Transição energética enfrenta desafios e deve demorar para acontecer

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São Paulo – A redução de poluentes e a adoção de fontes de energia mais sustentáveis e com menos impacto no meio ambiente já é uma realidade no mundo. Diversas empresas estão passando por transições em que buscam poluir menos e produzir mais sem afetar o nosso ecossistema.

Petróleo ainda domina mercado de energia

Mas a busca pela transição energética ainda é gradual e depende de inovações tecnológicas, segundo a Petrobras. Em comunicado enviado à reportagem da Agência CMA, a estatal cita as principais fontes de energia global.

FONTES DE ENERGIA

“A transição energética é gradual, em direção a uma economia de baixo carbono e a velocidade desta transição dependerá de inovações tecnológicas que permitam uma substituição competitiva das fontes fósseis. Para se ter uma ideia, a matriz energética global é composta majoritariamente por fontes fósseis (Petróleo 31%; Carvão 27% e Gás Natural 23%). A nuclear responde por 5% e as renováveis (Eólica e Solar por 2%, Hidro por 3% e Biomassa por 9%) respondem por 14% da matriz – base 2018″, disse a Petrobras.

A estatal também ressalta que já trabalha por uma economia de baixo carbono e que busca operar fontes renováveis em maior escala.

“Hoje a Petrobras atua com renováveis por meio de Pesquisa & Desenvolvimento. A companhia está comprometida com uma economia de baixo carbono, com foco na descarbonização das operações, pesquisando e adquirindo competências para, eventualmente, operar fontes renováveis em maior escala”.

No Brasil, o uso de fontes renováveis de energia já é realidade. Segundo dados do Ministério de Minas e Energia, as fontes renováveis de energia alcançaram uma demanda de 46,1% de participação na Matriz Energética, um aumento de 0,6 ponto percentual em relação ao indicador de 2018. O indicador brasileiro representa três vezes o mundial.

Na visão de Adriano Pires, que é sócio-fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), a transição energética é importante, mas levará muito tempo até ser implantada.

“As transições energéticas são muito lentas e acabam acontecendo aos poucos. O petróleo hoje ainda é responsável por 80% da energia do mundo. Não se muda de uma fonte para outra do carvão para o petróleo foi demorado e agora está sendo uma transição onde o gás natural tem um papel muito importante nessa transição, apesar de ele ser fóssil, não ser 100% limpo, ele é mais limpo que o petróleo”, afirmou.

PANDEMIA ATRASA TRANSIÇÃO

Adriano também ressalta que os efeitos da pandemia de coronavírus no mundo devem atrasar ainda mais a adoção de fontes mais sustentáveis para a produção de energia.

“Eu acho que a gente está passando por um momento diferente, porque com essa coisa da pandemia muita gente acha que vai haver no mundo pós pandemia uma aceleração da transição energética. Mas há controvérsias em relação a isso, a gente também fala que no mundo pós pandemia os estados, os países vão estar com mais complicações fiscais porque gastaram muito dinheiro na pandemia para socorrer a economia e as pessoas e o crescimento econômico também caiu, o preço do petróleo caiu. O petróleo vai ficar mais competitivo no curto prazo que as fontes renováveis do que era até então”, disse.

Na visão da Petrobras, a pandemia de coronavírus deixará cicatrizes na economia e afetará de maneira significativa o preço do petróleo.

“A Petrobras entende que a pandemia deixará cicatrizes e efeitos perenes na economia mundial.  As crises em geral afetam de forma perene a economia e, em especial, os preços das commodities. Sob a ótica da indústria de petróleo, o desaquecimento da demanda global potencializado pelas mudanças de hábitos e pelas pressões sociais por uma aceleração da transição energética tenderá a pressionar o preço do petróleo a manter-se num patamar inferior ao patamar pré-pandemia.”

A companhia também entende que o petróleo não perderá a importância nas próximas décadas, mesmo com a adoção da utilização de fontes de energia mais sustentáveis.

“Nas próximas décadas, o petróleo ainda será uma fonte de energia necessária e o consumo permanecerá relevante. A expertise na exploração e produção em águas profundas e ultraprofundas possibilitará a Petrobras a gerar valor sustentado em ativos de classe mundial como, por exemplo, o campo de Búzios, na costa brasileira, que tem grande diferencial competitivo.”

Para Adriano Pires, os próximos anos mostrarão um cenário diferente do que já foi visto nos séculos passados, mas o contexto do cenário econômico de cada continente é que vai ditar o ritmo da transição energética.

“Não teremos uma fonte de energia tão dominante, tão monopolista como foi o carvão o século 19 e como foi o petróleo no século 20. Então se caminha para ter matrizes diversificadas com predomínio das fontes renováveis. Mas isso é lento, temos que levar em consideração que cada país e continente possuem uma situação social diferente do outro. Então quando se faz a defesa da fonte limpa, do meio ambiente, também tem que trazer junto uma discussão social. Por exemplo, a Europa e os Estados Unidos possuem uma renda per capita de quem está disposto a pagar mais caro por uma energia mais limpa.”