O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi entrevistado pelos jornalistas Leonardo Sakamoto e Carla Araújo, do portal UOL, hoje mais cedo, e disse que o governo não gasta mais do que arrecada, mas que está analisando os gastos sociais para ver se há alguma irregularidade.
“O Brasil não gasta mais do que arrecada. Gastamos 76% do PIB, aquém de muitos países. Estamos revendo alguns gastos exagerados e benefícios sociais irregulares, mas vamos fazer essa análise sem levar em conta o nervosismo do mercado”.
Ele reforçou que vai continuar investindo em educação e saúde, e que a revisão dos gastos não é para ver o que vai ser cortado, “mas o que precisa ser cortado”. Lula citou as renúncias fiscais que o governo dá a determinados setores produtivos.
“Como se pode falar em cortar gastos se abrimos mão de arrecadação para favorecer o lucro do empresário? Temos que ter uma nova política tributária para resolver o problema da arrecadação. Não se pode gastar mais do que arrecada, isso vale para todo mundo que tem responsabilidade”.
Ele assegurou que o salário mínimo não será afetado pela desvinculação de receita. “O crescimento do PIB é exatamente para distribuir entre os brasileiros. Se o PIB não crescer, não tem como distribuir. Não vou resolver o problema da economia apertando o salário mínimo”.
Lula reforçou que a inflação está em queda no Brasil e, por conta disso, questionou os juros do Banco Central (BC) a 10,5%. “Tem necessidade de se manter taxa a 10,5% com a inflação a 4%? Eu continuo criticando a alta taxa de juros, mas acho que o presidente não deveria ficar criticando”.
Para o presidente, quem deveria fazer essa crítica é o setor produtivo. “Acho que é o setor produtivo que tinha que criticar a taxa de juros, e não ficar criticando o governo”. Por outro lado, ele respeita este setor e afirmou que “não quero que o empresário tenha prejuízo, quero que ele tenha lucro”.
Lula falou que confia no diretor de política monetária do BC, Gabriel Galípolo, mas não falou sobre a sucessão na presidência do banco central, “eu não indico presidente para o mercado, e sim para o Brasil. Mercado sempre precifica para que nada dê certo, mas a economia está crescendo”. Ele também falou sobre a autonomia da autarquia. “Não preciso de lei para dar autonomia ao BC, mas sim respeitar a autonomia do banco”.
Outro assunto abordado foi a relação do Executivo com o Congresso. “A aliança com outros partidos me permite governar o país, não do jeito que eu queria. Até agora não perdemos nada de vital para o governo no Congresso”.
A respeito do pedido de indiciamento do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, ele disse que, caso o pedido seja aceito, ele será afastado do governo. “Acho que deveria ser o próprio ministro que deveria pedir afastamento. Quando houver fatos concretos sobre Juscelino, vou me reunir com o União Brasil [partido de Juscelino] para saber se eles querem continuar no governo”.
Sobre os indiciamentos pendentes do ex-presidente Jair Bolsonaro, Lula disse que quer que ele tenha a presunção de inocência. Falando sobre o relacionamento com outros partidos, Lula emendou dizendo que sua marca é o restabelecimento da democracia, mas que as eleições municipais não podem interferir no governo federal. “Não posso atrapalhar a governança nacional por conta das eleições municipais”.
Seu relacionamento com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é “saudável”. Para Lula, Haddad é uma pessoa muito importante para o Brasil e “que ele tem 100% da minha confiança. Claro que temos divergências, mas isso é normal”.
Ao ser perguntado sobre o que o país fará a respeito dos condenados pelo atentado aos Três Poderes em 8 de janeiro que fugiram para a Argentina, Lula não chegou a responder a pergunta diretamente, mas falou sobre o presidente argentino. “Primeiro, o presidente da Argentina deve pedir desculpas ao Brasil e a mim, pelas bobagens que disse. Se ele governar o país já está bom, não deve tentar governar o mundo”.
Por fim, ao falar sobre o governo anterior, ele disse que, ao assumir como presidente, pegou ministérios desarranjados. “Tivemos que reconstruir. Quando voltamos ao governo, o Brasil parecia a faixa de Gaza”.