Rumor de remédio para cura do coronavírus faz Bolsa subir

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São Paulo – O Ibovespa voltou a acelerar ganhos no fim do pregão seguindo as Bolsas norte-americanas e fechou em alta de 1,51%, aos 78.990.29 pontos. Notícias de que um novo remédio está tendo sucesso no combate ao coronavírus e o plano anunciado pelo governo dos Estados Unidos de volta às atividades animaram investidores.

No entanto, o índice teve volatilidade e chegou a operar em queda com a piora do clima político local, depois que o presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.

O volume negociado foi de R$ 19,7 bilhões, mostrando uma redução em relação a pregões anteriores. Na semana, o Ibovespa registrou leve alta, de 0,47%.

Para o economista-chefe do banco digital Modalmais, Alvaro Bandeira, os mercados no exterior tiveram um rally de alta em função do remédio para o covid-19 e a reabertura americana. No entanto, acredita que o Ibovespa teve que descontar a briga entre Bolsonaro e Maia, que “não é boa no meio da crise”.

Agências de notícias internacionais afirmam que a farmacêutica norte-americana Gilead Sciences pode ter descoberto um possível remédio para combater o vírus. Ontem, o presidente norte-americano, Donald Trump, também apresentou seu plano para a reabertura da economia dos Estados Unidos, que deve acontecer em três fases e, segundo ele, priorizará a saúde da população. Ainda não há prazo para a implementação do plano de reabertura e cada estado norte-americano poderá determinar quando começar o processo diante da evolução dos casos da doença na região.

No Brasil, há receio de que congressistas reajam à postura do presidente e que a votação de projetos do governo possa ser prejudicada. Bolsonaro fez duras críticas à Maia ontem, a quem acusou de querer tirá-lo do cargo. Em resposta, Maia afirmou que não há nenhuma intenção de prejudicar o governo e que não iria entrar em debate com o governo.

“O clima político está ruim, Bolsonaro não tem uma boa relação com o Maia não é de hoje, e subiu o tom nas críticas”, disse o analista da Necton Corretora, Gabriel Machado.

Entre as ações, as maiores altas do índice foram da Multiplan (MULT3 11,54%), da Localiza (RENT3 8,62%) e da Gerdau (GGBR4 6,30%). Na contramão, as maiores quedas foram das ações da Cosan (CSAN3 -5,41%), Hering (HGTX3 -4,90%) e da B2W (BTOW3 -4,48%).

Na semana que vem, investidores devem acompanhar balanços e indicadores que tragam sinais de impacto da pandemia, além de ficarem de olho na aprovação de medidas para combater efeitos do vírus no Brasil e na duração de quarentenas.

O dólar comercial fechou em queda de 0,30% no mercado à vista, cotado a R$ 5,2390 para venda, rompendo uma sequência de quatro altas seguidas, acompanhando o exterior onde a moeda estrangeira perdeu força na reta final da sessão levando moedas de países emergentes a avançarem.

O viés de cautela prevaleceu ao longo dos negócios antes do fim de semana e de um feriado local no início da semana que vem. Na semana em que a moeda completou um mês acima do patamar de R$ 5,00, a moeda se valorizou em 2,88%.

O diretor da Correparti, Ricardo Gomes, destaca que a sessão, mais uma vez, foi de volatilidade. Apesar de acompanhar o exterior, ele destaca que a política local foi pano de fundo em meio ao “acirramento” da crise entre o Planalto e o residente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.

“Foi mais um round da interminável queda de braço entre ambos que, inevitavelmente põe os investidores na defensiva, buscando refúgio na divisa estrangeira, ao mesmo tempo em que promovem a fuga de recursos do país, que tem crescido exponencialmente nas últimas semanas”, reforça.

No início da tarde, o Banco Central (BC) interveio mais uma vez no mercado com a oferta de swap cambial tradicional – venda de dólares no mercado futuro – com o volume aceito de US$ 500,0 milhões. “O leilão foi para arrefecer a demanda por hedge [proteção] já que a moeda operava próxima dos R$ 5,28”, acrescenta.

Na segunda-feira, à véspera do feriado local, a sessão deverá ser de liquidez reduzida e poucos negócios. “Na semana que vem, a agenda de indicadores também estará mais fraca. O ambiente político poderá pesar no preço”, diz o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa.

Rosa reforça, porém, que os índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) da indústria e de serviços na zona do euro e dos Estados Unidos devem indicador “o grau do impacto” da quarentena nos países. “Devem mostrar bem a retração econômica”, destaca.