São Paulo – A redução da taxa Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira, de 13.25% para 12,75% ao ano, anunciada ontem (20) pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil, é positiva para o investimento na Bolsa e pode afetar o mercado de ações, com efeitos diretos e indiretos no preço dos ativos da Bolsa brasileira, segundo analistas.
Diante do interesse dos investidores à forma como as variações na taxa básica de juros da economia brasileira podem influenciar o mercado de ações, a Nova Futura Investimentos cita, entre os fatores que podem impactar a avaliação dos papéis estão custo de oportunidade, desconto de fluxo de caixa, impacto no endividamento das empresas e nas expectativas dos investidores.
Em relação ao desconto de fluxo de caixa, por exemplo, como as empresas são avaliadas com base em seus fluxos de caixa futuros, quando a taxa Selic sobe, a taxa de desconto utilizada para trazer esses fluxos de caixa futuros a valor presente também aumenta. “Isso pode resultar em uma redução no valor justo das ações, uma vez que os fluxos de caixa futuros são menos “valiosos” quando descontados a uma taxa mais alta”, diz o artigo assinado pela analista de investimentos da Nova Futura, Bruna Sene. “Essa estimativa faz parte de análises fundamentalistas que buscam encontrar o preço justo para uma ação”, acrescenta.
Por outro lado, a queda das taxas de juros reduz a taxa de desconto usada na análise de fluxo de caixa descontado (DCF). Isso aumenta o valor presente dos fluxos de caixa futuros esperados da empresa, o que pode resultar em um aumento no preço de suas ações. “Vale lembrar que esse fato não tem impacto direto no preço dos ativos negociados no mercado, visto que o que movimenta uma ação é a oferta e demanda por essa ação, e não a análise fundamentalista em si. Porém, se é um fator que pode influenciar na decisão de grandes players do mercado, pode ter um impacto indireto no preço das ações.”
A análise ressalta que é sempre recomendável que o investidor tenha uma estratégia muito bem definida antes de comprar e vender ativos no mercado financeiro, e até mesmo contar com a orientação de profissionais financeiros e analistas de mercado ao tomar suas decisões de investimento. “A relação entre a taxa Selic e o mercado de ações é complexa e envolve diversos mecanismos. É importante que os investidores compreendam como essas variáveis estão interconectadas para tomar decisões conscientes. Vale ressaltar que o mercado de ações é complexo e é influenciado por uma variedade de fatores, como notícias econômicas, eventos globais, tendências de mercado e outros indicadores. As taxas de juros não são o único fator que afeta os preços das ações, e as reações podem variar de empresa para empresa e de setor para setor”, conclui.
Na mesma linha, Rachel de Sá, chefe de economia da Rico, comenta que, após a redução da Selic pelo Copom, o cenário abre espaço para investimentos relativamente mais arriscados, mas não elimina a importância da renda fixa. “A Selic deve seguir caindo, e isso é positivo para a bolsa. Independente de acertarmos “em cheio” os próximos passos do Copom, entendemos que estamos em um processo de redução dos juros. Esse movimento tende a abrir a porta para investimentos que apresentem maior nível de risco, especialmente em ações considerando sempre o perfil de risco de cada cliente.”
Isso porque juros menores ajudam a reduzir o custo de capital para as empresas nos modelos de analistas (aumentando o preço justo de ações), elevam os seus lucros por conta da queda nas despesas financeiras, e melhoram a saúde financeira das empresas que têm dívida alta e precisam de novos financiamentos, comenta a economista da Rico.
Em outra análise, a XP Investimentos apontou que os melhores setores para investir com a queda da Selic a 12,75%, na sua avaliação, são: Agronegócio, Alimentos e Bebidas; Bancos e Instituições Financeiras; Varejo; Transporte; Tecnologia, Mídia e Telecomunicações (TMT) Elétricas e Saneamento. A XP também avalia que também podem ser beneficiadas pelo anúncio do Copom as ações das companhias M.Dias Branco (MDIA3), 3Tentos (TTEN3), Jalles Machado (JALL3), Méliuz (CASH3), Grupo Mateus (GMAT3), Vulcabras (VULC3), C&A (CEAB3), GPA (PCAR3), Petz (PETZ3), Locaweb (LWSA3), Positivo (POSI3), Ecorodovias (ECOR3) e Azul (AZUL4). O time de analistas da XP também prefere os fatores Small Caps, Alto Risco, Alto Crescimento e Forte Momentum para investir ações após a queda da taxa de juros brasileira.