São Paulo – Durante a reunião do Banco Central Europeu (BCE) nos dias 16 e 17 de outubro, os membros do Comitê Executivo decidiram reduzir o grau de restrição da política monetária, com um corte de 0,25 ponto percentual (pp) nas três principais taxas de juros. De acordo com a ata da reunião, divulgada nesta quinta-feira, “os dados recebidos tornaram desafiador para os participantes do mercado precificar a velocidade e a extensão da desinflação e do ciclo de flexibilização da política monetária”.
Esse desafio foi exacerbado por uma série de fatores, como uma “economia lenta da área do euro, uma economia robusta dos EUA e preços crescentes e voláteis das commodities”. Esses elementos causaram uma reavaliação nas expectativas do mercado, especialmente nos Estados Unidos, onde as expectativas em relação à taxa de política monetária terminal “foram muito mais pronunciadas”. No caso do BCE, as expectativas também foram ajustadas para cima, embora de maneira menos acentuada, refletindo os dados econômicos mais fracos da zona do euro.
Apesar da incerteza nos mercados, com uma alta dispersão nas previsões para as taxas de juros futuras, os membros do BCE observaram que o processo de desinflação seguia no caminho certo. A ata destaca que “a inflação convergiria para a meta de inflação de médio prazo de 2% em tempo hábil” e que havia uma “confiança crescente de que o processo desinflacionário estava bem encaminhado”. A análise dos dados mais recentes indicou que a inflação havia caído abaixo da meta temporariamente, um movimento que foi atribuído principalmente à queda dos preços da energia. Contudo, “a queda em setembro, principalmente ligada aos preços mais baixos da energia, era insuficiente por si só para justificar um corte na taxa”.
Outro aspecto relevante destacado na ata foi o desempenho do mercado de trabalho e o crescimento salarial, que se mantiveram alinhados com as projeções, mas com algumas áreas, como a inflação nos serviços, ainda acima da meta de 2%. De acordo com os membros, embora a inflação doméstica fosse superior a 2%, o BCE se sentia confortável com as projeções de inflação, que estavam bem ancoradas em cerca de 2%.
A ata indica que, se a desaceleração econômica e a surpresa negativa na inflação se provassem temporárias, “uma decisão de cortar as taxas agora poderia acabar sendo meramente uma antecipação de um corte de dezembro”. Além disso, a redução das taxas seria justificada, caso a fraqueza nos dados recentes sinalizasse uma desaceleração mais persistente. “Se os dados recentes sinalizassem uma fraqueza mais persistente… o corte hoje seria justificado como um ajuste oportuno da política às mudanças nas condições macroeconômicas.”
A medida foi amplamente apoiada pelos membros, que destacaram que a decisão de agir agora era parte de uma estratégia de prevenção a riscos de queda. A ata observa que “havia pouco risco associado ao corte, especialmente considerando que as taxas de juros permaneceriam em território restritivo e continuariam a apoiar o processo desinflacionário”. A estratégia de reduzir o grau de restrição sem prejudicar a economia real mais do que o necessário foi reiterada, com todos os membros apoiando a proposta de redução da taxa de juros.
Alguns membros expressaram inicialmente a preferência por “acumular mais informações e esperar até dezembro”, quando uma avaliação mais abrangente da perspectiva de médio prazo para a inflação seria possível. No entanto, a argumentação de que o corte poderia ser uma medida preventiva diante de possíveis riscos foi suficiente para garantir a decisão de corte.
O BCE reafirmou seu compromisso com a meta de inflação de 2% no médio prazo. “Os membros enfatizaram que permaneceriam determinados a garantir que a inflação retornaria à meta de médio prazo de 2% em tempo hábil” e que as taxas de juros seriam mantidas suficientemente restritivas até que isso fosse alcançado. Além disso, a abordagem continuaria a ser “dependente de dados” e “reunião por reunião”. A ata também sublinhou que a velocidade com que as taxas de juros seriam reduzidas dependeria da evolução dos dados, com o BCE sendo cauteloso à medida que se aproximava do território neutro da política monetária.