Tensões geopolíticas fragilizam sistema energético global, diz relatório anual da AIE

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A Agência Internacional de Energia (AIE), em seu relatório anual de energia (World Energy Report), alerta que as tensões geopolíticas atuais podem fragilizar o sistema energético global.

“Na segunda metade desta década, a perspectiva de suprimentos mais amplos – ou mesmo excedentes – de petróleo e gás natural, dependendo de como as tensões geopolíticas evoluem, nos levaria a um mundo energético muito diferente daquele que vivenciamos nos últimos anos durante a crise energética global”, disse o diretor executivo da AIE, Fatih Birol.

“Isso implica pressão descendente sobre os preços, proporcionando algum alívio para os consumidores que foram duramente atingidos pelos picos de preços. O espaço para respirar das pressões sobre os preços dos combustíveis pode fornecer aos formuladores de políticas espaço para se concentrarem em aumentar os investimentos em transições de energia limpa e remover subsídios ineficientes aos combustíveis fósseis. Isso significa que as políticas governamentais e as escolhas dos consumidores terão enormes consequências para o futuro do setor energético e para o enfrentamento das mudanças climáticas”.

O relatório também aponta que o mundo está à beira de uma nova era da eletricidade, com a demanda por combustíveis fósseis devendo atingir seu pico até o final da década. Isso poderia resultar em um excedente de oferta de petróleo e gás, impulsionando investimentos em energia verde.

Apesar dessa expectativa, a AIE alertou que, no curto prazo, conflitos no Oriente Médio podem prejudicar o fornecimento de petróleo. Além disso, a instabilidade do sistema energético ressalta a necessidade de mais investimentos para acelerar a transição para tecnologias mais limpas e seguras. No ano passado, um recorde de novas fontes de energia limpa foi adicionado ao sistema global, incluindo mais de 560 gigawatts de capacidade renovável, com investimentos em energia limpa em 2024 previstos para atingir US$ 2 trilhões, quase o dobro do valor investido em combustíveis fósseis.

Mesmo com esse crescimento, a geração de energia limpa ainda não acompanha o aumento da demanda global por eletricidade. Esse desequilíbrio deve continuar até 2030, o que significa que o uso do carvão diminuirá mais lentamente do que o previsto. Com isso, a participação dos combustíveis fósseis na matriz energética global será de 75% em 2030, em comparação aos 80% atuais, segundo o cenário de políticas atuais da AIE.

A demanda global por petróleo, no cenário de políticas atuais, atingirá seu pico antes de 2030, com menos de 102 milhões de barris por dia, recuando para os níveis de 2023, em torno de 99 milhões de barris diários, até 2035. Isso se deve, em grande parte, à menor demanda do setor de transporte, com o aumento do uso de veículos elétricos. A AIE também previu que, no cenário atual, o preço do barril de petróleo cairá para US$ 75 em 2050, em comparação aos US$ 82 de 2023.

A demanda por gás natural liquefeito (GNL) deve aumentar em 145 bilhões de metros cúbicos entre 2023 e 2030, mas será superada por um crescimento na capacidade de exportação de cerca de 270 bilhões de metros cúbicos no mesmo período. Esse excedente deve criar um mercado muito competitivo, com preços em torno de US$ 6,5 a 8 por milhão de unidades térmicas britânicas até 2035, bem abaixo dos atuais US$ 13 na Ásia, referência global.