Taxa de juros a 10,50% é irreal para uma inflação de 4%, diz Lula à rádio mineira

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Presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Conversa com o presidente | Foto: Ricardo Stuckert/PR

São Paulo – O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje, em entrevista à rádio FM o Tempo, em Belo Horizonte (MG), que uma taxa de juros de 10,50% ao ano é irreal para uma inflação de 4% – como a que o Brasil registra atualmente.

“É isso que eu falei e vou continuar falando. Porque se o Presidente da República, que foi eleito, não puder falar, quem vai falar? O cara que perdeu? Quem vai falar pelo Brasil, o presidente do Banco Central? Não, é o Presidente da República. Fui eleito pra isso. Pra falar e falar aquilo que é a linguagem do povo brasileiro. E vou dizer em alto e bom som: A taxa de juros de 10,50% é irreal para uma inflação de 4%. É isso. É importante todo mundo saber”, disse.

Na última quarta-feira (26), o IBGE divulgou que o IPCA-15, parcial da inflação do mês, registrou inflação acumulada em 12 meses 3,93%.

Lula disse, ainda, que “isso vai poder melhorar quando eu puder indicar o presidente [para o BC] e a gente vai construir uma nova filosofia.”

“A vantagem que eu tenho é que eu já fui presidente há oito anos, eu já tive o presidente do Banco Central que eu tirava e que eu colocava o eu quisesse, não tinha estabilidade, era o presidente da República que colocava. Se ele fosse bem ficava, se fosse mal, saía – e o Meirelles [Henrique Meirelles foi presidente do Banco Central de 2003 a 2010] e ficou oito anos comigo, oito anos – sem precisar de mandato – , então eu não tenho preocupação com essa coisa de ficar brigando com a taxa de juros. Eu sei que a taxa de juros é um instrumento para você tentar evitar o excesso de consumo, controlar a inflação, mas peraí: a inflação está controlada, a inflação está dentro da meta! O Brasil tem um colchão de reserva de R$355 bilhões que nós fizemos. Eu e a Dilma: nós é que fizemos uma reserva para dar estabilidade a esse país, estabilidade econômica. Então, não tem necessidade do juros desse tamanho, não tem.”

Nesta semana, o Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu manter a meta de inflação anual em 3,00% para 2025 e 2026. O intervalo de tolerância, inicialmente de 2,0 pontos percentuais (p.p.), passou para 2,5 p.p. em meados de 2003 a 2005, voltou a ser de 2,0 p.p. de 2006 até 2016, e em seguida foi reduzido para 1,5 p.p

O mandatário lembrou que o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foi escolhido pelo governo anterior, no mandato de Jair Bolsonaro. “É importante lembrar que ele pensa ideologicamente igual ao governo anterior e que eu acho que ele não está fazendo o que ele deveria ter feito corretamente, não está. Mas, de qualquer forma, até dezembro ele é presidente do Banco Central e somente a partir daí que eu vou escolher um novo presidente. E eu vou escolher uma pessoa que seja responsável e aí o Presidente da República não vai ficar dando palpite: baixa juro, aumenta o juros, não! O Presidente da República tem que confiar que a pessoa terá competência para fazer as coisas, é isso que a gente tem que saber.”

“Eu não brinco com a inflação porque eu vivi a inflação de 80% ao mês, o meu salário desaparecia em um mês. E eu quero que a inflação não coma o salário do trabalhador. Aí você vê de vez em quando as pessoas falam, ah, mas então não precisa desvincular o salário mínimo da previdência, porque na hora que aumenta o salário mínimo da previdência fica dando o rombo. Meu Deus do céu, o mínimo é o mínimo. Por isso é que ele chama ‘salário mínimo’. Não tem nada mais baixo que o mínimo. Ora, o que eu tô fazendo? Eu tô dando para o salário mínimo a reposição inflacionária, que é a obrigação a gente dar, porque é a recomposição do poder de compra das pessoas, e tô dando a média do crescimento do salário mínimo dos últimos dois anos”, explicou.

“E o que é o Produto Interno Bruto (PIB)? O PIB é o crescimento da economia, feita por todo mundo, feita por vocês, feita por mim, feita pela dona de casa, feita pela indústria têxtil, química. Todo mundo que trabalha é responsável pelo crescimento do PIB. Então, quando esse PIB cresce, o que você tem que fazer? Distribuir para 203 milhões de pessoas que moram nesse país. É simples assim. Não tem nada fora do normal. É apenas dar a chance das pessoas participarem do crescimento econômico do país. É por isso que eu vou continuar aumentando o mínimo.”

Ainda sobre lucros e taxações, Lula lembrou da reforma tributária que vem tocando com o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a fim de equalizar os tributos pagos pela população.

“Chega no final do ano, você recebe uma participação no lucro das empresas. Aí vem o Fisco e toma 27%. A Petrobras acaba de pagar R$ 45 bilhões em dividendos para os assuntos minoritários e ninguém paga um centavo de imposto de renda. É normal? É justo? Tem que ser assim? Não, não pode ser assim. Então, nós temos que ir virando condições de fazer as mudanças necessárias para equilibrar um pouco o jogo”, concluiu.

CÂMBIO

Sobre as frequentes altas do dólar, o presidente se eximiu da culpa que foi atribuída a ele pela mídia nesta semana, devido à contundente fala que o chefe de Estado fez ao UOL e disse que 15 minutos antes do início da entrevista o dólar já subia.

“No dia que eu fiz aquela entrevista no UOL, a manchete do jornal era que ‘meia hora depois da entrevista do Lula, o dólar sobe’. Nós descobrimos que o dólar tinha subido quinze minutos antes da entrevista. Eu nem tinha começado a entrevista, o dólar já tinha subido. E aí eu fiz a denúncia: Por que o dólar está subindo? Porque tem especulação. Tem especulação com derivativos, na perspectiva de valorizar o Dólar e desvalorizar o Real. E o Banco Central tem obrigação de investigar isso. É bem isso que eu falei e vou continuar falando”, provoca.