Presidente diz não haver explicação para Selic de 13,75% ao ano

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Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva endureceu as críticas à autonomia do Banco Central (BC) e à taxa de juros no país. Lula participou, nesta segunda-feira, da posse do economista Aloizio Mercadante na presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e disse não haver explicação para a Selic de 13,75% ao ano.

“Eu pensei: bom, agora resolveu tudo, o Banco Central independente, não vai mais ter problema de juros. Ledo engano. O problema não é de banco independente. O problema é que este país tem uma cultura de juros altos que não combina com a necessidade de crescimento que temos”, afirmou Lula, questionando a extinção da TJLP (taxa longa de juros usada no passado nos financiamentos do BNDES).

Segundo Lula, a briga contra os juros altos é antiga. O presidente citou, entre os críticos dos juros altos, o empresário Antônio Ermírio de Moraes (morto em 2014) e o ex-vice-presidente José Alencar (morto em 2011). O presidente disse que o BNDES “pode contribuir” para a redução da taxa de juros no país.

“Vou dizer uma coisa para vocês: não tem explicação para que a taxa de juros esteja a 13,5%”, afirmou. Segundo Lula, em 2002, o BNDES desembolsava R$ 37 bilhões para investimento, em 2010, R$ 168 bilhões, em 2013, R$ 190 bilhões, em 2021, R$ 64 bilhões.

O presidente afirmou ainda que os empresários precisam cobrar a redução da taxa de juros no país. “Quando o Banco Central era dependente de mim, todo mundo reclamava. O único dia que a Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo] era quando aumentavam os juros. Então, Josué, [Gomes da Silva, presidente da Fiesp], se as pessoas acharem que vocês estão felizes com 13,5%, não vão baixar os juros”, disse.

“Precisamos ter noção que quem vai brigar não é o Lula, é a sociedade brasileira. Não existe nenhuma justificativa para que a taxa de juros esteja a 13,5%. É só ver a carta do Copom [Conselho de Política Monetária] para a gente saber que é uma vergonha esse aumento de juros e a explicação que eles deram para a sociedade”, completou.

INDUTOR DO CRESCIMENTO

Lula afirmou que o BNDES precisa ser indutor do desenvolvimento econômico do país. Segundo o presidente, o banco pode inclusive emprestar dinheiro para os estados e os municípios com capacidade de endividamento visando a retomada de obras de infraestrutura no país.

Para Lula, o BNDES foi vítima de difamação durante o processo eleitoral. O presidente disse que não houve “caixa preta” no BNDES e que essa foi uma mentira espalhada contra o banco, obrigando a contratação de uma auditoria de R$ 48 milhões. “Parem de mentir em relação ao BNDES, afirmou.

O presidente disse ser mentira que “o BNDES dava dinheiro” para outros país da região. “O BNDES nunca deu dinheiro para países amigos do governo. BNDES financiou serviços de engenharia de empresas brasileiras em 15 países da América Latina e do Caribe entre 1998 e 2017”, afirmou Lula, acrescentando que “essas operações deram lucro, além de gerar empregos no Brasil”.

Lula reconheceu que Cuba e Venezuela não quitaram suas dívidas, mas responsabilizou o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, que cortou relações diplomáticas com os dois países. “Tenho certeza que, no nosso governo, esses países vão pagar, porque são todos países amigos do Brasil”, disse.

O presidente negou ainda que, nos governos do PT, o BNDES atendesse a “meia dúzia de empresas”. Segundo Lula, no final de seu mandato, em 2010, 480 das 500 maiores empresas do país tinham relações com o BNDES e 97% dos financiamentos com aval do banco eram para pequenas e médias empresas.

“É importante a gente ter clareza de que o BNDES precisa privilegiar o financiamento de micro e pequenos empreendedores para que a gente dê um salto de qualidade na produção e no crescimento econômico deste país”, afirmou.