Tabuleiro de fatores locais e globais deve manter dólar forte por mais tempo

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Notas de dólar // Créditos: Pexels/Karolina Grabowska

São Paulo – Se 2024 começou com expectativas de que o dólar pudesse se estabelecer abaixo dos R$ 5,00, o ano chega ao final com uma realidade bem diferente. Após o anúncio do pacote fiscal, há cerca de duas semanas, a divisa estadunidense se manteve na faixa dos R$ 6,00 e não demonstra sinais de que irá recuar no curto prazo.

Outros fatores também devem ser levados em conta neste quebra-cabeça: a gestão do presidente recém-eleito nos Estados Unidos, Donald Trump, que tende a sobretaxar as importações; dezembro é o mês no qual as empresas enviam lucros e dividendos ao exterior, também contribuindo para um real menos valorizado.

O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, entende que o mercado exagerou na dose: “Quando consideramos o pacote de controle de gastos apresentado pelo governo, apesar de decepcionante, parece existir um certo exagero, principalmente no mercado de juros. No entanto, a piora conjunta de todos os ativos locais sugere um processo de desmonte das posições otimistas no mercado. Nessas situações, é normal o mercado exagerar nos movimentos, devido à dinâmica de ‘zerar a qualquer preço'”.

Engrossando o coro dos descontentes, o head de Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, entende que isentar do imposto de renda quem recebe até R$ 5 mil não foi bem visto pelo mercado, e que o pacote apenas desacelera a alta dos gastos, porém não irá gerar o superávit necessário para diminuir a relação Dívida/PIB.

“O governo não deixou espaço para reavaliações de economias no Congresso. Se tudo correr perfeitamente, o governo economizará R$70 bi em dois anos. A chance de isso ocorrer no Congresso é improvável. Seria razoável o governo anunciar um pacote com uma economia potencial maior”, explica Borsoi.

R$ 5,50 ou R$ 6,00?

Mas, afinal, o que é necessário para que o dólar volte ao menos para o patamar de R$ 5,50?

Para Weigt, isso não irá ocorrer enquanto a relação entre Dívida e Produto Interno Bruto (PIB) se mostrar mais saudável.

Já Borsoi vai além, dizendo que a isenção do imposto de renda deveria ser adiada, o Fed ter uma postura dovish (suave, propensa ao corte dos juros) na reunião da próxima semana – prometendo dois ou três cortes dos juros para 2025 – e uma postura mais contida de Trump no comércio exterior, em especial na relação com a China.

Além disso, pondera o economista, caso ocorra uma pacificação nos conflitos no leste europeu e Oriente Médio, assim como uma retomada mais robusta da economia chinesa, o real pode se beneficiar.