São Paulo – O Federal Reserve (Fed) iniciará a redução do seu programa de compra de ativos antes de qualquer ajuste na taxa básica de juros, mas isso só acontecerá quando a economia norte-americana tiver se recuperado completamente dos efeitos da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, segundo o presidente do banco central do país, Jerome Powell.
“Provavelmente vamos diminuir o ritmo da compra de títulos bem antes do momento em que consideraríamos aumentar a taxa de juros”, disse ele durante evento virtual do Clube Econômico de Washington. “É muito improvável que elevemos a taxa de juros neste ano”, acrescentou.
Segundo Powell, o tamanho atual do balanço do Fed está entre US$ 7,5 trilhões e US$ 8,0 trilhões. “Nosso balanço hoje é de US$ 7,7 trilhões ou US$ 7,8 trilhões”, afirmou.
O comitê de política monetária cortou a taxa de juros para o nível atual de zero a 0,25% ao ano em março do ano passado em conjunto com uma série de medidas para apoiar a economia dos Estados Unidos a atravessar a crise provocada pela pandemia. Na ocasião, o Fed retomou a compra de ativos, hoje em US$ 120 bilhões mensais, e lançou programas emergenciais de crédito.
“As últimas projeções dos membros do comitê mostraram que não haverá aumento da taxa de juros até 2024, mas essas são projeções e não tomamos nossas decisões baseados em projeções. O mercado presta mais atenção do que deveria no nosso gráfico de pontos”, afirmou ele.
Em ocasiões anteriores, Powell já havia mencionado que o banco central deseja ver progressos reais da economia antes de tomar qualquer decisão sobre o ajuste da política monetária e, quando chegar o momento da mudança, avisará o público com antecedência para evitar surpresas e instabilidade.
No entanto, há no mercado a expectativa de que a recuperação mais rápida do que o esperado da economia graças às medidas de estímulos e ao processo de vacinação contra a covid-19 leve a uma aceleração da inflação que forçará o Fed a ajustar sua taxa de juros próxima de zero. Esse movimento levou a um salto nos juros dos títulos do Tesouro.
“Vamos permitir que a inflação fique acima da meta de 2% para compensar os períodos em que esteve abaixo desse patamar”, disse Powell. “Queremos ver a inflação na média de 2% ao longo do tempo”, acrescentou.
Em agosto do ano passado, o Fed anunciou uma nova estratégia para inflação, permitindo que a taxa supere a meta de 2% ao ano para compensar períodos em que esteve mais baixa. Na ocasião, o banco central norte-americano também anunciou que a queda da taxa de desemprego não seria mais um gatilho para a alta da taxa básica de juros.
“Temos visto que a queda da taxa de desemprego não é mais um gatilho para a aceleração da inflação nos Estados Unidos”, afirmou Powell.
A economia norte-americana criou 916 mil vagas em março e a taxa de desemprego caiu de 6,2% para 6,0%. Apesar do forte ritmo de recuperação do mercado de trabalho do país, os salários não têm subido com a mesma força assim com a inflação. O índice de preços para os gastos pessoais (PCE) – medida preferida do Fed para a inflação – subiu 1,6% em fevereiro, após uma alta de 1,4% em janeiro.