Realização faz Bolsa cair e dólar subir no último pregão do mês

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São Paulo – O Ibovespa fechou em queda de 1,52%, aos 108.893,32 pontos, com investidores embolsando lucros em meio às perdas de Bolsas norte-americanas e ao aumento das restrições de circulação social no estado de São Paulo, após ganhos expressivos em novembro. O volume total negociado foi de R$ 49,5 bilhões.

Porém, mesmo com a queda de hoje, o índice encerrou novembro com a maior alta mensal desde março de 2016 (+16,97%), registrando valorização de 15,90%. Com isso, o Ibovespa reduziu a queda no acumulado do ano para apenas 4,38% e pode buscar zerar as perdas em dezembro.

“A queda de hoje é uma realização de lucros natural e teve a volta da fase amarela em São Paulo, além de continuarem preocupações com a covid-19”, disse o analista da Terra Investimentos, Régis Chinchila.

Para o analista da Mirae Asset Corretora, Pedro Galdi, a queda de hoje também é normal depois de o Ibovespa registrar “um ganho acumulado muito forte no mês” e não é “representativa”.

O governo do estado confirmou hoje que São Paulo voltará para a fase amarela do plano adotado durante a pandemia, o que significa que a circulação de pessoas será mais restritiva, com medidas para evitar aglomerações, mas não chegando a fechar o comércio e restaurantes. Os estabelecimentos passam a poder ter 40% de ocupação e não mais 60%, por exemplo.

Já no exterior, Bolsas norte-americanas também recuaram em meio ao aumento de hospitalizações por casos de covid-19 e restrições de circulação na cidade de Los Angeles. Além disso, o presidente norte-americano Donald Trump emitiu uma ordem que visa impedir investidores de comprar títulos de empresas listadas como controladas pelo exército da China.

Por outro lado, notícias sobre vacinas seguem positivas. Hoje, a Moderna anunciou que a sua vacina tem eficácia de 94,1% de acordo com novos dados e que pedirá hoje autorização para ser usada em território norte-americano. Trata-se da segunda empresa, depois da Pfizer, a pedir autorização no país, o que pode levar ao início da vacinação ainda este mês.

Entre as ações, as maiores quedas do Ibovespa foram da B2W (BTOW3 -8,10%), Cielo (CIEL3 -5,66%) e da Cosan (CSAN3 -5,58%). Na contramão, as maiores altas foram do Carrefour (CRFB3 3,60%), Yduqs (YDUQ3 3,60%) e da Azul (AZUL4 3,06%), que se recuperaram de perdas recentes.

Para dezembro, o analista da Terra acredita que as expectativas são positivas para a Bolsa, que pode manter o tom positivo do mês, embora não com a mesma força. “A motivação do mês pode ser tentar fechar 2020 no zero a zero, sem perdas no ano. Pelo volume de investidores estrangeiros que entrou em novembro dezembro, o índice pode ter sustentação”, disse.

Um dos motivos para a alta expressiva de novembro foi a volta de investidores estrangeiros para a Bolsa brasileira e para países emergentes depois da definição nas eleições norte-americanas e notícias positivas sobre vacinas.

Porém, investidores ainda aguardam definições sobre a questão fiscal no Brasil, o que pode se manter com o calendário apertado no Congresso. Um dos pontos de atenção é votação do orçamento de 2021.

O dólar comercial fechou em alta de 0,39% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3480 para venda, em sessão de forte volatilidade em meio à disputa pela formação de preço da taxa Ptax – média das cotações apuradas pelo Banco Central (BC) – de fim de mês e acompanhando o exterior onde a moeda estrangeira ganhou terreno com ajustes e novas sanções dos Estados Unidos contra a China.

O analista de câmbio da Correparti, Ricardo Gomes Filho, destaca que a forte volatilidade da moeda na sessão com a “briga” da Ptax, que contou com “os vendidos mais fortes”. Após a formação de preço da taxa, a moeda recuperou valor em linha com o exterior, chegando a operar na máxima de R$ 5,40.

“Fatores como o crescimento dos temores geopolíticos entre norte-americanos e chineses e o contínuo avanço da pandemia [do novo coronavírus] pelo mundo contribuíram para a maior procura pelo dólar”, explica. O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos anunciou uma nova rodada de sanções contra empresas do país asiático, visando aquelas que teriam apoiado o governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro.

No mês, a moeda se desvalorizou em 6,81%, na maior queda percentual mensal desde outubro de 2018 – quando recuou 8,10% – e interrompeu a sequência de três meses seguidos de alta. “O mês foi positivo com o crescimento do apetite ao risco no mundo influenciado pela eleição de Joe Biden [presidente eleito nos Estados Unidos]. Além de Biden trazer menos instabilidade, as perspectivas de mais estímulos monetários agregaram valor com o forte desempenho de vários ativos de risco. A esperança com a aproximação da vacina também ajudou”, comenta o diretor da corretora Mirae Asset, Pablo Spyer.

Spyer acrescenta que o mês também foi marcado pela queda do risco-país, medido pelos swaps de default de crédito (CDS, na sigla em inglês), que hoje ficou ao redor de 237 pontos. No início do mês, o CDS estava um pouco abaixo de 300 pontos.

O economista-chefe do Modalmais, Alvaro Bandeira, ressalta o desempenho dos investidores estrangeiros na bolsa brasileira (B3), com a entrada líquida de recursos de R$ 31,4 bilhões no mês até o dia 26. “O fluxo cambial pelo canal financeiro está positivo em US$ 5,6 bilhões até o dia 20”, diz.

Em dezembro, o economista da Tendências Consultoria, Silvio Campos, pondera que, visto o cenário global, o pano de fundo é positivo para os ativos. Porém, a situação fiscal doméstica pode se sobrepor a esse cenário positivo, já que o mercado espera respostas do governo federal sobre a pauta com o fim das eleições municipais. “E enquanto não há definições, a cautela local seguirá presente”, diz.

Amanhã, a agenda estará carregada de indicadores de atividade na Europa e nos Estados Unidos com dados da produção industrial, no qual o mercado estará atento aos impactos da adoção de novas medidas de isolamento social ao longo de novembro, principalmente, nos principais países europeus.

As taxas dos contratos de juros futuros encerraram a sessão em alta, reincorporando parte dos prêmios retirados recentemente, em meio aos riscos fiscais e inflacionários. O anúncio de que a cidade de São Paulo vai regredir para a fase amarela do plano de combate à disseminação do coronavírus também pesou nos negócios, elevando a expectativa dos investidores por avanço no front político.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 3,31%, de 3,27% no ajuste anterior na última sexta-feira; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 5,00%, de 4,93% após o ajuste ao final da semana passada; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,77%, de 6,70%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,55%, de 7,49%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano terminaram a sessão em queda, com os investidores realizando lucros, mas registraram os maiores ganhos mensais desde 1987.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -0,91%, 29.638,64 pontos

Nasdaq Composto: -0,06%, 12.1998,73 pontos

S&P 500: -0,45%, 3.621,63 pontos