Por Olívia Bulla
São Paulo – A taxa básica de juros deve renovar o piso histórico neste mês, ao cair mais 0,50 ponto percentual (pp), indo a 5,50%. O mercado financeiro mantém desde julho a previsão em relação à reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em setembro, apesar da recente valorização do dólar, que é cotado acima de R$ 4,00 há cerca de um mês.
“Mesmo considerando que a taxa de câmbio está distante dos R$ 3,75 à época da última reunião do Copom, em julho, a percepção é de que o grande hiato do produto (interno bruto, PIB) irá reduzir parte dos efeitos do repasse cambial na inflação, o que dá à autoridade monetária algum espaço para ajustar a taxa de juros”, explica o economista sênior do banco Haitong, Flavio Serrano, referindo-se à diferença entre o PIB corrente e o potencial.
Segundo o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, há uma discussão recente entre economistas sobre a perspectiva de repasse (pass through) inflacionário via alta do dólar. “De um lado, alguns não citam nenhuma preocupação com a perspectiva de inflação; de outro, há a visão de que impactos cambiais recentes foram refletidos nos índices de preços”, explica.
Ainda assim, Vieira observa que, mesmo diante da forte desvalorização do real, o Copom pode dar continuidade ao afrouxamento monetário, pois o repasse da alta do dólar é altamente limitado justamente devido ao hiato do produto. “Esse fator é incrementado pelo desemprego em alta, a capacidade instalada ociosa e a atividade econômica desaquecida”, acrescenta o economista da Infinity.
Além disso, o economista do Bradesco, Fernando Honorato, observa que os preços das principais commodities (agrícolas e industriais) em reais não se alteraram de maneira significativa nas últimas semanas, apesar da desvalorização da moeda brasileira no mês passado. “As mesmas incertezas no cenário externo que pressionaram o dólar para cima têm levado a uma redução significativa nos preços das principais commodities”, diz.
Para ele, esse comportamento compensa os impactos na inflação brasileira, limitando o repasse da taxa de câmbio. “Por isso, a julgar pela dinâmica da inflação e pelo ambiente de crescimento ainda moderado, sem sinais de retomada sustentada, o cenário doméstico deve dar ao Copom alguma margem de manobra para continuar cortando a taxa de juros”, afirma o economista do Bradesco.
Ou seja, em linha gerais, o recente aumento na taxa de câmbio para além da faixa de R$ 4,00 traz danos limitados às perspectivas de inflação, se houver. “No máximo, esse comportamento pode ajudar a reduzir o hiato do IPCA de 2019 em direção ao centro da meta”, observa o estrategista-sênior do Rabobank no Brasil, Maurício Oreng, lembrando que a inflação oficial ao consumidor brasileiro acumulada em 12 meses até julho está em 3,4%, bem abaixo do alvo perseguido pelo Banco Central neste ano, de 4,25%. “Por isso, prevê-se cortes na taxa Selic para nova baixa histórica de 5,00% até o fim do ano”, conclui.
Edição: Eduardo Puccioni