Se Rússia e Ucrânia não tiverem humildade para conversar, não vai se encontrar uma solução, diz Lula

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no programa Conversa com o Presidente, que foi transmitido hoje (14) mais cedo, falou sobre o impasse na guerra na Ucrânia. “Não é possível que a Rússia e a Ucrânia tenham um momento para conversar e parar de se matar. Quanto os dois tiverem humildade e quiserem parar para conversar, vai se encontrar uma solução. Por enquanto os dois acham que vão ganhar a guerra”, afirmou.

Lula, ao falar do montante de investimentos que devem ser feitos no país, comparou com o que já foi gasto pelos países desenvolvidos em envio de armas e ajuda à Ucrânia em 2022. “Mais de US$ 2,24 trilhões em guerra foi que o mundo rico gastou em 2022. Não queremos gastar com guerra, e sim reverter para a nossa população”, afirmou.

Ele citou que não há apenas o que é gasto com guerra, mas há também o pós-guerra. “Além de gastar produzindo arma, quanto vai se gastar para reconstruir o país? É algo insensato, é desumano. O Brasil ajuda não tendo contencioso internacional com ninguém, queremos paz”.

O presidente falou também sobre a Cúpula da Amazônia, que aconteceu em Belém (PA) na semana anterior. “Não é fácil encontrar a solução definitiva para os problemas da Amazônia. Conseguimos preparar uma proposta, entre chefes de estado, movimentos sociais, que vai ser algo muito forte para levarmos para discutir para a COP 28 [que acontecerá nos Emirados Árabes em novembro]. Vamos discutir com mais seriedade sobre o assunto com os países ricos”.

Falando sobre os países desenvolvidos, Lula reforçou o discurso de que eles devem contribuir para a restauração das florestas. “Não basta ver a copa das árvores, e sim quem mora embaixo delas, são 50 milhões de pessoas que vivem nos países da região amazônica, só no Brasil são 38 milhões. Os países ricos tiveram sua introdução na revolução industrial bem antes do Brasil, e agora o que eles têm que fazer é contribuir financeiramente para que a gente possa se desenvolver, é como se eles devessem à humanidade”.

Para Lula, a união dos países que possuem florestas tropicais vai possibilitar que eles consigam negociar com o mundo desenvolvido e ter mais condições de se negociar ajuda. “Temos condições de chegar nos Emirados Árabes e dizer que eles têm compromisso de contribuir para manter as florestas e pagar pelo que fizeram ao desenvolver sua indústria. Não estamos precisando de favor, e sim em contribuição sobre o que já fizeram com o planeta. Todos os países têm o direito a se desenvolver”.

A respeito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado oficialmente na última sexta-feira em um evento no Rio de Janeiro, Lula disse que o projeto será um dos motores do crescimento do país. “Queremos cumprir as metas que estabelecemos no PAC. Queremos ter os PPPs para que os empresários podem participar do processo de crescimento do Brasil”.

Segundo o presidente, as obras do PAC podem se combinar com a do desenvolvimento sustentável na região amazônica ele lembrou uma das falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no evento, a que o trabalho do ministério da Fazenda combina com o do Meio Ambiente.

“A questão da transição ecológica vai ser tratada como parte do desenvolvimento do país. Transição não é gasto, o Haddad mostrou que é possível que ela possa trazer dinheiro de fora para investimento no Brasil”.

Sobre as mudanças climáticas ainda, Lula disse que os eventos climáticos extremos se intensificaram, e que é necessário tomar providências para frear esse processo. “O planeta está ficando mais quente. Se temos chance de parar para melhorar e recuperar a temperatura normal, vamos fazer. Todo mundo tem essa consciência. O problema é que alguns têm que ceder mais do que outros. Quem participou da revolução industrial está poluindo o mundo há 200 anos, e tem que se convencer disso, que eles precisam pagar para recuperar o que já foi destruído”.

Já sobre a democracia no país, Lula reafirmou que o diálogo deve ser contínuo. “A democracia não é um pacto de silencio, não é pensamento único. A democracia é uma sociedade viva, em alerta, que reivindica, que briga, que luta, que cobra. Quanto mais forte for a democracia, quanto mais se reivindica, mais forte ela será”.

A respeito das negociações com outros partidos para se ter governabilidade, Lula disse que esse é um processo normal na democracia. “O ideal é que se ganhasse a eleição com partido sozinho, ou um grupo de aliados ganhasse e tivesse maioria. Mas o que acontece é que os aliados não estão em maioria. Precisamos conversar, e conversar com quem tem voto. Os deputados não são obrigados a concordar com o governo”.