Brasília – Após uma série de denúncias de tráfico de influência no Ministério da Educação (MEC), Milton Ribeiro pediu demissão, nesta segunda-feira, em reunião com o presidente Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto. O pedido de exoneração do ministro foi publicado em edição extra do Diário Oficial da União. A tendência é o secretário-executivo Victor Godoy Veiga assuma o MEC, mas o Centrão – grupo de partidos aliados do Palácio do Planalto – tem interesse no cargo.
Esta é a quinta mudança no Ministério da Educação no governo Bolsonaro. O primeiro ministro foi Ricardo Vélez Rodríguez, sucedido por Abraham Weintraub. Já Carlos Alberto Decotelli foi nomeado, mas não chegou a tomar posse devido a inconsistências em seu currículo. O cargo acabou nas mãos de Milton Ribeiro, pastor presbiteriano, que estava no cargo desde março de 2020.
Reportagens publicadas nos últimos dez dias revelaram que um grupo de pastores evangélicos teria poder sobre a agenda de Ribeiro, organizando encontros com prefeitos, e sobre a destinação de verbas do Ministério da Educação (MEC). Em um áudio publicado pela “Folha de S.Paulo”, o ministro diz que, a pedido do presidente, repassa verbas do ministério para municípios indicados por pastores.
Na semana passada, o presidente saiu em defesa de Ribeiro. Disse que as denúncias envolvendo Ribeiro são uma “covardia” e que colocaria “a cara no fogo” pelo ministro. As denúncias ganharam corpo nos últimos dias e Bolsonaro foi aconselhado a demitir Ribeiro, que perdeu apoio de parlamentares evangélicos.
O deputado Marco Feliciano (PL-SP) foi às redes sociais pedir a renúncia de Ribeiro, afirmando que os evangélicos estavam sangrando. “Caro ministro, por sua saúde emocional, por sua família, que deve estar sofrendo, por nós evangélicos, que estamos sendo triturados, pelo presidente, que, em um ano tão importante, está sendo arrastado para essa história estranha, não retarde seu licenciamento”, afirmou.
CARTA AOS BRASILEIROS
Depois de sair do Palácio do Planalto, onde se encontrou com Bolsonaro, Ribeiro divulgou uma “carta aos brasileiros”, na qual diz que deixa o governo para as denúncias sejam investigadas com profundidade. “Decidi solicitar ao presidente Bolsonaro a exoneração do cargo de ministro, a fim de que não paire nenhuma incerteza sobre minha conduta e do governo federal. Meu afastamento visa, mais do que tudo, deixar claro que quero uma investigação completa e isenta”, afirmou.
O ministro disse que tomou essa decisão “com o coração partido”. “Prezo pela verdade e sei que a verdade requer tempo para ser alcançada. Sei da minha responsabilidade política, que muito se difere da jurídica. Minha decisão decorre exclusivamente de meu senso de responsabilidade política e patriotismo, maior que quaisquer sentimentos pessoais”, completou Ribeiro, afirmando estar à disposição de Bolsonaro para “apoiá-lo em sua vitoriosa caminhada”.