Último pregão do mês é marcado por preocupação fiscal no Brasil

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São Paulo – O Ibovespa fechou em queda de 2,71%, aos 99.369,15 pontos, diante de preocupações com a situação fiscal do Brasil e uma piora do humor externo perto do fechamento da sessão, com investidores embolsando lucros no último pregão do mês. Com isso, o índice encerrou no menor patamar de encerramento desde 13 de julho (98.697,06 pontos). O volume total negociado foi de R$ 32,4 bilhões, considerado elevado.

Já em agosto, o índice recuou 3,44%, após quatro meses de alta e se descolando de Bolsas como as norte-americanas. Os índices Dow Jones e S&P 500 registraram o melhor desempenho para agosto desde a década de 1980.

Segundo o responsável pela mesa de futuros da Genial Investimentos, Roberto Motta, houve um movimento global de piora nesta tarde, com saída de ativos de países de emergentes, em meio a rebalanceamento de índices.

Além disso, destaca que a preocupação fiscal do Brasil continua, embora tenha avaliado que a proposta do governo sobre o orçamento para 2021 tenha vindo dentro do esperado pelo mercado. “Eu até achava que poderia vir uma surpresa agradável, mas o orçamento não teve nenhuma grande novidade”, disse em live da corretora.

Nesta tarde, o Ministério da Economia apresentou, em coletiva de imprensa, o Projeto de Lei Orçamentária que será enviado ao Congresso, no qual foi estimado um aumento de 7,4% na receita líquida do governo e redução de 23,5% nas despesas, na comparação com 2020. Segundo o secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues, o teto de gastos será respeitado e não há nenhum programa novo previsto no orçamento, com o Renda Brasil podendo absorver o orçamento já existente do Bolsa Família.

Hoje era o último dia para o governo entregar ao Congresso a sua proposta, o que ocorre em meio a receio de investidores com aumento de gastos e após impasses sobre o programa social Renda Brasil, que deve substituir o Bolsa Família e expôs divergências entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes. Investidores ainda aguardam mais detalhes sobre o Renda Brasil e a extensão do auxílio emergencial nesta semana, que pode ficar em R$ 300,00.

Entre as ações, papéis de peso para o índice, como as do setor financeiro, caso do Itaú Unibanco (ITUB4 -2,94%) e B3 (B3SE3 -3,63%), aceleram perdas perto do fechamento. Segundo o operador de renda variável da Commcor Corretora, Ari Santos, o setor já vem sofrendo este ano por motivos como temor de mudanças em legislação e aumento da concorrência.

Já as maiores quedas do Ibovespa foram dos papéis da Gol (GOLL4 -5,95%), da Cogna (COGN3 -5,15%) e da Hypera (HYPE3 -6,36%). Na contramão, as maiores altas foram da Embraer (EMBR3 6,56%), Via Varejo (VVAR3 1,18%) e da Marfrig (MRFG3 1,02%).

A agenda de amanhã traz uma série de indicadores que podem mexer com os mercados, com destaque para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil do segundo trimestre, que de acordo com Termômetro CMA deve ter um tombo de 9,50% em relação ao primeiro trimestre e de 11,00% em relação ao mesmo período do ano passado. Já no exterior, os destaques são o PMI da atividade industrial da China, da Alemanha, da eurozona e dos Estados Unidos.

Para Santos, enquanto seguirem preocupações com a situação fiscal do Brasil, o índice pode continuar rondando nos mesmos patamares, por volta dos 100 a 105 mil pontos, sendo necessário novidades positivas para que rompa os 105 mil novamente.

O dólar comercial fechou em alta de 1,12% no mercado à vista, cotado a R$ 5,4780 para venda, em dia de formação de preço da taxa Ptax – média das cotações apuradas pelo Banco Central (BC), o que provocou volatilidade na cotação da moeda estrangeira na primeira parte dos negócios, e com investidores locais à espera dos detalhes do Orçamento de 2021. Lá fora, as moedas de países emergentes passaram por uma correção e se desvalorizaram ante a divisa norte-americana.

“Tecnicamente, a valorização do dólar teve amparo na desvalorização do peso mexicano e uma certa dose de correção em relação ao excesso visto na sessão passada”, comenta o diretor da Correparti, Ricardo Gomes. Ele acrescenta que, em relação à disputa da Ptax de fim de mês, notou-se a forte presença dos “comprados”, no qual corroborou para a valorização da moeda em toda a sessão.

Gomes destaca que expectativas dos investidores locais para a apresentação do Projeto de Lei Orçamentária (PLOA) para 2021, além dos desdobramentos quanto ao programa Renda Brasil levaram o mercado local para a defensiva.

O dólar também encerrou os negócios em agosto valorizado em 5,02% em meio ao receio doméstico com a política fiscal. “Foi um mês de intensa volatilidade, interferência política, incertezas fiscais, ensaios de reabertura da atividade econômica e o elemento eleitoral, tudo isso em nível local e global”, avalia o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira.

Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, os desdobramentos sobre o PLOA deverão precificar os ativos amanhã, caso tenha o detalhamento das propostas do governo para programas sociais, além de uma possível definição do valor do auxílio emergencial, no qual deverá ter o pagamento prorrogado.

“A gente precisa entender a alocação [de recursos] do programa Renda Brasil, o quanto vai faltar de recursos, já que as respostas em relação aos programas do presidente Jair Bolsonaro não estão no documento apresentado ao Congresso hoje à tarde”, diz.

Ela reforça que a agenda de indicadores também deve fazer preço com a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil com expectativa de tombo de 9,5% no segundo trimestre na comparação com o resultado dos primeiros três meses do ano.

Na agenda, tem ainda a repercussão do índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) sobre a atividade industrial da China e da Europa, em agosto. Além de números da atividade industrial dos Estados Unidos.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em alta, na esteira dos ganhos firmes do dólar. O movimento de recolocação de prêmios reflete uma correção dos exageros na última sexta-feira, quando houve intensa retirada na curva a termo e forte desvalorização da moeda norte-americana, com os investidores aguardando novidades sobre a questão fiscal no país, neste dia de entrega da proposta do Orçamento de 2021, antes de uma agenda econômica carregada.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 2,84%, de 2,82% no ajuste anterior, ao final da semana passada; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,04%, de 4,01% após o ajuste na última sexta-feira; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 5,88%, de 5,82%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 6,84%, de 6,78%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano terminaram o dia sem uma direção comum, mas conseguiram consolidar mais um mês de ganhos robustos, com o Dow Jones e o S&P 500 registrando a melhor performance para agosto desde a década de 1980.

O Dow Jones encerrou em queda no dia em que três novos integrantes passaram a fazer parte do índice. Salesforce, Amgen e Honeywell foram incluídas no Dow Jones, substituindo Exxon Mobil, Pfizer e Raytheon Technologies. A mudança se deve ao desdobramento de ações da Apple, que deve enfraquecer seu peso no índice.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -0,78%, 28.430,05 pontos

Nasdaq Composto: +0,68%, 11.775,45 pontos

S&P 500: -0,21%, 3.500,31 pontos