Temor por volta do coronavírus faz Bolsa cair e dólar subir

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São Paulo – O Ibovespa fechou em queda pelo quarto pregão consecutivo, com perdas de 0,45%, aos 92.375,52 pontos, refletindo o maior temor sobre uma segunda onda da pandemia do novo coronavírus, em meio ao aumento de casos na China e nos Estados Unidos.

No entanto, o anúncio do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de que irá ampliar o escopo de seu programa de compra de títulos corporativos, como mais uma medida para apoiar a liquidez do mercado financeiro, ajudou o índice a reduzir perdas, depois de ter caído mais de 2% perto da abertura.

O volume total negociado foi de R$ 40,5 bilhões, incluindo o exercício de opções sobre ações hoje, que movimentou R$ 11,159 bilhões e também trouxe volatilidade.

Apesar da melhora vista durante à tarde, o sócio estrategista da Monte Bravo, Rodrigo Franchini, destaca que o maior “norteador da Bolsa ainda é a cautela com a covid-1”. “No final da semana passada, investidores já começaram a tirar um pouco o pé do acelerador e, no final de semana, notícias mostraram uma segunda onda na China”, disse.

As autoridades de saúde da China fecharam partes de Pequim e adotaram controles rigorosos, depois que a capital chinesa registou quase 80 novos casos até domingo, todos transmitidos localmente e ligados a Xinfadi, um grande mercado de carnes e vegetais. Já nos Estados Unidos, estados como Flórida, Texas, Carolina do Norte e Carolina do Sul, entre outros, registraram um aumento em novos casos de covid-19.

No entanto, a notícia de que o Fed pode comprar mais títulos deu maior tranquilidade à investidores, fazendo as Bolsas dos Estados Unidos fecharem em alta. Para o estrategista da RB Investimentos, Gustavo Cruz, a ampliação do pacote anunciado pelo Fed e ações estimulativas que já vêm sendo anunciadas são positivas e dão suporte para os mercados, mas a volatilidade deve continuar enquanto houver dúvidas sobre a pandemia.

“Os bancos centrais já têm sinalizado que devem seguir nessa toada, que não vão mudar de mão tão cedo, mas a volatilidade é inevitável. Se os casos de covid-19 aumentarem em mais países os mercados podem sentir, assim como se vier uma notícia sobre o sucesso de alguma vacina em mais alguma etapa, as Bolsas subiriam mais”, disse.

Para Cruz, além da melhora vista no exterior com o Fed, a notícia de que Bruno Funchal será o novo secretário do Tesouro, no lugar de Mansueto Almeida, também foi vista como positiva por investidores, ajudando na melhora do Ibovespa. A saída de Mansueto, bem quisto pelo mercado, chegou a trazer alguma preocupação mais cedo. Funchal é diretor de Programas do Ministério da Economia e já foi secretário de Fazenda do Espírito Santo, um dos estados com as contas públicas mais equilibradas.

Entre as ações, alguns papéis que pesavam para a queda do índice passaram a subir e fecharam em alta, caso da Petrobras (PETR3 0,65%. PETR4 0,53%). Já as maiores quedas do índice foram do IRB Brasil (IRBR3 -9,31%), do BTG Pactual (BPAC11 -3,20%) e da Telefônica Brasil (VIVT4 -2,70%). Na contramão, as maiores altas foram da Cielo (CIEL3 15,15%), da Via Varejo (VVAR3 7,03%) e da Gol (GOLL4 5,39%). Os papéis da Cielo dispararam depois que a companhia anunciou que, em parceria com o Facebook, vai disponibilizar a realização de transações de pagamento por meio do Whatsapp.

Amanhã, além de continuarem a monitorar os casos de coronavírus, investidores devem ficar atentos a dados de vendas no varejo no Brasil e nos Estados Unidos. Também serão divulgados os indicadores de produção industrial e estoques das empresas norte-americanas. O presidente do Fed, Jerome Powell, também falará às 11h, em comissão do Senado.

O dólar comercial fechou em forte alta de 1,88% no mercado à vista, cotado a R$ 5,1410 para venda, engatando a quarta alta seguida e a segunda sessão com a moeda novamente acima de R$ 5,00, acompanhando o exterior em sessão de forte volatilidade em meio à forte aversão ao risco com os temores de uma segunda onda de contaminação pelo novo coronavírus após novos casos na China e em alguns estados norte-americanos.

“O comportamento do câmbio foi de intensa volatilidade. Os temores em relação a uma possível segunda onda do surto de coronavírus e os números piores que o esperado da China deram um tom fortemente negativo”, comenta o analista de câmbio da Correparti, Ricardo Gomes Filho, sobre os dados de varejo do país asiático que tiveram retração de 2,8% em maio na comparação anual.

Volátil, a moeda operou nas máximas da sessão, acima dos R$ 5,22, e nas mínimas, abaixo de R$ 5,10, após a notícia de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) comprará títulos corporativos com o intuito de melhorar a liquidez de mercado. “O que ajudou a amenizar a pressão nos mercados no meio da tarde”, diz.

O analista acrescenta que, localmente, o anúncio da saída do secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, corroborou para o investidor doméstico “partir” para ativos mais seguros. “Programando sua saída para agosto, a experiência de Mansueto foi decisiva no convencimento do mercado de que, sem reformas, o país quebra”, avalia a equipe econômica do banco Fator.

Os analistas do banco acrescentam que é mais um componente para a incerteza sobre o desempenho fiscal do país nos próximos anos. O substituto de Mansueto foi anunciado nesta tarde e será Bruno Funchal. Segundo o Ministério da Economia, o novo secretário, que já integra a equipe da secretaria de Fazenda como diretor de programa e trabalha pelo ajuste fiscal do país, além de ter sido um dos responsáveis pela elaboração do projeto do Pacto Federativo, assumirá o cargo em 31 de julho.

Amanhã, na agenda de indicadores, tem os dados de varejo e de produção industrial nos Estados Unidos no qual a expectativa é de alta robusta na comparação com abril.

“São dados bem importantes e se vier abaixo ou acima do esperado, pode movimentar o mercado diante uma expectativa já alta [ao redor de 8%] para o varejo”, comenta a analista da Toro Investimentos, Paloma Brum. Às 11 horas, o mercado se volta ao discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, em uma audiência no Senado norte-americano.