PRÉVIA BCE: Apesar de guerra e inflação, banco ainda não deve aumentar juros

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São Paulo – A reunião do Banco Central Europeu (BCE) desta semana não deve trazer grandes mudanças na política monetária do banco. Especialistas não esperam um aumento de juros para o curto prazo, apesar das pressões causadas pela guerra na Ucrânia e pelo pico de inflação na Europa.
“A guerra e as sanções em curso contra a Rússia condenaram as perspectivas econômicas da zona do euro. No entanto, as probabilidades estão distorcidas para um tom mais agressivo do BCE na próxima reunião de política monetária desta semana, em meio ao aumento da inflação, mas não são esperadas mudanças nas taxas de juros”, diz a analista da CMC Markets, Tina Teng.
Na mesma linha, vai Matteo Cominetta, Economista Sênior no Barings Investment Institute. “Espera-se que o Banco Central Europeu deixe as grandes decisões, como a data da conclusão do QE e da primeira alta de juros, para a reunião de junho”, diz.
Os analistas do Danske Bank antecipam suas expectativas para um aumento da taxa de juros em Banco Central Europeu em um trimestre, esperando o primeiro aumento em setembro e outro em dezembro, cada um de 25 pontos base. Esta previsão revisada vem na esteira dos comentários recentes dos membros do Conselho do BCE, atas agressivas e surpresas da inflação, diz Piet Haines Christiansen, estrategista-chefe da Danske.
Além de 2022, Christiansen não espera um ciclo prolongado de alta da taxa de juros em 2023 porque espera inflação voltasse à meta. Além disso, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) também terá contribuído a um aperto significativo das condições de financiamento global até então, piorando as perspectivas econômicas, ele diz.
“Mesmo assim, ao decidir sobre as subidas das taxas de juro, o BCE agirá com cuidado para evitar a fragmentação dos mercados de títulos da zona do euro e a transmissão da política monetária”, continua Comineta.
O recente salto na inflação foi visto predominantemente nos preços da energia, após o choque de preços observado no início de março, quando a guerra na Ucrânia começou. As preocupações com a disponibilidade de energia, especialmente para petróleo e gás, resultaram em outro pico.
Em sua última reunião em março, o BCE disse que aceleraria o fim do estímulo à compra de títulos, com o objetivo de encerrar o programa no terceiro trimestre. Um aumento da taxa de juros – o primeiro do BCE em mais de uma década – ocorreria “algum tempo” depois disso, afirmou o banco.
Entretanto, desde então os preços continuaram a subir, com os custos de energia, commodities e alimentos subindo após a guerra na Ucrânia, aumentando os temores de que o conflito atrapalhe uma recuperação após a crise causada pela pandemia.
“Quanto às expectativas de inflação, o risco é que a inflação corrente elevada se enraíze nas expectativas futuras, resultando em trajetórias divergentes entre os países, dificultando de qualquer maneira o trabalho do BCE”, observam os economistas do ING, Bert Colijn e Carsten Brzeski.
Jack Allen-Reynolds, economista sênior da Capital Economics, ressalta que “por enquanto, é improvável que haja mudanças em sua mensagem de que as compras líquidas de ativos devem terminar no terceiro trimestre, mas os formuladores de políticas terão que admitir que a inflação foi muito mais forte do que o esperado e parece permanecer bem acima da meta por um longo tempo”.
Bas van Geffen e Elwin de Groot, analistas da RoboBank, esperam que o BCE confirme que o programa TLTRO-III não será estendido após junho. Tanto as taxas de juros quanto o programa de compra de ativos (APP na sigla em inglês) provavelmente permanecerão inalterados, dizem. “Esperamos que o BCE anuncie o fim das compras líquidas em junho e atualmente assume zero compras líquidas no terceiro trimestre”, preveem os especialistas.
Embora não sejam esperadas grandes mudanças de política na quinta-feira, as declarações da chefe do BCE, Christine Lagarde, serão vasculhadas em busca de pistas de que o banco está mudando para um modo mais agressivo de combate à inflação.