Proteção de dados é desafio da digitalização do sistema de intermediação financeira, diz Campos Neto

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São Paulo – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a instituição trabalha para ter um sistema de intermediação financeira mais digital, que eleve a concorrência. Em apresentação no evento Valor Capital’s Crypto Workshop, organizado pelo Valor Capital Group, LLC, em São Paulo, ele falou sobre o Pix, o sistema brasileiro de transferências em tempo real, e o projeto do Real Digital.

“Estamos tentando atingir um regime de intermediação mais digital. Isso aumenta a competitividade”, pontuou Campos Neto. “No Brasil, um dos principais desafios para se ter um sistema de intermediação mais eficiente é a proteção de dados.”

O presidente do BC também tratou do atual estágio de desenvolvimento tecnológico na área financeira e disse que o Brasil tem mais facilidade de implementar um sistema de transações e de moeda digital por que tem menos bancos e só um regulador, enquanto os EUA tem cinco reguladores e um sistema financeiro muito mais complexo e com muito mais bancos.

Segundo ele, há um ano havia pessimismo sobre como conectar os diferentes sistemas de cada país, mas houve um “grande avanço” na tecnologia para conexão. “O que devemos pensar é em conectar os diferentes sistemas que nós temos”, disse.

Campos Neto disse que o Pix vinha sendo discutido há mais de dez anos, mas só ganhou tração durante a pandemia. Em sua apresentação, o presidente do BC disse que o modelo brasileiro de “Open Finance” é uma referência mundial.

Campos Neto defendeu ainda que o avanço do setor não está ligado apenas ao uso de ferramentas como o Pix. Para ele, o futuro passa pela utilização de contratos. Ele citou como exemplo a venda de automóveis, que hoje exige um tempo maior para o recebimento do pagamento e a transferência do bem e poderia ter um contrato para fazer isso de forma automática. “Para nós, o pagamento digital é uma pequena parte do que estamos tentando fazer.”

Sobre o Real Digital, Campos Neto disse que o projeto está entrando em uma nova fase, com a simulação de operações de varejo, fracionamento de ativos e acesso a serviços através de instituições financeiras e de pagamentos. Os objetivos do projeto piloto são desenvolver uma moeda digital brasileira e promover a participação da sociedade nesse debate.

O projeto piloto do Real Digital foi lançado em março de 2022 e tem 14 instituições financeiras selecionadas, entre 36 propostas recebidas. O Piloto RD é a fase de testes para operações com o Real Digital, em um ambiente simulado, sem envolver transações ou valores reais. Nessa etapa, o Banco Central avaliará os benefícios da programabilidade de uma plataforma de tecnologia de registro distribuído (Distributed Ledger Tecnology – DLT) multiativo para operações com ativos tokenizados.

O presidente do BC disse que o tema moeda digital de banco central (da sigla em inglês CBDC, Central Bank Digital Currency) tem chamado a atenção de diversos bancos centrais e que uma parte significativa deles está estudando, explorando ou testando projetos, aspectos operacionais e tecnológicos de um sistema de moeda digital.

O BC afirma que as CBDCs podem melhorar a eficiência do mercado de pagamentos de varejo e promover a competição e a inclusão financeira para a população com pouco ou nenhum acesso a serviços bancários. “A crise da pandemia mostrou a importância de meios digitais de pagamentos chegarem à população mais vulnerável”, diz a autoridade monetária