Status do mercado de trabalho nos EUA reforça visão do Fed sobre acomodação

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São Paulo – A tímida criação de 266 mil vagas em abril nos Estados Unidos ante um consenso de abertura de 1 milhão de postos reafirmou o entendimento do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de que é necessário progresso substancial na direção das metas de pleno emprego e estabilidade de preços antes de tratar da retirada da acomodação monetária.

“O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, deixou claro que as autoridades querem ver uma série de relatórios de empregos sólidos antes que considerem mudar sua postura política. O relatório de hoje oferece, portanto, algum apoio à posição de que o primeiro aumento da taxa de juros não ocorrerá até 2024”, disse o economista chefe internacional da ING, James Knightley.

Embora os especialistas consultados pela Agência CMA acreditem que o relatório de emprego mais fraco do mês passado não é sinal de que a recuperação da economia norte-americana esteja perdendo fôlego, eles enxergam na escassez da mão de obra um obstáculo significativo para a retomada do mercado de trabalho dos Estados Unidos.

“A criação discreta de 266.000 vagas no mês passado é uma clara decepção, mas, com a maioria dos indicadores de alta frequência ainda apontando para novas melhorias e os pedidos de auxílio-desemprego caindo como uma pedra nas últimas semanas, duvidamos que isso sinalize que a recuperação está em risco. Mas pode indicar que a escassez de mão de obra está se tornando um obstáculo significativo”, disse o economista sênior da Capital Economics para os Estados Unidos, Michael Pearce.

Dados do Departamento do Trabalho norte-americano mostraram que a economia dos Estados Unidos criou 266.000 empregos em abril, bem abaixo dos 1 ,05 milhão de vagas esperada pelos economistas consultados pela Agência CMA e abaixo do dado revisado de março de 770.000 postos de trabalho. Já a taxa de desemprego subiu de 6,0% para 6,1% ante projeção de recuo para 5,8%.

“Ainda acreditamos que haverá ganhos de empregos muito mais fortes nos próximos meses, mas os dados de hoje mantêm intacto o tom favorável ao aperto monetário do Fed”, afirmou a diretora e economista sênior da CIBC, Katherine Judge.

Desde março do ano passado, o Fed mantém a taxa de juros na faixa entre zero e 0,25% ao ano. Além disso, o banco central norte-americano vem adquirindo US$ 120 bilhões ao mês em títulos lastreados em hipotecas e títulos do Tesouro.

Nesta semana, vários presidentes regionais do Fed defenderam a manutenção do nível atual de acomodação monetária, depois que um deles, o chefe da unidade de Dallas, Robert Kaplan, afirmou que estaria pronto para iniciar as discussões do chamado tapering – expressão usada para se referir à redução gradual da compra de ativos.

A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, também colocou mais pressão sobre o Fed nesta semana ao afirmar que o banco central norte-americano deve ser forçado a elevar os juros para conter o superaquecimento da economia derivado dos estímulos federais. Mais tarde, Yellen minimizou as declarações, afirmando que não sugeriu que o Fed tenha que conduzir um aperto monetário antes do previsto.

Para Pearce, da Capital Economics, é difícil julgar quanto peso dar ao relatório de emprego de abril em um momento em que a maioria das outras evidências sugere que a atividade econômica está se recuperando rapidamente.

“O relatório é um claro lembrete de que a recuperação do mercado de trabalho está atrasando a recuperação do consumo. Para o Fed, suspeitamos que isso significa que levará muitos meses até que julgue que a economia fez mais progressos substanciais em direção à sua meta de pleno emprego ampla e inclusiva. Isso significa que qualquer conversa sobre redução [da compra de ativos] ou aumento dos juros ainda está um pouco distante”, afirmou Pearce.