‘Vamos definir o melhor preço para a empresa e para seus clientes’, diz presidente da Petrobras

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São Paulo – Em sua primeira entrevista à imprensa na apresentação de resultados trimestrais da companhia, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse que o Brasil tem potencial energético enorme e que a nova gestão planeja um futuro promissor, que inclui os investimentos em exploração de petróleo na margem equatorial e em transição energética.

“Vamos começar a olhar para a eólica offshore na costa brasileira. A companhia está comprometida com o atual potencial de exploração e novas oportunidades. Buscaremos parceria com os maiores players de energia global. É imperioso intensificar a descarbonização das operações, mas a cadeia de óleo e gás ainda precisará suportar crescimento da companhia. As energias fósseis ainda vão conviver com renováveis”, disse Prates, na abertura da entrevista.

“A Petrobras será protagonista na economia de baixo carbono e começa uma nova etapa. Sabemos que enfrentaremos resistência. Apresentaremos um planejamento estratégico para hoje e amanhã”, disse, em discurso antes da abertura da entrevista.

O executivo reiterou o investimentos da Petrobras na margem equatorial e outras bacias exploratórias e disse que o pré-sal responde pela maior parte da produção da empresa “e gera resultados como os de hoje.”

O executivo ressaltou o papel social da empresa. “Vamos promover a transição energética que não deixa ninguém pra trás. Os investimentos da companhia não podem concentrar renda. Vamos encontrar passo ideal com acionistas e sociedade. Agiremos sempre com responsabilidade e transparência.”

Em relação à política de preços adotada atualmente pela companhia, a política de paridade internacional (PPI), Prates buscou diferenciar o conceito de paridade de preço internacional de paridade de importação. “O PPI virou dogma, é uma abstração, o mundo comercial é feito por preços diferentes. O PPI é paridade internacional, não é paridade de importação. É como se na porta da Reduc eu tivesse que praticar o preço praticado em Roterdã. A diferença do governo atual para o anterior é que vamos nos defender.”

Prates disse que a Petrobras vai praticar o preço “do mercado em que ela estiver atuando” e que buscará oferecer o melhor preço para o mercado. “Deixar entrar concorrentes e aplicar preço abstrato, isso não será feito. Todo mundo segue a paridade internacional. Mas no mercado local, há outros critérios. Vamos definir o melhor preço para a empresa e para seus clientes.”

Para o executivo, o PPI atende os importadores. “Se a Petrobras é mais competitiva em um determinado mercado, por que eu sou obrigada a praticar esse preço? Se eu posso disputar mercado, por que eu vou praticar o preço definido pelo competidor, pelo meu concorrente? O governo anterior é que era intervencionista.”

O objetivo é vender o produto pelo melhor preço para o mercado em que ela estiver. “Se o cliente não quiser comprar da Petrobras, não há o que fazer. Isso é mercado! O mercado é feito por vários agentes. Não sei como fomos hipnotizados por isso, o PPI é defendido por pessoas que defendem o mercado, a livre concorrência, não faz sentido.”

Prates disse que a Petrobras não é monopolista e que é o governo que irá definir se a companhia será responsável pelo abastecimento do mercado. “Hoje eu não trabalho com esse cenário por que ele não existe. A Petrobras não é obrigada a suprir mercados, ela tem a maleabilidade de dosar como ela abastece o mercado.”

O presidente da Petrobras explicou que o governo atual não gosta do PPI, pois não acha adequado como preço nacional para um país que autossuficiente em petróleo. “O PPI estará em vigor para o importador com quem estiver importando. Agora, para quem eu posso oferecer uma condição melhor, por que eu não vou oferecer? A importação é importante para o país, não para a Petrobras.”

Sobre a proposta de “abrasileirar os preços dos combustíveis” defendida por Lula na campanha presidencial, Prates disse que ele quis dizer que isso significa oferecer um preço de mercado nacional, já que os produtos são fabricados no mercado local. “Isso não significa que os preços vão se descolar totalmente do mercado internacional, mas não quer dizer paridade de importação, o que vem sendo feito é paridade internacional.”

