Presidente do Itaú comemora resultado trimestral, mas reforça cautela

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São Paulo, 9 de agosto de 2022 – Em teleconferência na manhã de hoje, o presidente do banco, Milton Maluhy Filho, falou sobre os desafios para os próximos trimestres e a importância do crescimento de 7,6% da margem financeira, em relação ao primeiro trimestre de 2022.

“A margem financeira com clientes cresceu 9,7% no trimestre devido ao maior volume médio de crédito e da mudança de mix com maior crescimento de produtos como cartão financiado e crediário. No mesmo sentido, tivemos o impacto positivo da Selic e do maior volume em nossa margem de passivos e da taxa de juros pré-fixada em nosso capital de giro próprio, além de maiores spreads na carteira de crédito”, explicou Filho.

Apesar dos números robustos, o executivo usou várias vezes a palavra cautela diante de um cenário mundial com grandes desafios. “A desaceleração da economia mundial e o processo inflacionário são fenômenos que afetam todos os países. Europa e Estados Unidos estão aumentando seus juros, por outro lado, a retomada da China é um fator positivo e pode fazer com que a economia não recue tanto como analistas previam”, ponderou.

Sobre a evolução no crédito pessoal, que cresceu 6,8%, sendo que o crescimento em crediário e cheque especial se concentrou nos segmentos Uniclass e Personnalité, Filho apontou a importância de uma revisão sistemática nas carteiras para manter o nível de inadimplência controlada.

“No curto prazo, vemos a inadimplência acima de 90 dias aumentando nos últimos semestres. Por isso estamos fazendo ajustes necessários onde percebemos deterioração importante, para que os níveis cheguem a patamares anteriores ao pré-pandemia”, avaliou o presidente do Itaú.

A carteira em atraso acima de 90 dias cresceu 9,6% em relação ao trimestre anterior no total da carteira em atraso. Esse aumento ocorreu principalmente no segmento de pessoas físicas no Brasil e está relacionado à migração de créditos que se encontravam na faixa de atraso entre 15 e 90 dias no trimestre anterior e ao crescimento da carteira.

Já os índices de inadimplência entre 15 e 90 dias total e Brasil mantiveram-se estáveis em relação ao trimestre anterior. No Brasil, os índices de pessoas físicas e de micro, pequenas e médias empresas, que estão retornando aos seus patamares históricos, ficaram estáveis. O índice de grandes empresas reduziu, atingindo o menor patamar da série histórica.

O aumento de 2% da carteira de crédito renegociado ocorreu principalmente na faixa de atraso acima de 90 dias na carteira de pessoas físicas, principalmente cartão de crédito e composição de dívidas. Tanto o índice de cobertura (saldo de PDD/carteira) quanto o índice de inadimplência acima de 90 dias de atraso apresentaram queda no trimestre.

Além do balanço, o executivo faltou também sobre as novas projeções anunciadas pelo banco, que prevê crescimento na faixa entre 15,5% e 17,5% no consolidado da carteira de crédito total, e margem financeira com clientes consolidada com acréscimo entre 25% e 27%. O custo do crédito deve ter alta entre R$ 28 bilhões e R$ 31 bilhões, em termos consolidados.

Por fim, o executivo comentou sobre o excesso de cartões no mercado e a importância dos clientes engajados para o crescimento das receitas e a consolidação da relação com o banco. “Não defendemos market share a qualquer custo. É preciso fazer uma oferta apurada e direcionada. Atualmente 67% dos nossos cliente são engajados, gerando ainda mais negócios e fidelizando sua estratégia financeira com o banco”, comentou.

ANÁLISES

Para a Genial Investimentos, que divulgou sua análise antes da teleconferência, o Itaú já era sua principal escolhas entre os bancos. “O sólido resultado do trimestre e seu carrego para o ano contribui para reiterar a nossa tese de investimento. Com um ROE de 20,8% no trimestre e expectativa de um ROE na faixa dos 20,3% para o ano, ao valuation de 1,56x P/VP22 e 8,05x P/L22 a ação nos parece barata em relação ao seu múltiplo histórico. Reiteramos a recomendação de compra”, explicou a análise, que aponta preço-alvo a R$ 30,30.

A Levante Investimentos apontou que a inadimplência total finalizou em 2,7%, crescimento trimestral de 0,1%, resultando numa diminuição do índice de cobertura de 90 dias estoque de provisão sobre carteira em atraso para 218% (vs. 232% no 1T21). “O indicador demonstra maior exposição a riscos do banco; como ponto de atenção, devemos observar se de fato a normalização dos subsegmentos detratores se normaliza para os próximos resultados”, ponderou a Levante, que enfatizou que o resultado do Itaú foi a surpresa que mais agradou entre os bancos.

Para Bank of America (BofA), o aumento de 17% no Margem com Juros (NII) , de R$ 7,7 bilhões, acima de suas estimativas, e o ROE de 20,8%, sustentado por forte geração de receita, são índices robustos, além das novas projeções positivas anunciadas pelo banco para o ano. O BofA mantém a recomendação de compra para as ações do Itaú.

Assim como os seus pares, o BTG Pactual analisou, antes da teleconferência, os resultados do Itaú, destacando o sólido crescimento do NII e apontando que os prêmios de seguro devem trazer uma repercussão positiva para os resultados de 2023.

Para o BTG Pactual, o negócio de atacado foi novamente o principal destaque, com ROE em 31,6% (vs. 24,4% no último trimestre e representando 60% do lucro total), enquanto o ROE no varejo caiu para 16,5% (vs. 18,1% no primeiro trimestre e 35% do lucro total).

“Depois de muitos anos com desempenho mais próximo da média, acreditamos que o Itaú merece o selo premium novamente. Negociando a 1,6x o BV mais recente e a 7,9x P/E 22, a ação ainda parece atraente”. concluiu o BTG Pactual, que aponta preço-alvo de R$ 32.

O Bank of America (BofA) espera uma reação positiva para as ações do Itaú Unibanco após a apresentação dos resultados do segundo trimestre de 2022 e revisão para cima do guidance anual, que reforçou sua posição positiva para o banco.

“Gostamos de um sólido impulso de ganhos e da avaliação atraente da ação, que é negociado atualmente a um múltiplo de 1,3 vez o seu preço por valor de mercado (P/BV) e entragando um ROE acima de 20%”, escreveram os analistas do BofA ao reiterar a compra do papel com preço-alvo de R$ 30,00.

O lucro líquido de R$ 7,7 bilhões ficou 4% acima do estimado pelo BofA, traduzindo ROE de 20,8%, sustentado por receitas acima do esperado (receita líquida com juros, taxas e seguros) compensando totalmente os maiores encargos de provisão e outras despesas. A qualidade dos ativos apresentou uma deterioração modesta, como esperado.

Segundo o BofA, o novo guidance incorpora maior receita líquida com juros (NII) com clientes e gera lucro líquido de R$ 31,7 bilhões, 4% acima do consenso de mercado.

Às 16h04 (horário de Brasília), o papel ITUB4 avançava 2,37%, negociado a R$ 25,84, na contramão do Ibovespa que recuava 0,21.

Com Cynara Escobar / Agência CMA.