São Paulo – A Yara Fertilizantes disse ter o desafio de combater a redução da produção de alimentos no mundo e desenvolver soluções de baixo carbono. As declarações foram feitas pelo presidente global da empresa, Svein Tore Holsether, em entrevista a jornalistas nesta segunda-feira, em São Paulo (SP). O executivo citou o impacto da questão geopolítica, por conta da guerra da Ucrânia e Rússia, que resultou numa redução muito rápida da produção de alimentos, e o impacto ambiental.
“É difícil pensar numa atividade mais impactada pela emergência climática que a produção de alimentos”, disse Holsether.
“A partir de 2019, o sistema de produção de alimentos sofreu baixas por conta da pandemia de Covid e a cada 40 segundos uma pessoa morre de fome no mundo, segundo dados da Oxfam”, disse o executivo.
“Por isso, a necessidade de transformar os negócios para um modelo mais ambientalmente responsável é urgente, com a produção de fertilizantes de baixa emissão de carbono”, disse o CEO global da Yara. A empresa lançou recentemente um plano global para promover a descarbonização de sua cadeia produtiva, começando pela Noruega. O executivo não revelou valores, nem prazos para o investimento nesta frente, mas a empresa anunciou a meta global ser neutra para o clima até 2050.
Para isso, a empresa está focando seus esforços e investimentos na descarbonização das cadeias em que está inserida e apoiando uma economia baseada em hidrogênio verde. Este movimento é realizado com base em um portfólio de produtos de menor emissão de carbono, como os nitratos no desenvolvimento dos fertilizantes verdes de baixa emissão; em ferramentas digitais inovadoras e eficientes em termos de recursos, adequadas para qualquer agricultor em todo o mundo; no compartilhamento de seu conhecimento agronômico centenário; e em atuar junto aos agricultores para ajudá-los nesta transição, criando também fluxos de receita verde para o campo.
PARCERIAS
As iniciativas da Yara tem foco em fertilizantes verdes e parcerias com indústrias de alimentos. No Brasil, a planta de Cubatão (SP) produzirá fertilizante verde, e está trabalhando para desenvolver parcerias com a indústria de alimentos para fornecer suas soluções de fertilizantes verdes. Um exemplo é a Cooxupé (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé-MG), que exporta, financia e oferece assistência técnica na área de café. A Yara fechou com a empresa o primeiro acordo para a comercialização do fertilizante verde em larga escala, além de um pacote de soluções nutricionais e transferência de conhecimento em práticas agrícolas, por meio de um memorando de intenções, em novembro de 2022.
O acordo tem como objetivo diminuir a pegada climática envolvida na produção do café e aumentar a produtividade, qualidade e rentabilidade da cultura. O produto a ser entregue para a Cooxupé pode ser oriundo tanto do Complexo Industrial de Cubatão (SP), que trabalhará com o biometano, quanto das plantas de produção e projetos da empresa espalhados pelo mundo, como na Noruega, Holanda e Austrália, que investem em outras modalidades para obtenção do hidrogênio verde, como a hidrólise a partir de energia solar e eólica.
Segundo o diretor de desenvolvimento de mercado da Yara no Brasil, Guilherme Schmitz, a empresa deve chegar a 4 ou 5 parcerias com produtores de commodities nos próximos dois anos.
A empresa também anunciou uma parceria com a Raízen para o uso de biometano na produção de amônia verde e, consequentemente, fertilizantes verdes e soluções industriais verdes no Complexo Industrial de Cubatão (SP) que, ainda em 2023, receberá 20 mil m3 diários de biometano. O insumo entrará no grid da planta, substituindo gradativamente o uso de gás natural e ajudando na descarbonização de todos os segmentos em que a empresa está inserida, reduzindo assim as emissões em no mínimo 80%.
Marcelo Altieri, presidente da Yara Brasil disse que a companhia vai lançar no dia 22 de abril, dia da terra, uma campanha em que assume um compromisso “em prol da mudança para uma forma de cultivo positiva para a terra.
A Yara nasceu criando uma solução para acabar com a grande fome da Europa e agora tem o desafio de criar uma forma de cultivo ambientalmente responsável”, afirmou Altieri.
Ele diz que o Brasil é rico em matrizes energéticas limpas e em técnicas de fazer uma agricultura de baixo carbono e pode ser uma potência ambiental em soluções de baixo carbono. “O Brasil tem um grande mercado de fertilizantes, que cresce o dobro do mundo e tem uma grande oportunidade de ampliar o fornecimento. O Brasil tem uma forma de produzir e as matérias-primas certas para uma produção mais amigável ao meio ambiente”, disse o presidente da Yara Brasil. Ele também disse que os preços dos fertilizantes estão mais baixos do que antes da pandemia.
EXPANSÃO DA PRODUÇÃO
A companhia disse que sua produção no Brasil em 2023 aumentará em 600 mil toneladas após investimentos realizados em três plantas em 2022. A empresa lançou recentemente um plano de expansão da capacidade da produção de sua planta no Rio Grande (RS) e citou também aportes em Sumaré e Cubatão (SP) em 2022 e disse estar otimista com plano nacional de fertilizantes lançado pelo governo brasileiro no ano passado.
A empresa deve investir R$ 150 milhões em 2023 em melhorias operacionais para atingir a capacidade total em seu complexo de Rio Grande, chegando a 1,1 milhão de toneladas/ano em produção local e 2,2 milhões em ensacados. A empresa já realizou R$ 2 bilhões de investimentos nesta unidade e R$ 15 bilhões nos últimos dez anos no país.
O executivo disse que a planta de Sumaré (SP) recebeu R$ 130 milhões e tem 50% de sua capacidade ociosa e que pode ser usada pela companhia para aumentar a produção.