São Paulo – O Itaú BBA avalia que o acordo vinculante anunciado ontem (31/5) à noite pela Vale com a BHP, Samarco e outros credores financeiros não se traduz em aumento de provisões para a Vale, ao contrário do entendimento de alguns investidores, e que o negócio pode ser visto como ligeiramente positivo, pois reduz a probabilidade de a Samarco declarar falência definitiva em algum momento e de aumentar provisões que teriam que ser pagas pela mineradora.
A Vale divulgou fato relevante ontem à noite afirmando que celebrou um acordo vinculante com a BHP, Samarco e outros credores financeiros que detêm: i) mais de 50% dos créditos das notas da Samarco; e ii) créditos bancários a descoberto, estabelecendo os parâmetros da reestruturação da dívida da Samarco.
O negócio deverá ser concretizado por meio de um plano de reestruturação consensual e ainda está sujeito à aprovação dos credores e homologação pelo juízo da Recuperação Judicial (RJ). A Samarco entrou com pedido de recuperação judicial em abril de 2021.
Segundo os analistas liderados por Daniel Sasson, como esperado pelo mercado, o acordo prevê que contribuições futuras para a Fundação Renova serão divididas igualmente entre Vale e BHP.
Nos termos acordados, a Samarco deve sair da RJ com uma estrutura de capital enxuta. Os pagamentos aos credores financeiros serão feitos ao longo do tempo, em linha com o ramp-up operacional e geração de caixa da Samarco. A contribuição da Samarco para o fundo de reparação (Fundação Renova) será limitada de 2024 a 2030 a US$ 1 bilhão. Isso significa que eventuais contribuições adicionais à Fundação Renova só poderão ser feitas após o pagamento integral dos credores financeiros. O saldo remanescente da reparação continuará sendo dividido igualmente entre a Vale e a BHP.
O Itaú BBA aponta que o negócio não está ligado a uma possível renegociação do acordo de indenização aos danos causados pelo rompimento da barragem em Mariana, que acreditam poder resultar em provisões adicionais de US$ 3,5-4,0 bilhões para a Vale.
“Atualmente, a Samarco produz aproximadamente 8 milhões de toneladas de pelotas por ano. O plano de reestruturação prevê o arranque de um segundo concentrador até 2025, o que conduziria a um aumento da produção para 16 mt, e de um terceiro concentrador até 2029, aumentando ainda mais a produção para 24 mt. De acordo com o novo plano, cada concentrador terá início um ano antes do previsto no plano anterior”, diz a análise do Itaú BBA.
O Itaú BBA tem recomendação de compra para Vale, com preço-alvo em US$ 18 para os recibos de ação (ADRs) negociados na Bolsa de Nova York (Nyse), potencial de alta de 42% sobre o fechamento de ontem.