São Paulo – O Instituto Aço Brasil (IABr), entidade que reúne as principais siderúrgicas do país, realizou reunião com o ministro Paulo Guedes hoje para tratar da redução do imposto de importação do vergalhão de aço, de 10,8% para 4% até dezembro. Segundo os dirigentes do IABr, o ministro disse ter sido pressionado pelo setor de construção civil, que alega estar atravessando dificuldades no período da pandemia com a elevação do preço do insumo.
“Essas informações não procedem, a indústria da construção vai bem e o impacto é no vergalhão. O ministro trouxe essas informações e disse que a redução da importação do vergalhão será tema de reunião do G-7 e nós pedimos para que ele ouvisse o nosso lado”, disse Marco Polo De Mello Lopes, presidente-executivo do Instituto Aço Brasil (IABr), em entrevista a jornalistas após reunião com o ministro e empresários do setor de siderurgia.
O executivo explicou que a entidade optou por não atender à imprensa ontem no calor da divulgação pelo Ministério da Economia por que não tinham as informações completas sobre o que foi discutido.
O gerente de Economia do IABr, Marcelo Ávila, disse que em abril haviam mais de nove mil canteiros de obras, 80% acima em relação a 2020, o que vai contra o que foi alegado pela indústria da construção. “Não existe mais nenhum problema de desabastecimento, tanto que o setor siderúrgico voltou a exportar”, disse.
“O Brasil tem hoje o vergalhão mais barato do mundo. Subiu mais de 100% na Europa e Turquia, no Brasil, 45%. Nenhum mercado mundial teve variação inferior ao Brasil, não faz nenhum sentido reduzir a alíquota de importação, pois não atende os interesses do país, apenas de um segmento específico que quer incrementar as suas margens”, comentou Ávila.
Ele disse que dados do IBGE/LCA mostram que o aço representa 0,03% do total do INCC, o Indice Nacional de Custos da Construção. “Com o excesso de capacidade existente no mercado mundial, há aumento de políticas protecionistas, como nos Estados Unidos”, finalizou o presidente da entidade.
A reunião da pasta com os empresários ocorreu após a divulgação de notícias na imprensa de que o governo prepara uma medida para zerar a alíquota do Imposto de Importação de 11 produtos, entre eles, o aço, devido ao cenário de alta da inflação. O corte deve ser anunciado na próxima quinta-feira, 11, e inclui produtos da cesta básica e da construção civil.
CBIC COMEMORA REDUÇÃO DA ALÍQUOTA
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) confirmou a informação de que o governo federal irá lançar na quinta-feira (12/5) medida para zerar a alíquota do Imposto de Importação (II) de 11 produtos e bens que integram alimentos da cesta básica e produtos siderúrgicos usados na construção civil, como o aço, como medida para conter os efeitos da pressão inflacionária.
Em 2021, a entidade apresentou à Câmara de Comércio Exterior (Camex) do Ministério da Economia uma solicitação de redução da tarifa de importação do aço. “A redução do Imposto de Importação do aço e de outros 10 produtos, conforme anunciado, vai ajudar muito a reduzir custos e dar novamente oportunidade às pessoas a adquirem sua casa própria”, comentou o presidente da CBIC, José Carlos Martins, em nota publicada no site da entidade.
Nesta terça-feira (10/5), as siderúrgicas representadas pelo Instituto Aço Brasil (IABr) se reuniram com o ministro da Economia Paulo Guedes para rebater os argumentos do setor de construção para reduzir o imposto de importação do vergalhão de aço, de 10,8% para 4% até dezembro. Segundo os dirigentes do IABr, o ministro disse ter sido pressionado pelo setor de construção civil, que alega estar atravessando dificuldades no período da pandemia com a elevação do preço do insumo. As siderúrgicas alegam que as construtoras tiveram crescimento no período e que não há risco de desabastecimento do insumo.
AUMENTO DOS CUSTOS
O aço foi o material que mais impactou no aumento total do custo das obras. Segundo estudo elaborado pela CBIC, no período de julho de 2020 a julho de 2021, esse material alcançou cerca de 73% da elevação no custo da construção de uma ponte, por exemplo. Entre julho de 2020 e janeiro de 2022, o aço chegou a representar cerca de 59% do aumento total deste projeto, somando o impacto de todas as bitolas do CA 50 com a tela e aço CA 60.
O levantamento da CBIC analisou a curva ABC de insumos em diferentes tipos de obras no estado de São Paulo, utilizando o Sistemas Nacionais de Pesquisa de Custos e Indices da Construção Civil (Sinapi). Os projetos analisados foram: uma Unidade Básica de Saúde, com cerca de 285 metros quadrados; um prédio de quatro andares de apartamentos, sem elevador e com 808 metros quadrados; e uma obra de arte especial, que envolve construções de infraestrutura, como ponte. A conclusão apontou que, em todos os projetos, o aço foi o material que mais teve aumento. O estudo utilizou como referência os preços retratados pelo Sinapi e pelo Sistema de Custos Referenciais de Obras (Sicro).
No comparativo dos estudos, considerando os períodos de 12 e 18 meses, é possível perceber o peso ainda maior do aço nos aumentos das construções de julho de 2020 a julho de 2021. No segundo semestre de 2021, ocorre uma redução dos preços praticados pelas siderúrgicas, o que coincide com a importação de aço da Turquia. Contudo, a partir de janeiro deste ano o preço do aço voltou a registrar aumento.
“O aumento do custo de construção impede hoje o acesso de milhares de famílias à casa própria, a locais de atendimento de saúde, à infraestrutura urbana. Nosso estudo mostrou que em uma habitação, por exemplo, um terço do acréscimo teve um único componente, o aço. Ou damos um choque de oferta ou os brasileiros continuarão com acesso precário a moradias e a tantas outras coisas”, disse o presidente da CBIC, José Carlos Martins.
Considerando julho de 2020 e julho de 2021, em um bloco de quatro pavimentos sem elevador, o aço representou cerca de 34% do aumento total. Já entre julho de 2020 a janeiro de 2022, o aço atingiu quase 22% do aumento total.
No custo da obra de uma UBS, no período de julho de 2020 a janeiro de 2022, o aço representou 19% da elevação no custo. No período de julho de 2020 a julho de 2021, esse insumo alcançou cerca de 29% do aumento total deste projeto.
Na tentativa de amenizar o problema de custos excessivos, empresas da indústria da construção se movimentam para retomar a importação de aço da Turquia. A ação foi realizada por meio da Coopercon-SC e outras cooperativas.