Risco fiscal faz Bolsa fechar em queda e dólar em alta

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São Paulo – O Ibovespa fechou em queda com a alta do setor bancário contrabalançando os temores fiscais, mas não em escala suficiente para evitar um leve recuo em um dia no qual o índice oscilou dentro de margens bastante estreitas e pouco mais de 1.700 pontos separaram a mínima da máxima intraday.

A partir do início da tarde, o índice começou a apagar as perdas que vinha sustentando desde a abertura da sessão e passou a ensaiar uma leve alta com os investidores colocando um pouco de lado os riscos fiscais para dar atenção à abertura dos debates sobre a independência do Banco Central na Câmara dos Deputados.

Entretanto, os riscos fiscais seguiram à espreita e pesaram sobre o índice na reta final dos negócios. Além disso, diante de um cenário de realização de lucros no exterior, o principal índice de ações da B3 passou por ajuste técnico, na avaliação de Pedro Galdi, analista da Mirae Asset. No fim das contas, o Ibovespa fechou em baixa de 0,18%, aos 119.471,62 pontos.

De acordo com analistas consultados pela Agência CMA, os investidores continuaram monitorando os riscos fiscais, mas a discussão sobre a independência da autoridade monetária em relação ao governo federal puxou principalmente as ações dos grandes players do setor bancário, neutralizando a aversão a risco.

O projeto de lei que prevê a autonomia do Banco Central foi aprovado pelo Senado no fim do ano passado e, segundo o novo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, o tema pode ser votado na casa ainda esta semana.

Entretanto, os investidores mostraram-se receosos com os mais recentes comentários do presidente Jair Bolsonaro em favor do retorno do auxílio emergencial. Apenas alguns dias depois de se comprometer com o teto de gastos durante evento promovido por um grande banco estrangeiro, o presidente disse ontem em entrevista a um canal de televisão que o auxílio emergencial pode voltar mesmo sem que haja contrapartidas. A fala presidencial teve o coro de Lira e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Segundo eles, o pagamento do auxílio emergencial ocorreria de forma “excepcional”, por fora do orçamento federal.

Com o cenário fiscal comprometido por causa da pandemia, a consequência mais provável da volta do benefício sem que haja cortes em outras áreas é o rompimento do teto de gastos, tão caro aos agentes do mercado financeiro.

Trata-se apenas do mais recente caso no qual o presidente, na tentativa de agradar a plateia do momento, verbaliza afirmações que se contradizem entre si, algo que tem incomodado investidores e analistas de mercado.

Na semana passada, horas depois de se comprometer com os caminhoneiros na tentativa de debelar uma ameaça de greve por causa da alta no preço do óleo diesel, Bolsonaro veio a público negar ingerência do governo na política de preços da Petrobras. Ontem e hoje, porém, os papéis da petrolífera estatal pagaram o preço da revelação de uma mudança recente na política de reajustes da empresa, registrando quedas acentuadas.

O dólar comercial fechou em alta de 0,18% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3820 para venda, em sessão de forte volatilidade, com investidores domésticos em busca de proteção em meio ao receio com a possibilidade de volta do pagamento de um novo auxílio emergencial e os riscos fiscais iminentes. Porém, duas intervenções do Banco Central (BC) limitaram os ganhos da moeda norte-americana na reta final dos negócios.

“Notícias vazadas sobre as intenções e a capacidade de os congressistas governistas encaminharem a aprovação do orçamento sem considerar algum auxílio emergencial por fora do teto, assustaram os operadores em parte da sessão”, comenta a equipe econômica do banco Fator.

O diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, destaca que a cautela política e fiscal sobre as discussões em torno de um novo auxílio emergencial, que pode ser “bancado” por um novo imposto, levou a moeda estrangeira para próximo de R$ 5,45 em movimento descolado do exterior, o que levou o BC a realizar dois leilões de swap cambial tradicional – equivalente à venda de dólar no mercado futuro. “Esse nível chamou o Banco Central para o mercado”, diz. A autoridade monetária colocou US$ 1,0 bilhão com as duas operações.

Amanhã, o destaque da agenda de indicadores fica por conta dos índices de preços ao consumidor na China – que será divulgado hoje à noite – e dos Estados Unidos, em janeiro, “dominando as atenções”, diz a equipe do banco Fator. O economista da Guide Investimentos, Alejandro Ortiz, acrescenta que a volatilidade tende a continuar “marcando presença” diante o contínuo risco fiscal e as incertezas políticas.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em alta, porém longe das máximas do dia, sendo pressionadas pelas discussões sobre a volta do auxílio emergencial, que elevaram o receio com o risco fiscal. As declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também pesaram, assim como o acúmulo de sinais de pressão inflacionária, apesar do resultado mais fraco que o esperado da inflação oficial ao consumidor brasileiro (IPCA) em janeiro e da perda de força do dólar, após dois leilões de swap cambial.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 3,405%, de 3,41% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,985%, de 4,945% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,46%, de 6,38%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,11%, de 7,03%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano fecharam em leve queda uma sessão marcada pela baixa volatilidade e por uma pausa nas negociações depois de sucessivos recordes. A exceção foi o Nasdaq, que subiu e terminou o dia acima de 14 mil pontos.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -0,03%, 31.375,83 pontos

Nasdaq Composto: +0,14%, 14.007,70 pontos

S&P 500: -0,11%, 3.911,23 pontos