São Paulo – O primeiro dia da Cúpula de Líderes sobre o Clima, organizada pelo presidente norte-americano, Joe Biden, chegou ao fim com autoridades ao redor do mundo alertando para os riscos que as mudanças climáticas representam para a economia global e com metas ambiciosas por parte das maiores economias do mundo.
O anfitrião, Joe Biden, abriu o evento alertando que o custo da inação diante das mudanças climáticas aumentará, por isso, seu país está determinado a agir. O presidente norte-americano prometeu que os Estados Unidos reduzirão as emissões de gases de efeito estufa pela metade até 2030 em relação aos níveis de 2005 e atingirão a neutralidade nas emissões líquidas até 2050.
Um dia antes, a União Europeia assumiu compromisso tão ambicioso quanto o norte-americano: colocar o bloco de 27 nações no caminho para ser neutro para o clima até 2050, com seus membros e o parlamento concordando com metas obrigatórias para as emissões de carbono.
Além disso, a UE chegou a um acordo para reduzir as emissões líquidas de gases de efeito estufa em pelo menos 55% até 2030, em comparação com os níveis de 1990. Esse objetivo se tornará uma obrigação legal para o bloco e seus membros.
O Brasil não ficou de fora do evento e assumiu o compromisso de eliminar o desmatamento ilegal até 2030 com a aplicação do Código Florestal, e que isso ajudará a reduzir as emissões brasileiras de gases causadores do efeito estufa pela metade.
Em seu discurso, o presidente Jair Bolsonaro tentou mitigar as críticas voltadas ao governo brasileiro pelo aumento dos incêndios florestais ao longo dos últimos dois anos, que colocaram o país no centro das atenções de alguns parceiros do G-20 (grupo que reúne economias mais industrializadas e países emergentes).
Para isso, Bolsonaro disse que o Brasil está na vanguarda da luta contra o aquecimento global e ressaltou que o país possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo – amplamente voltada à geração de eletricidade via usinas hidrelétricas – e que há anos usa combustíveis renováveis para abastecer o transporte local.
Cerca de 40 autoridades participaram do evento virtual organizado pelos Estados Unidos e que foi considerado uma prévia da COP26, a cúpula do clima que será sediada em Glasgow em novembro deste ano.
O presidente chinês, Xi Jinping, pediu que os países trabalhem juntos no combate às mudanças climáticas, mas que as nações mais desenvolvidas tivessem metas mais ambiciosas para combater o efeito estufa. Já o presidente russo, Vladimir Putin, disse que seu país estava disposto a trabalhar com a comunidade internacional em questões climáticas, mas evitou estabelecer metas na direção de uma economia mais verde.
Já a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, defendeu a adoção de um piso internacional para o preço do carbono como uma ferramenta essencial no combate às mudanças climáticas. Segundo ela, um preço firme do carbono é necessário para fazer com que as emissões globais sejam reduzidas em linha com os objetivos do acordo do clima de Paris, de 2015.
Entre os latinos, o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, aproveitou a oportunidade para vincular a questão da imigração da América Central, que preocupa os Estados Unidos, com o cuidado com o meio ambiente.
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, insistiu na necessidade da comunidade internacional fornecer fundos às nações mais pobres para combater as mudanças climáticas. Nesse caminho, destacou a necessidade de processos ágeis e transparentes de acesso a fundos, bem como mecanismos como a troca da dívida externa por ações climáticas, proposta também por seu homólogo colombiano, Iván Duque.
Enquanto isso, o presidente chileno, Sebastián Piñera, pediu o estabelecimento de zonas de proteção marítima no continente Antártico para conservar a biodiversidade frente aos efeitos das mudanças climáticas.
Das Nações Unidas (ONU), a mensagem foi forte: o mundo está em alerta vermelho. O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que os perigosos gases do efeito estufa estão em níveis nunca vistos em três milhões de anos, e que a temperatura global subiu 1,2 grau Celsius e está caminhando para o limiar da catástrofe.
Por isso, ele reiterou a necessidade de ação imediata dos líderes para fazer da década atual uma década de transformação.
A cúpula deve continuar amanhã em seu segundo e último dia e, segundo John Kerry, o enviado especial do presidente norte-americano para questões climáticas, os debates devem se concentrar em financiamento para uma economia mais verde e contará com a participação de executivos como Bill Gates.