual apontam crimes financeiros, como lavagem de dinheiro.
Rugik destaca que a notícia levou a moeda estrangeira a abrir os negócios acima do patamar dos R$ 5,40 e, de forma rápida e pontual, chegou à máxima da sessão e no maior patamar do mês, a R$ 5,4990. “Ao longo da sessão, a moeda passou a restringir os ganhos, acompanhando uma leve melhora das bolsas em Nova York e a diminuição das perdas de algumas divisas [de países] emergentes frente ao dólar”, acrescenta.
Amanhã, na abertura dos negócios, o foco do mercado doméstico deverá se concentrar na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada na semana passada e que manteve a taxa básica de juros (Selic) em 2,00% encerrando um ciclo de nove cortes seguidos.
Com a agenda esvaziada no exterior, o foco deverá seguir nas notícias em relação ao novo coronavírus, principalmente, na Europa, enquanto nos Estados Unidos, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, dará depoimento no Congresso norte-americano.
Para o analista da Toro Investimentos, Daniel Herrera, o mercado sempre fica atento ao presidente do Fed, porém, ele pode não apresentar novidades após a longa entrevista na quarta-feira após a decisão de política monetária. “Mas os ativos podem passar por uma correção após essa sessão negativa”, diz.
As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em alta, mantendo a trajetória vista desde a abertura, porém longe das máximas do dia, em um pregão marcado por um intenso vaivém. O movimento acompanhou a desaceleração do dólar, que volta a ser cotado mais próximo a R$ 5,40, em meio à aversão ao risco no exterior, à espera da agenda carregada de eventos e indicadores econômicos relevantes.
Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 3,00%, de 2,97% no ajuste anterior, ao final da semana passada; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,44%, de 4,38% após o ajuste na última sexta-feira; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,36%, de 6,30%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,34%, de 7,28%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos encerraram o pregão em campo negativo com preocupações de que haja um aumento nos casos do novo coronavírus pelo mundo, ao mesmo tempo que as negociações para um novo pacote de estímulo permanecem em um impasse no Congresso norte-americano.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -1,84%, 27.147,70 pontos
Nasdaq Composto: -0,13%, 10.778,79 pontos
S&P 500: -1,15%, 3.281,06 pontos