São Paulo – O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, afirmou que para estabilizar os preços no país será preciso manter a política monetária restritiva por algum tempo como forma de reequilibrar a demanda e a oferta no mercado de trabalho.
Powell disse em painel de evento realizado pela Brookings Institution que já deve ser hora de moderar o ritmo de aumento de taxas básicas na próxima reunião de dezembro, destacando que, agora, a questão principal é até quanto aumentá-las e por quanto tempo permanecer assim.
O presidente do banco central norte-americano também disse acreditar na possibilidade de um “soft landing”, ou seja, uma redução da inflação sem a entrada do país em uma recessão.
POLITICA RESTRITIVA
“É provável que tenhamos que manter as taxas de juros em nível restritivo por algum tempo”, explicou ele. “A hora de moderar o ritmo de aumentos de taxa pode ser na próxima reunião, mas não iremos cortar taxas tão cedo”.
Na reunião realizada no início de novembro, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) aprovou o terceiro aumento consecutivo de 0,75 ponto percentual (pp) na taxa básica de juros do país, levando-a para a faixa entre 3,75% e 4,00%. Grande parte do mercado aposta que, após comentário de Powell e outros membros do Fomc, o comitê deve retornar a aumentos de 0,5 pp
“Quando estamos realizando um aperto tão significativo, temos algumas regras de gerência de risco. A primeira é ir devagar e a segunda é parar em determinados pontos durante um tempo para sentir os efeitos. Como iremos desacelerar os ritmos, iremos manter a taxa alta por um bom tempo”, explicou Powell.
FALHA DE PREVISÕES
Powell explicou que as atitudes do banco central não podem ser mais exclusivamente baseadas em previsões, já que o cenário mundial mudou. “Saímos da pandemia com um mundo muito diferente. Em relação às cadeias de insumos, estamos mais próximos das condições dos anos 1970, quando tínhamos chqoues atrás de choques nesse campo”, disse ele.
Por isso, apesar de continuarem atuando com projeções, o Fed deve manter-se atento a dados atuais e análises próprias para tomar as próximas decisões. “Estamos experimentando empiricamente o que fazemos, vendo os resultados de nossas decisões”, disse Powell.
DIVISÃO DA INFLAÇÃO
O presdiente do Fed alegou que para entender a atual alta inflacionária, é preciso dividir o núcleo da inflação (medido pelo núcleo do índice PCE, que exclui a variação de preços de alimentos e combustíveis) em três partes: a inflação sobre bens de consumo, variação sobre serviços imobiliários e pressão sobre serviços não imobiliários.
“Com a amenização das interrupções nas cadeias de suprimentos, a inflação sobre bens deve diminuir. A variação sobre serviços imobiliários cresceu muito, mas estamos vendo uma queda nos aluguéis, o que deve ter efeito sobre o índice no ano que vem. A maior pressão vem da inflação sobre serviços não imobiliários”, explicou Powell.
De acordo com ele, tal parte da inflação está diretamente relacionada ao mercado de trabalho norte-americano. “Temos um grande desequilíbrio entre oferta e demanda nessa área. Nosso foco é diminuir a demanda”, disse ele, citando o grande número de vagas abertas desde o fim da pandemia.
EQUILIBRAR MERCADO DE TRABALHO
Para Powell, a diferença entre abertura de vagas e a taxa de desemprego mostra que ainda há pouca participação da população no mercado de trabalho em comparação a antes. “Muitos se aposentaram desde a pandemia, em parte devido à covid-19 e quetões de saúde e em parte porque houve aumento nos rendimentos imobiliários, permitindo os detentores de casas saírem do mercado”, explicou o presidente do Fed.
Para ele, é possível alcançar uma estabilização de preços sem causar aumento forte na taxa de desemprego. “A economia teve quatro fortes expansões e estamos com um taxa historicamente baixa. Queremos focar na diferença entre vagas abertas e taxa de desemprego e diminuí-la apenas”.