São Paulo – A reunião da bancada do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara dos Deputados para discutir a eleição para a presidência da Casa no ano que vem terminou sem consenso – uma parte do grupo defende o apoio à candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP), enquanto outra ala quer lançar um candidato próprio dos partidos de oposição.
“Na nossa bancada ainda tem setores que defendem que tenhamos dentro do bloco candidatura própria, do campo da oposição, e outros setores que defendem apoio imediato a Baleia Rossi. Teremos outra reunião de bancada em 4 de janeiro”, disse o líder da bancada do PT na Câmara, Enio Verri (PR).
À Agência CMA, ele explicou que, para a ala do PT favorável ao lançamento de uma candidatura da oposição para a presidência da Câmara, isso ajudaria a manter elevado o grau de fidelidade do bloco de onze partidos que fará contraponto ao candidato do governo, o deputado Arthur Lira (PP-AL).
Isso porque neste bloco que atualmente gravita em torno da candidatura de Baleia Rossi há partidos de diferentes partes do espectro político e que historicamente são rivais – o PSDB, por exemplo, faz parte do grupo e foi a principal sigla de oposição aos governos do PT.
Por isso, uma ala da bancada petista considera recomendável um candidato próprio. Para eles, isso permitiria aos deputados do bloco contrário a Lira se unir em torno do nome mais forte no primeiro turno – com Rossi ou o candidato da oposição desistindo de concorrer à véspera da eleição – ou no segundo turno – votando em quem preferirem na primeira rodada e se unindo em prol de um só nome na segunda rodada.
O grupo do PT que defende o apoio a Rossi, sem candidatura própria da oposição, considera que essa é a melhor estratégia justamente porque não divide o eleitorado, segundo Verri. Para esta ala, vale mais a pena concentrar as energias em Rossi e vencer a eleição para a presidência da Câmara no primeiro turno, principalmente porque a essência dos partidos que estão gravitando em torno de Rossi é derrotar o candidato do presidente Jair Bolsonaro.
TRATATIVAS
Ontem, os partidos de oposição na Câmara – PSB, PDT e PCdoB, além do PT – reuniram-se com Rossi, candidato apoiado pelo atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e apresentaram uma “carta-compromisso” em que cobram, entre outras coisas, que a mesa diretora eleita a partir do ano que vem aprecie projetos para impedir que o Planalto exceda seu poder regulamentar e instale Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) “quando seus requisitos constitucionais tiverem sido observados”.
A oposição também quer que a próxima presidência respeite à risca o processo legislativo e o regimento – algo que garantiria o poder de obstrução da pauta da Câmara – e garanta a proporcionalidade na distribuição de relatoria das matérias que tramitam na Casa.
Os partidos da oposição também defenderam o acesso à vacina contra a covid-19 a todos, o direito à subsistência, ao emprego e a uma renda mínima e a adoção de medidas emergenciais “que garantam o sustento de nossa população, sua segurança alimentar, bem como outras medidas que permitam fazer nossa economia voltar a crescer, gerando oportunidades de trabalho para todos e todas”.
O PT também discutiu na reunião de hoje os termos apresentados na carta-compromisso entregue a Rossi. Segundo Verri, a expectativa é de que o PT apresente acréscimos à carta.
A eleição para a presidência da Câmara dos Deputados acontece apenas em 2021, mas o assunto tem interferido no andamento das pautas desde outubro – primeiro porque havia dúvida sobre a possibilidade de reeleição de Maia, depois porque, afastada esta hipótese, os partidos começaram a se articular para definir quem concorreria com Lira, candidato do governo e líder do bloco do centrão, que conta com 138 assentos na Casa.
Se todos os deputados do DEM e do MDB votarem a favor de Rossi, ele teria 62 votos. Isso, somado aos votos do PSDB (31 deputados) e do Cidadania (8), ainda deixaria o candidato em desvantagem em relação a Lira, por isso a aliança com os partidos da oposição importa neste caso.
Os quatro partidos opositores ao governo do presidente Jair Bolsonaro e que conversaram ontem com Rossi detêm 121 assentos na Câmara. Se embarcarem na candidatura, o total de votos a favor do líder do MDB pularia para 222.
Sem o PT, porém, este número cairia a 169 votos, considerando a remota hipótese de que todos os demais partidos seguiriam apoiando Rossi mesmo se houvesse candidato próprio da oposição. Além disso, uma chapa puramente de oposição começaria com 121 votos, número levemente maior que o detido por Rossi quando excluídos os votos dos partidos opositores.