São Paulo – Em discurso na Cúpula da Amazônia, em Belém (PA),o presidente Luís Inácio Lula da Silva procurou exaltar o papel de sua gestão no diálogo com outros países e a formação do grupo de países da América do Sul em prol de ações em prol da Amazônia.
“No governo passado, o Brasil tornou-se pária entre as nações e os que mais sofreram foram indígenas e povos tradicionais. Houve demonstração de desprezo pelo meio ambiente. Mas, felizmente, pela decisão soberana do povo brasileiro, conseguimos virar essa triste página da nossa história e reconstruir canais de diálogo”, disse Lula, que discursou na Cúpula da Amazônia durante o encontro com presidentes e representantes de países que também têm floresta tropicais. O evento é realizado nesta terça e quarta-feiras (8 e 9/8) na capital paraense.
O presidente também ressaltou a importância da Amazônia para o meio ambiente global e o papel dos países ricos para financiar seu desenvolvimento e o combate ao desmatamento.
“A Amazônia sul americana é a maior floresta tropical do mundo, sua área é maior que a da União Europeia. Seu solo armazena 200 bilhões de toneladas de carbono. Mas a Amazônia não é só natureza, são 400 povos indígenas que falam mais de 300 idiomas.”
Lula disse que é preciso reconhecer a carência socioeconômica da região e que seu governo está empenhado para reverter esse quadro, afirmando que os alertas de desmatamento tiveram redução de 42,5%. “A Amazônia é rica em recursos hídricos mas falta água para o povo beber. Milhões de pessoas ainda passam fome na região.”
“É preciso valorizar o papel dos prefeitos, governadores e parlamentares da região. Queremos uma Amazônia com serviços públicos ao alcance de todos.”
O presidente anunciou um novo plano de segurança para a região, que vai criar 34 novas bases com forças federais e estaduais e um sistema integrado de tráfego aéreo. Na parte econômica, o governo vai apostar na bioeconomia e em energias renováveis.
“O Brasil vai liderar a produção de energia por fontes limpas, vamos fomentar a restauração de áreas degradadas e agricultura familiar”, disse.
Lula ressaltou a integração com os países da região. “Queremos que os benefícios sejam compartilhados com nossos vizinhos. O acordo entre 8 países permitiu criar a OTCA [Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, constituída por oito países, Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela]. Vamos manter o tema da Amazônia no mais alto nível político.”
O presidente também citou a criação de um painel técnico científico governamental com cientistas que irá fundamentar decisões com outros painéis internacionais e valorizar os conhecimentos da região. “Esse fortalecimento institucional será fundamental para a ciência. A Amazônia não pode ser tratada como depósito de riquezas, é uma região que tem muitos conhecimentos e pode ajudar na cura de doenças e outras ações.”
Lula considera que a cúpula será um ponto de virada para que a Amazônia seja vista como importante para os países ricos, que devem financiar sua preservação. “O regime de chuvas depende da Amazônia. É hora de olhar para o coração do continente e consolidar nossa identidade amazônica. O Brasil foi colocado no papel de fornecedor de matérias-primas e a transição ecológica justa nos permite mudar esse quadro.”
“A cúpula será um marco histórico de transição dessa perspectiva. Espero que ao terminar esse encontro, a partir de amanhã, regressemos aos nossos países com a certeza de que, ou cuidamos da Amazônia, ou seremos responsáveis pelos prejuízos ambientais de não fazê-lo.”
“Agora é a Amazônia que levanta sua voz para que todos estejam juntos em nome dos países que têm floresta. Para que países ricos possam financiar a sobrevivência da floresta. Esse encontro vai produzir um documento extraordinário, que vai nos permitir trabalhar e ouvir as necessidades da sociedade”, concluiu.