São Paulo – O Afeganistão terá um novo governo islâmico forte e inclusivo, que será guiado pelas crenças religiosas, disse o porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid, que apareceu pela primeira vez diante das câmeras em entrevista coletiva.
“Vamos ditar as leis para o próximo governo, que terá a responsabilidade de guiar o país no futuro. Estamos trabalhando duro para a formação desse governo e quando tudo estiver pronto, será anunciado”, afirmou ele.
“Esse será um governo islâmico forte, nossas crenças protegerão nosso povo. As conversas estão em andamento, mas é necessário esperar pelo novo governo. Acabamos de sair de uma guerra e precisamos de tempo para essa formação”, acrescentou.
Mujahid destacou que o novo governo buscará boas relações com países vizinhos. “Queremos uma boa economia e ter boas relações com nossos vizinhos e com outros países. Nossa relação com os países vizinhos será baseada em leis internacionais e em leis islâmicas”, disse.
Com a retirada das tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e dos Estados Unidos após cerca de 20 anos de guerra no Afeganistão, o Talibã ganhou terreno e avançou sobre a capital Cabul no final de semana, assumindo o controle do país.
“Após 20 anos de luta emancipamos [o país] e expulsamos os estrangeiros. Este é um momento de orgulho para toda a nação. Não queremos guerra ou conflitos, queremos paz e estabilidade internacional”, disse. “Queremos ter certeza de que o Afeganistão não será mais um campo de batalha. Nós perdoamos todos aqueles que lutaram contra nós. As animosidades chegaram ao fim. Não queremos nenhum inimigo externo ou interno”, acrescentou.
O porta-voz do Talibã disse ainda que tentou evitar o caos em Cabul, palco de cenas de desespero e violência, com imagens rodando o mundo de pessoas lotando aeroportos e penduradas em aviões tentando fugir.
“Não queremos ver o caos em Cabul”, afirmou. “Nosso plano era parar nos portões de Cabul para que o processo de transição pudesse ser concluído sem problemas, mas, infelizmente, o governo anterior era tão incompetente que suas forças de segurança não podiam fazer nada para garantir a segurança. Tivemos que entrar em Cabul para garantir a segurança dos moradores”, acrescentou.
Apesar do cenário caótico, Mujahid garantiu à comunidade internacional que não haverá conflitos e discriminação. “Gostaria de garantir à comunidade internacional que ninguém será prejudicado. Não queremos ter problemas com a comunidade internacional. Gostaríamos de garantir à comunidade internacional que não haverá discriminação”, disse ele.
Apesar desse compromisso, Mujahid fez um alerta: “Temos o direito de agir de acordo com nossos princípios religiosos. Outros países têm abordagens, regras e regulamentos diferentes. Os afegãos têm o direito de ter suas próprias regras e regulamentos de acordo com nossos valores”, afirmou.
Em resposta a uma pergunta sobre os direitos das mulheres, o porta-voz do Talibã afirmou que será permitido que as mulheres trabalhem e estudem dentro das estruturas islâmicas e do novo governo. “As mulheres serão muito ativas em nossa sociedade, dentro de nossa estrutura”, afirmou. “Estamos comprometidos com os direitos das mulheres sob o sistema da sharia [lei islâmica]”, acrescentou.
Questionado sobre como será a relação com a imprensa, Mujahid reiterou que a mídia privada continuará sob o governo talibã. “Gostaria de garantir que estamos comprometidos com a mídia dentro de nossas estruturas culturais. A mídia privada pode continuar a ser livre e independente”, disse.
No entanto, avisou os jornalistas sobre o questionamento de valores islâmicos: “Nada deve ser contra os valores islâmicos no que diz respeito às atividades da mídia. “Você, da mídia, deve prestar atenção às [nossas] deficiências para que possamos servir à nação e não deve trabalhar contra nós, devem trabalhar pela unidade da nação”.