Em relação à distribuição de dividendos, Prates disse que a Petrobras vai cumprir a regra de distribuir dividendos de 60% do fluxo de caixa livre trimestral. “Ficou acordado que vamos cumprir a regra que está prevista no plano estratégico. Mas o ideal é que a distribuição de dividendos seja flexível, às vezes tem intempéries, como a pandemia. A companhia tem condições de definir e fazer esses ajustes com os acionistas.”

O presidente da Petrobras disse que o governo pediu a paralisação dos processos de desinvestimento de ativos da companhia em andamento para análise sob a ótica da nova gestão. “Em Manaus, disseram que iam reduzir o preço. As refinadoras da Petrobras atuavam de forma cooperativa. Ninguém bota uma refinaria do lado da outra para disputar mercado. Não é um monopólio, mas elas tendem a atuar de forma hegemônica. Lá em Manaus e na Bahia, o que está acontecendo é um ajuste, para que as refinarias façam face aos mercados que elas atendem e não estão dando conta. Em Manaus, o terminal de chegada do produto e refino ficou nas mãos de um mesmo grupo, mas não cabe a mim julgar se há concentração.”

Prates questionou os jornalistas se todas as empresas listadas na Bolsa têm políticas de distribuição de dividendos definidas e inflexíveis. “Para cumprir a regra, não ficamos com dinheiro para investir. Podemos propor aos acionistas o que eles preferem, investir ou receber dividendos”, comentou sobre a proposta de reter R$ 6,5 bilhões, ou 27% dos R$ 35,8 bilhões em dividendos anunciados ontem à noite, em razão do valor ultrapassar o previsto na fórmula da sua Política de Remuneração. Em todo o ano passado, a companhia totaliza R$ 215,8 bilhões em proventos aos acionistas.

“Decidimos pagar R$ 29,3 bilhões, no ano ficou em R$ 216 bilhões, o que representa 105% do fluxo de caixa livre da empresa. A regra era 60%, era trimestral e cada trimestre foi diferente. O que foi definido [pelo governo] era cumprir a regra. Existe uma regra para mudar a regra”, comentou sobre a discussão sobre o pagamento de dividendos anunciado na noite de ontem (01/03).

Prates disse que não será possível dar “só boas notícias” sobre uma empresa que atua no setor que a Petrobras atua e que espera mostrar para os acionistas ser sócio do governo é uma vantagem. “Vamos comandar a empresa com o acionista majoritário [União] e queremos mostrar que isso é uma vantagem. O investidor pode apostar em startup de garagem, sem desmerecer as startups”, comentou, sobre a interferência do governo na empresa.

“Vamos tentar encontrar um consenso entre o governo e os acionistas, esse é o grande desafio de um CEO de estatal. Empresa estatal não é igual empresa privada, tudo tem ônus e bônus. A Petrobras é uma estatal. Ser sócio do estado brasileiro tem que ser um bônus, as pessoas tem que voltar a acreditar que isso é uma vantagem.”

Em resposta a contribuição da Petrobras para a arrecadação governamental, Prates disse que a companhia poderia ter alcançado melhores resultados para o país com a mudança de sua política de preços e de venda de ativos.

“Não estou tirando o mérito do resultado e da gestão anterior, mas vamos avaliar a que custo esse resultado foi alcançado, se ocorreram reduções de custos desproporcionais e abusos em relação à força de trabalho que eu desconheço e poderemos falar sobre isso nos próximos meses.”

IMPOSTO DE EXPORTAÇÃO DE ÓLEO CRU

Sobre a taxação anunciada pelo governo – para fechar as contas no aumento da gasolina, ontem, o governo federal anunciou um novo imposto de 9,2% na exportação de petróleo cru-, Prates disse que o como CEO da estatal, ele tem o direito de conversar com o presidente da república na hora que ele quiser e vice-versa, e que isso não é uma vergonha para a empresa. “A presidência global da Petrobras vai falar com os CEOs das empresas globais, não há nada de errado nisso. O governo é acionista da empresa, podemos nos falar a qualquer momento.”

Nesse sentido, Prates disse que o governo precisava definir a reoneração dos combustíveis e que a melhor hora para fazer isso estava sendo discutida.

“O imposto apareceu como uma solução para recompor a arrecadação, não tenho juízo de valor a fazer sobre isso, a obrigação da Petrobras é se adaptar ao processo. Não há nada feio em relação ao governo me consultar em relação a isso.”