Trump pressiona, mas poder de adiar eleição nos EUA é do Congresso

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São Paulo – A tentativa do presidente norte-americano, Donald Trump, de adiar as eleições marcadas para 3 de novembro deve ser frustrada, já que apenas o Congresso tem poder de fazê-lo e não há sinais, até o momento de que isso vá acontecer.

Em uma publicação no Twitter, Trump sugeriu o adiamento da eleição presidencial devido a preocupações com fraudes e com a pandemia de covid-19, sinalizando que a votação deve ser realizada apenas quando houver garantias de segurança.

Um ato de 1845 estabeleceu que as eleições nos Estados Unidos devem acontecer na primeira terça-feira após o dia 1 de novembro e desde então esse calendário tem sido observado. O país manteve eleições mesmo durante a Guerra Civil, a Grande Depressão e duas guerras mundiais.

É o artigo II da Constituição norte-americana dá ao Congresso o poder de definir o calendário das eleições, e a 20a emenda encerra o mandato de um presidente e um vice-presidente norte-americano no dia 20 de janeiro após uma eleição geral.

Apesar disso, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, chegou a mencionar hoje, após a declaração de Trump, que cabe ao Departamento de Justiça definir, no final, sobre o adiamento da eleição presidencial.

“Em 2020, com uma pandemia devastadora e uma incerteza significativa sobre como será o mundo em novembro, acreditamos que é ainda mais importante do que o habitual continuar atento às mudanças no calendário”, disse o economista do Wells Fargo, Michael Pugliese.

A REAÇÃO DO CONGRESSO

A nova postura da Casa Branca sobre o pleito despertou respostas imediatas de membros do Congresso e do próprio partido do presidente norte-americano.

Vários republicanos, incluindo o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, e o principal republicano da Câmara dos Deputados, Kevin McCarthy, rejeitaram a ideia.

“Nunca na história das eleições federais deixamos de realizá-la e devemos prosseguir com nossa eleição”, disse McCarthy.

Já a senadora Lindsey Graham, aliada de Trump, disse: “Atrasar a eleição provavelmente não seria uma boa ideia”.

A reação da oposição democrata à sugestão de Trump foi ainda mais forte. A senadora Patty Murray disse em comunicado que o presidente não tem poder para adiar as eleições. “A votação pelo correio, como fazemos no [estado de Washington], é legítima e segura”, afirmou.

Murray também questionou a sugestão de Trump em um momento no qual ele pressiona para a reabertura das escolas em setembro, na volta do ano letivo nos Estados Unidos, apesar da pandemia do novo coronavírus.

Já os senadores democratas Chris Coons e Maggie Hassan exortaram os republicanos no Congresso a denunciar publicamente a sugestão de Trump, reforçando a oposição do partido a qualquer mudança de calendário.

Para a chefe de investimentos do UBS, Solita Marceli, a incerteza política é sempre um visitante indesejável para os mercados financeiros, lembrando dos riscos de votos ausentes – semelhante aos votos antecipados justificados.

“A expansão do voto ausente em muitos estados é outra variável importante, pois pode atrasar o anúncio dos resultados das eleições”, afirmou Marceli.

Em sua publicação hoje no Twitter, Trump alegou que a votação pelo correio favorecerá a fraude. “Com a votação universal por correio (não por ausência, o que é bom), 2020 será a eleição mais imprecisa e fraudulenta da história. Será um grande embaraço para os Estados Unidos”, disse ele na publicação.

A pressão do presidente norte-americano coincide com o distanciamento de seu rival democrata, Joe Biden, nas pesquisas de opinião e também com a divulgação de uma contração histórica da economia norte-americana, que encolheu 32,9% no segundo trimestre.

“Atualmente, Joe Biden tem uma liderança considerável nas pesquisas nacionais, quase três vezes maior do que a líder Hillary Clinton em meados de julho de 2016. As pesquisas no nível do Congresso parecem igualmente robustas para os democratas. Essa força nos dados recentes das pesquisas se reflete nas apostas mercados, que estão cada vez mais cotados para uma varredura democrata.

Se a eleição fosse realizada hoje, suspeitamos que Joe Biden seria justamente considerado um favorito saudável para a votação”, afirmou Pugliese, do Wells Fargo.