Volátil, mercados sofrem com cautela externa e ruídos políticos

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São Paulo – Depois de passar a sessão quase inteira andando de lado, o Ibovespa fechou em queda de 0,31%, aos 118.023,67, com giro de R$ 31,5 bilhões, mantendo o nível de suporte de 118 mil pontos somente nos ajustes do índice depois do encerramento do pregão. Apesar disso, a bolsa acumulou alta de 2,52% na última semana cheia de 2020, enfileirando a sétima semana seguida de alta.

Sem força para firmar-se acima dos 119 mil pontos e buscar um novo recorde histórico na sessão de hoje, o principal índice do mercado brasileiro de ações passou a cair no fim da tarde acompanhando a piora do ambiente de negócios em Nova York em meio às dificuldades encontradas por democratas e republicanos para anunciarem um acordo sobre um novo pacote de estímulo à economia dos Estados Unidos.

Mais cedo, participantes do mercado ponderavam a possibilidade de o Ibovespa buscar novos recordes históricos ainda na sessão de hoje, mas todos chamando a atenção para a agenda vazia e para a liquidez reduzida.

Paulo Roberto Marques, operador de renda variável do Banco Daycoval, acredita ainda haver espaço para o Ibovespa seguir subindo neste fim de ano e eventualmente mirar novos recordes históricos nas próximas sessões. Segundo ele, porém, isto depende de o índice encontrar espaço para subir em meio a um fluxo reduzido de notícias e à diminuição de liquidez que costuma preceder as festas de fim de ano.

O dólar comercial fechou em leve alta de 0,07% no mercado à vista, cotado a R$ 5,0840 para venda, em sessão volátil e de cautela local, em meio à ruídos políticos, e no exterior ao passo que o mercado aguarda avanços nas negociações entre republicanos e democratas quanto a um novo pacote de estímulo fiscal norte-americano. Na semana, a moeda estrangeira subiu 0,73% e interrompeu a sequência de quatro recuos semanais seguidos.

O analista de câmbio da Correparti, Ricardo Gomes Filho, ressalta que o acirramento das tensões entre Estados Unidos e China, após o governo norte-americano acrescentar mais 60 instituições do país asiático à uma lista de restrições de exportações. “Além dos questionamentos em torno da aprovação do pacote de estímulos nos Estados Unidos, o que deram um contorno negativo à sessão”, comenta.

O analista pondera que, localmente, a valorização do dólar não foi “mais contundente” por reagir ao leilão de venda de dólares com compromisso de recompra, conhecido como leilão de linha, no qual foi tomado todo o montante de US$ 2,0 bilhões, além de mais ingressos de capital estrangeiro no país.

O economista da Guide Investimentos, Alejandro Ortiz, reforça que a pressão na moeda, observada no início do pregão, veio dos ruídos políticos após o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, convocar uma sessão e incluir na pauta a Medida Provisória que trata da extensão do pagamento do auxílio emergencial em resposta à declaração do presidente Jair Bolsonaro, ontem durante uma transmissão online, de que o 13 salário do programa  Bolsa Família não seria pago “por culpa” do parlamentar. “Depois que o Maia retirou a discussão da pauta, o dólar arrefeceu”, diz.

Na próxima semana, encurtada com o feriado de Natal, o destaque na agenda de indicadores fica para a prévia da inflação doméstica (IPCA-15) no qual, para a equipe econômica do Bradesco, deve seguir pressionada pela mudança na bandeira tarifária de energia elétrica e pela antecipação dos reajustes dos preços ligados à educação.

Enquanto lá fora, os dados de novembro de renda e gastos dos Estados Unidos devem confirmar desaceleração provocada pela segunda onda de covid-19 no país, ressaltam os analistas. Ortiz, da Guide, acrescenta que o risco fiscal, pressionado pelo auxílio emergencial, tende a continuar fazendo “um pouco de preço” no mercado local.

“Está uma incógnita o que vai acontecer. O mais provável é que o pagamento [do auxílio emergencial] não seja estendido. Mas os ruídos políticos seguem nas duas últimas semanas do ano. Além disso, deverá haver impacto da contínua entrada de fluxo estrangeiro no país, embora com menor força, e do apoio do BC com essas operações para retirar a pressão da moeda”, avalia o economista.

As taxas dos contratos futuros de juros (DIs) encerraram a sessão sem uma direção única, com contatos mais curtos perto da estabilidade e os mais longos em alta, acompanhando o comportamento do dólar comercial. Sem grandes notícias no dia, os investidores seguem aguardando por novidades sobre as eleições na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, onde os deputados e senadores já articulam sues grupos políticos.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 2,97%, de 2,96% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 4,415%, de 4,39% em relação ao ajuste; o DI para janeiro de 2025 estava em 5,92%, de 5,93%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 6,70%, de 6,73%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano regrediram das máximas para terminaram o dia em queda em meio às persistentes diferenças que impedem os líderes do Congresso de fechar um acordo sobre uma nova rodada de estímulos. Na semana, no entanto, os índices acumularam ganhos graças, basicamente, às notícias positivas sobre vacinas contra a covid-19.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -0,48%, 30.179,05 pontos

Nasdaq Composto: -0,07%, 12.746,64 pontos

S&P 500: -0,35%, 3.709,41 pontos